Joaquim Cunha, diretor executivo do Health Cluster Portugal, aumentou o investimento de 89 para 92 milhões na reprogramação das agendas mobilizadoras. Não antecipa que venha a precisar de mais verbas.
“A saúde, tal como hoje a conhecemos, morreu. Ou se não morreu, está moribunda”. Quem o diz é Joaquim Cunha, diretor executivo do Health Cluster Portugal, a organização co-líder, juntamente com a Prologica, de uma das agendas mobilizadoras – a Health from Portugal. “A saúde concebida no pós-Segunda Guerra Mundial, estruturada no hospital e orientada para a doença aguda foi muito importante. Funcionou. Mas os problemas que hoje nos afetam são, sobretudo, doenças crónicas. E, porventura, o melhor sítio onde essas maleitas têm de ser tratadas é em casa ou no trabalho. Isso vai ser possível, ou está a ser possível, porque a tecnologia nos permite”, explicou o responsável.
Mobilizar a cadeia de valor da saúde para a Smart Health é o grande objetivo da agenda Health from Portugal que no exercício de reprogramação aumentou para 107 os produtos e serviços (PPS) que pretende produzir e aumentou o investimento de 89 para 92 milhões, revelou o responsável no ECO dos Fundos, o podcast quinzenal do ECO sobre fundos europeus. Joaquim Cunha revelou que um PPS já está executado a 100% e há um número muito considerável (71) de PPS que já têm uma execução física superior a 75%. No final do primeiro semestre, a execução financeira já tinha superado os 60%.
Estes PPS vão ser apresentados ao público em três ambientes simulados imersivos: cuidados domiciliários, centro cirúrgico e laboratório clínico, consultório médico e quarto hospitalar, na Innovating Healthcare Together (IHTC), uma conferência sobre tecnologia e inovação em saúde, agendada para 28 e 29 de outubro no Super Bock Arena, no Porto.
Confiante de que será possível executar a totalidade da agenda do PRR dentro do prazo, o diretor executivo do Health Cluster Portugal excluiu a necessidade de pedir um reforço no âmbito da mais recente reprogramação da bazuca europeia.
Joaquim Cunha considera que o modelo das agendas mobilizadoras que põe empresas e universidade de braço dado ainda não está a ser bem-sucedido. “Está a dar passos. Era necessário um salto, um abanão. Esta mudança não ia lá com projetinhos”, frisou.
O que se propõe fazer esta agenda mobilizadora?
Pretende mobilizar aquilo a que normalmente se chama a cadeia de valor da saúde para um tema muito amplo que chamaria Smart Health. No fundo, atualmente temos um conjunto de desafios na saúde que, no meu entender, corresponde a uma equação impossível: queremos viver mais, melhor, mas os recursos provavelmente não vão poder aumentar muito mais. E não sei se não vão ter de diminuir. Como é que esta equação se torna possível? Introduzindo, de forma intensa, tecnologia. Precisamos de ter tecnologia na saúde. Tirando talvez a área da indústria farmacêutica, nas outras áreas da saúde, a tecnologia chega sempre mais tarde. Tem a ver com a natureza da saúde, onde tudo é regulado, verificado, certificado.
E provavelmente até existe alguma resistência das pessoas à inovação?
Exatamente. Costumo dar o exemplo de que se na área financeira estivéssemos como estamos na saúde ainda, usávamos cheques e à sexta-feira íamos levantar dinheiro ao banco para o fim de semana. Estamos atrasados. Precisamos de trazer doses muito intensas de tecnologia para a saúde, para conseguir, com os mesmos recursos, ir muito mais longe.
E é isso que a agenda se propõe?
E é isso que a agenda se propõe, tirando partido da chamada cadeia de valor nacional de saúde — os agentes das universidades, dos institutos de investigação, as empresas e, naturalmente, os hospitais – mas muito virado para o cidadão. Há aquele jargão do ‘cidadão no centro’, que ouço desde que me conheço, mas que não tem acontecido. E é importante que aconteça. A tecnologia vai permiti-lo. Todo o manancial que as tecnologias de informação nos põem à disposição, como a telemedicina, vai permitir mover completamente o paradigma da saúde.
Acredito que a saúde, tal como hoje a conhecemos, morreu. Ou se não morreu, está moribunda. A saúde concebida no pós-Segunda Guerra Mundial, estruturada no hospital e orientada para a doença aguda fez o seu papel, foi muito importante e é responsável pelos problemas que temos hoje relativos à longevidade, porque esta saúde funcionou. Passámos a viver muitos mais anos. Mas os problemas que hoje nos afetam são, sobretudo, doenças crónicas. E, porventura, o melhor sítio onde essas maleitas têm de ser tratadas é em casa ou no trabalho. Isso vai ser possível, ou está a ser possível, porque a tecnologia nos permite. Isto é, porventura, o dispositivo médico mais potente que já temos e que vamos ter. A agenda procurou reunir um conjunto muito alargado de iniciativas, algumas delas que estavam na prateleira, porque necessitavam de um complemento, de mais uma competência. Aliás, o Health Cluster começa a desenhar a agenda dessa forma, junto da nossa base associativa.
É consensual que em Portugal e na Europa, temos muito bom conhecimento, mas não somos tão bons a transformar este conhecimento em valor. Do outro lado do Atlântico ou do Oriente são mais eficazes.
É por isso que é tão alargada? A vossa agenda mobilizadora é talvez grande demais?
O Health Cluster, por regra, quando faz qualquer iniciativa, procura saber do eventual interesse de todos os seus associados. Nesta foi a mesma coisa. Tínhamos feito antes um trabalho muito interessante, mera coincidência, que foi tentar definir um roadmap para as indústrias da saúde para esta década, que tornámos público em 2021. Que áreas achávamos que iam crescer, onde era preciso apostar… E desse roadmap sobressaía o tema da valorização do conhecimento. É consensual que em Portugal e na Europa temos muito bom conhecimento, mas não somos tão bons a transformar este conhecimento em valor. O chamado paradoxo europeu, sobretudo quando nos comparamos com os do outro lado do Atlântico ou do Oriente, eles são mais eficazes.
Este modelo de agenda mobilizadora que põe universidades e empresas a falarem…
Procurou responder a isso.
E está a ser bem-sucedido?
Não consigo ser afirmativo. Gostava de dizer: ‘isto é um sucesso, está a resolver os problemas’. Estamos a dar passos. Era necessário um salto, um abanão. Esta mudança não ia lá com projetinhos. Acho que estamos a conseguir fazer isso na agenda. Estas 87 entidades que estão à volta da mesa, têm uma representatividade muito forte na cadeia de valor da saúde.
Sempre foram 87 ou já perderam parceiros pelo caminho?
Acho que perdemos um e ganhámos outro. Assim como recentemente, ao nível dos PPS, os produtos, anulámos um e aumentámos mais sete.
Foi esse o resultado da vossa reprogramação?
Exatamente, em termos de investimento aumentou de cerca de 89 milhões para 92 milhões. De uma forma geral, tem-se mantido estável.

Esses PPS têm de ser cumpridos até junho de 2026. Está confiante que vai ser possível executá-los todos na totalidade?
É difícil numa agenda com esta enormidade de… Estamos a falar de 107 PPS. Não tenho dúvidas sobre isso. Se me disser, vão ser 105, há dois ou três que vão cair, admito que sim. Mas, neste momento, temos um número já muito apreciável de PPS que já passaram os 75% de execução, inclusivamente há um que já atingiu os 100%, mas estão todos… Como imagina, fazemos um acompanhamento muito pormenorizado. Isto porque, no primeiro dia desta iniciativa, o pânico era generalizado. Como é que se vai gerir uma coisa com quase 100 parceiros?
Como é que se consegue acompanhar os 87 parceiros para garantir que toda a gente cumpre as metas e os marcos a que estão propostos?
Diria que num misto de autogestão, uma palavra um bocado maldita em certos ambientes, e controlo. Temos um problema, não sei se é a melhor expressão, é que não mandamos naquelas entidades. Não somos uma holding que dá instruções. Daí que tem de haver aqui um processo…
Diplomacia.
Diplomacia. Então procuramos compatibilizar esta realidade da seguinte forma: há uma equipa coordenadora, temos duas pessoas, uma do Health Cluster, outra da Prológica, que é a empresa líder do projeto, que só trabalham, só pensam, só dormem, só acordam a pensar na gestão deste projeto. Duas pessoas estão a tempo inteiro na gestão do projeto. E depois, em função da estrutura do mesmo, temos comissões que têm responsabilidade sobre tudo. Imputamos grande responsabilidade aos tomadores da tecnologia, porque são aqueles que, no fim, vão ter de levar os resultados ao mercado. Há um conjunto de reuniões periódicas, há resultados que têm de ser apresentados. Resultados que servem para controlo do consórcio e para cumprir as obrigações que temos com a entidade gestora — o IAPMEI. Isto tem funcionado.
Diria que não fará sentido esta agenda requerer mais verbas. Mas pode haver algum ajuste residual.
Disse que já têm um PPS concluído, têm uma quantidade significativa de PPS já com execução a 75%. Estamos a falar de execução física. Como vai a execução financeira?
O número que tenho relativamente ao primeiro semestre deste ano, final de junho, é de que tínhamos passado os 60% em termos da execução reportada. Como sabe, as entidades têm que, periodicamente, junto do IAPMEI, apresentar relatórios financeiros. A soma desses relatórios implicava que tínhamos passado os 60%. A minha leitura é que a realidade implicará que andaremos nos 64, 65, porque a execução vai um pouco à frente, só se reporta passados uns dias. O período de execução será junho de 2026. Estou razoavelmente confortável de que vamos lá chegar. Não sei se vamos executar 100%, se vamos ficar nos 98, nos 97, mas…
Está confiante na evolução?
Não por mera fé, mas porque este processo e esta estrutura que montámos, para cada PPS, para cada projeto, para cada parceiro, há cronogramas que vão sendo executados permanentemente.
Em termos de cronogramas, o ministro da Economia anunciou que está a ser pensada uma nova reprogramação do PRR. Perante dificuldades de execução de alguns projetos, as verbas serão atribuídas a outros já aprovados. A vossa agenda mobilizadora, seria um potencial candidato a receber um reforço de dotação?
Não consigo falar pela totalidade dos parceiros, mas como na recente reprogramação fizemos esta avaliação, diria que não fará sentido esta agenda requerer mais verbas. Mas pode haver algum ajuste residual.
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