Marketing

“As marcas são o subsídio que garante bilhetes mais baratos”, diz Álvaro Covões. Veja o vídeo

Carla Borges Ferreira,

O Nos Alive, as políticas para a cultura, o apoio das marcas – ou a falta dele –, o Parque Tejo e a entrada da Live Nation no mercado são alguns dos temas abordados em entrevista a Álvaro Covões.

Álvaro Covões, diretor da Everything is New, em entrevista ao ECO/+M - 30JUN23

Nos próximos dias 6, 7 e 8 de julho o Passeio Marítimos de Algés vai receber a 15ª edição do Nos Alive. São esperadas cerca de 165 mil pessoas, 25 mil turistas vindos de 90 países, e um impacto direto na economia entre 50 e 60 milhões de euros. Em três dias serão 110 artistas e 123 atuações, repartidas pelos sete palcos do recinto.

Os bilhetes para dias 6 e 7 estão esgotados, assim como os passes de dois e três dias. “Os bilhetes são mais baratos do que no resto da Europa”, “as marcas, os patrocinadores, são o subsídio que garante bilhetes mais baratos“, diz em entrevista ao +M e ECO Álvaro Covões, diretor-geral da Everything Is New, promotora do festival.

O Nos Alive é também um dos pontos altos do contacto das marcas associadas com os seus públicos. As marcas “são também muito importantes para termos podido crescer”, diz Álvaro Covões. O festival começou com três palcos, agora tem sete. “As marcas e os patrocinadores têm ajudado a oferecer mais conteúdos sem aumentar o preço do bilhete ou a lotação do recinto”, explica.

A bilheteira é a principal fonte de receita do festival, com os patrocínios a representarem 20 a 25% da receita total. Os festivais são “uma grande oportunidade para as marcas comunicarem com um target que está inteiramente disponível e que se pretende que se associe muito ao produto que as marcas oferecem”, resume Álvaro Covões.

Este ano o responsável destaca a entrada do Novobanco, que se estreia como patrocinador, ou a EY, patrocinadora desde a edição de 2022, que aproveitou o evento para a reunião anual de quadros. “Foi a primeira vez que um encontro de quadros foi feito num festival, é uma forma disruptiva de lidar com os colaboradores”, refere.

Em sentido contrário a EDP, que deixou o território da música. “Não se consegue compreender como é que uma marca como a EDP deixa a música”, diz. “Sempre que muda a governance, mudam-se as políticas, o que não permite consolidar o crescimento económico“, afirma, referindo-se à EDP mas também à generalidade das empresas.

Álvaro Covões, diretor da Everything is New, em entrevista ao ECO/+M - 30JUN23
Álvaro Covões, diretor da Everything is New, em entrevista ao +M/ECOHugo Amaral/ECO

Com os “hábitos culturais mais baixos da Europa“, o promotor diz que nas políticas cultuais é que pouco muda. Com “uma Lei do Mecenato que é uma vergonha”, nas políticas culturais, e ao longo dos anos “a única diferença é se há ministro ou secretário de Estado”. “Devíamos ter a coragem de começar tudo de novo“, afirma.

A cultura não deve viver de subsídios do Estado, mas sim ser subsidiada em primeiro lugar pelas bilheteiras, porque tem que ter um valor percebido, e em segundo lugar pelas empresas, que deviam ter incentivos. A nossa Lei do Mecenato é uma vergonha, perante a espanhola ou brasileira”, concretiza.

“Aqui existe uma Lei do Mecenato em que o Ministério da Cultura tem que propor os projetos ao Ministério das Finanças e há mais de um ano que o Ministério das Finanças não dá luz verde a projetos de mecenato que venham do setor privado”. “É uma lei de brincar, não faz sentido nenhum. É uma forma de cativação. Se um patrocínio majorar 120, significa que o Estado vai arrecadar menos imposto. O que estão a fazer são cativações na cultura“, acusa.

Membro da Unidade de Missão para a Jornada Mundial da Juventude, Álvaro Covões diz que “é impossível garantir que as pessoas se vão conseguir deslocar em cinco minutos“, mas acredita que “no final tudo vai correr bem”. “É uma grande oportunidade, vai ter um impacto fortíssimo na economia”, defende.

Com a Jornada Mundial da Juventude vai também nascer um potencial novo espaço para eventos. “Um novo espaço verde, que também dá para eventos”, corrige o promotor”. “É bom haver um espaço infra estruturado com água, luz e esgotos. Sempre que se propõe um espaço é uma boa notícia. Temos que ver depois de concluído“, comenta sem avançar possíveis projetos pensados para a área.

Álvaro Covões é também parco em comentários sobre a entrada em Portugal da Live Nation. “Não comento a concorrência ou novos players do mercado”, afirma. A entrada de grandes players é vista como “normal por via da globalização”. Não é novidade, também já entrou a Last Tour que faz o Meo Kalorama e anunciou Taylor Swift para o ano. O Primavera Sound também é feito por uma empresa espanhola“, descreve. “O nosso papel, enquanto empresas portuguesas, é continuar o nosso trabalho e ter uma posição interessante no mercado”, acrescenta.

Sempre que há concorrência, há concorrência, pode ser bom para o consumidor, pode ser mau. A seu tempo veremos, tem que ser avaliado por quem de direito. As coisas devem-se discutir nos sítios certos com as pessoas certas e depois fazem-se os comentários”, adianta, sem confirmar contactos com a Autoridade da Concorrência, organismo do qual se espera parecer sobre a entrada da Live Nation em Portugal.

Num país que “vive de crise em crise”, Álvaro Covões quer mais tempo para as notícias de cultura nos serviços informativos das televisões. “Uma quota de notícias de cultura devia ser mandatório para todos os canais que têm licença de televisão”. A proposta, entregue pela Associação de Promotores de Espetáculos, Festivais e Eventos (Aporfest), está no Governo. “Propomos três minutos por hora. Não é nenhum disparate”, afirma.

A entrevista na íntegra pode ser vista no vídeo.

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