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“O espectador passa a ter três opções. A CMTV, o Now e depois a RTP3, a SIC Notícias e a CNN, que são cada vez mais iguais”

Carla Borges Ferreira, Diogo Simões, Hugo Amaral,

Carlos Rodrigues, diretor-geral editorial da Medialivre e diretor da CMTV e agora também do Now, revela a estratégia e objetivos para o novo canal de informação.

Carlos Rodrigues, Diretor-Geral Editorial da MediaLivre, em entrevista ao ECO/+M - 08MAI24

“Nós não teremos os tudólogos a falar. De alguma forma, vamos tentar abrandar os ritmos mais emocionais e emotivos da política. Hoje em dia, o desafio de um canal de informação é contribuir para o esclarecimento do espectador, para que o espectador possa ter uma informação diferenciada e que não seja meramente uma futebolização do debate, quer sobre a política, quer sobre as grandes questões da sociedade. Esse também vai ser um dos efeitos do Now. Nós vamos, no fundo, procurar fazer serviço público através dessa alteração dos ritmos de informação”.

É assim que Carlos Rodrigues, diretor-geral editorial da Medialivre e diretor da CMTV e agora também do Now, apresenta o canal de informação que o grupo se prepara para lançar, se possível ainda no primeiro semestre, mas sempre depois das eleições europeias.

Trazer de volta à televisão os “abstencionistas”, os públicos que se divorciaram dos canais clássicos, e atrair anunciantes que não cabiam na CMTV são os objetivos do canal que tem como máxima “Informação exata à hora certa” e vai ocupar a posição nove das grelhas do Meo, da Nos e da Vodafone.

Quais são os principais motivos para um espectador da CNN ou da SIC Notícias passar para o Now?

Vamos ter um projeto diferenciado, vamos ter protagonistas em antena e vamos ter notícias. São essas as três razões principais para acompanhar a emissão do Now.

E os outros canais não têm?

A nossa posição é diferenciada e cremos que é diferente dos nossos concorrentes. Vamos basear a nossa proposta muito em notícias, vamos banir a designação de comentário, e comentador, da nossa antena.

Têm ‘protagonistas’ e ‘analistas’.

Protagonistas, analistas e analistas especializados. No fundo, vamos procurar que sobre cada tema, fale exatamente quem tem algum conteúdo a acrescentar à matéria em causa. Essa é a nossa proposta diferenciadora e estamos em crer, pelas reações que temos suscitado desde que enunciamos este princípio, que é uma opção acertada.

Apresentaram nomes como o ex-primeiro ministro, António Costa, Rui Rio, Pedro Santana Lopes, João Cotrim Figueiredo…

A bastonária da Ordem dos Advogados, a dra. Graça Freitas…

Luís Paixão Martins, que era comentador na CNN.

Acho que já não estava, mas está connosco, sim.

Que espaço é que estes protagonistas, ou analistas, vão ocupar em grelha?

Temos uma grelha muito baseada na oferta informativa. A partir das 7h00 temos noticiários, aumentando o ritmo da notícia. Em cada 15 minutos vamos fazer as sínteses noticiosas. O horário nobre será muito baseado na proposta diferenciada dos protagonistas. Cada um desses protagonistas, além de ter uma presença no canal, aceitou também fazer parte daquilo que eu chamo um ‘conselho de senadores’, para, ciclicamente, aconselharem o diretor sobre a melhor forma de prosseguir o projeto.

Vamos procurar ter uma oferta que mantenha as pessoas dentro do sistema televisivo clássico, em vez de mudarem para as plataformas.

O horário nobre será o período no qual os protagonistas vão ter palco. No fundo, o que vamos tentar é também trabalhar muito para o chamado ‘Not Set’, que são as pessoas que não costumam frequentar os canais tradicionais portugueses. É precisamente a essa hora, em que as pessoas, os espetadores normais como nós, depois de jantar, de vermos os principais noticiários e algum programa que cada um de nós goste, mudamos para as plataformas ou para outro tipo de oferta. Vamos procurar ter uma oferta que mantenha as pessoas dentro do sistema televisivo clássico, em vez de mudarem para as plataformas.

Não tanto ‘roubar’ o telespectador aos outros canais, mas tentar captar novos telespectadores?

Sim. Trazer os abstencionistas de volta ao sistema, que é um conceito que me parece importante neste contexto. Depois, temos outras características que nos diferenciam, mas que são acessórias ou subsidiárias deste nosso ADN principal. Por exemplo, vamos ter conteúdos da Sábado, do Negócios e da Máxima. São três conteúdos absolutamente diferenciados em três áreas onde, ao nível da imprensa escrita e digital, já lideramos. O Now será o canal de televisão do Negócios, será o canal de televisão da Sábado e será o canal televisão da Máxima. Esses conteúdos diferenciados também fazem parte da proposta diferenciadora de canal.

Como é que esses três títulos vão estar em antena?

Vão estar permanentemente. Há um Jornal de Negócios diário na antena do Now, a hora ainda não posso revelar. Mas, na verdade, a informação do Negócios, mais do que um programa diário, estará permanentemente em antena. Da mesma forma, todos os formatos televisivos que a Sábado já tem vão ser transferidos para o Now. E quando digo todos os formatos, falo desde logo do programa de investigação jornalística semanal, do GPS, que é com sugestões de lazer, e do Sábado Viajante, que é um programa de viagens. São três dos atuais formatos, mas tenho a certeza que a equipa da Sábado também conseguirá propor outros formatos daqui para a frente.

O Now será o canal de televisão do Negócios, será o canal de televisão da Sábado e será o canal televisão da Máxima.

E a Máxima?

Procuramos uma linha de documentários, atinentes ao lifestyle e aos produtos de luxo, que possa fazer sentido na grelha Now, debaixo da égide da Máxima. A Máxima será também uma espécie de chapéu de chuva para todos esses conteúdos, que estarão espraiados ao longo da antena.

Estamos a falar de magazines patrocinados?

Estamos a falar de todo o tipo de conteúdo e de um jornalismo social de qualidade. Basicamente é isso. Mas temos outros traços diferenciadores na nossa proposta. Por exemplo, a nossa equipa comercial fala-me muito que o nosso portfólio de produtos, que atualmente contém a CMTV, pode muito ser beneficiado ao nível da oferta com o surgimento do Now.

O alargamento da nossa oferta ao Now vai abrir seguramente espaço a novos anunciantes e vamos ter novas oportunidades de negócio. Algumas marcas de automóveis, desde logo topo de gama, produtos de luxo, banca, seguro, por exemplo. Ficamos com um portfólio mais alargado e, no fundo procuramos, ao mesmo tempo que alargamos a oferta jornalística do país, também alargar o nosso portfólio de produtos e a nossa comunicação com as empresas de publicidade, com os anunciantes, que são também nossos parceiros.

Foi assim que surgiu a ideia de lançar o canal? Precisavam de palco para outros anunciantes?

Temos a CMTV, que tem uma posição muito sólida e estamos muito satisfeitos com o resultado da CMTV hoje em dia, mas sentimos a determinado ponto a necessidade de criar…

…espaço para outro tipo de anunciantes?

Sim. Primeiro, outro tipo de públicos, consequentemente, outro tipo de temática e de abordagem da realidade e, finalmente, também outro tipo de posicionamento no mercado.

Descreva-nos um dia de Now.

Um dia de Now é um dia de informação. Teremos qualquer coisa como 17 horas de informação em direto e uma grelha variada, entre noticiários de hora a hora, outra proposta diferenciadora do nosso canal. Nós seremos o canal que vai recuperar a ideia da hora certa, porque nas televisões não há hora certa praticamente para nada.

Carlos Rodrigues, Diretor-Geral Editorial da MediaLivre, em entrevista ao ECO/+M - 08MAI24
Carlos Rodrigues, diretor-geral Editorial da Medialivre, em entrevista ao +M/ECOHugo Amaral/ECO

Há sempre blocos à hora certa.

Normalmente, a hora certa começa aos 53, 55 ou 57 minutos. Nós seremos o canal das horas certas, seremos o canal da informação exata, à hora certa. Depois teremos os grandes noticiários da hora de almoço e da hora de jantar.

O grande noticiário da hora de jantar é às 20h? Às 21h?

Às 20h00.

Concorrendo também com generalistas. Com que duração?

Terá duas horas.

Os protagonistas estão inseridos nesse espaço?

Não. Os protagonistas principais terão, todos eles, um formato transversal às 22h00, a seguir ao jornal das oito. O jornal tem também um bloco político com painéis de frente a frente que iremos organizar, sempre no princípio de não termos medo das polémicas nem do confronto de ideias.

Afirmou que o novo canal não vai ser “uma televisão cinzenta ou domesticada, mas antes o contrário disso”. O que é que quer dizer?

A opção que fizemos, por comunicar inicialmente o surgimento do Now pelo nome dos protagonistas que aceitaram fazer este trajeto connosco, podia criar a ideia que estávamos a criar uma estação institucional ou institucionalizada. Não vamos ser isso. Temos este conjunto de personalidades, mas todas elas aceitaram um conjunto de ideias que lhes lançámos, ou que depois foram desenvolvidas pelos próprios, e que vão marcar também pela irreverência e pela imaginação.

O alargamento da nossa oferta ao Now vai abrir seguramente espaço a novos anunciantes e vamos ter novas oportunidades de negócio.

Os espaços dos protagonistas?

Sim. Cada um terá um programa de autor, digamos assim, um programa desenvolvido especificamente para essa personalidade. E, portanto, quis contrariar a ideia de que nós, através da presença de protagonistas, estávamos a criar um canal institucional. Não é.

Como é que vai ser o programa de António Costa?

Já está a gravar, ao que sei está entusiasmadíssimo, está no terreno, e vai ser o acontecimento quando o programa estrear. Nesta primeira fase, vamos levar António Costa aos locais das temáticas selecionadas por ele próprio para o programa, que se chama Otimista. O nome não é nosso, é do próprio, mas que nos pareceu muito indicado, atendendo à personagem pública.

Característica que lhe é atribuída por Marcelo Rebelo de Sousa.

Exatamente.

Em novembro de 2021, dizia que o grande desafio dos canais de cabo internacionais é ocupar os tempos mortos quando não há notícias. Como é que vão gerir esses tempos mortos?

Vamos gerir com muita determinação e muita imaginação. Essa entrevista, salvo erro, foi dada há três anos. Na verdade, o mundo mudou e Portugal, em particular, mudou muito nos últimos três anos. Há cada vez menos tempos mortos na atualidade informativa. Essa aceleração, aliás, é outro dos princípios que deu origem à ideia do Now. Queremos contrariar essa aceleração que, no nosso entendimento, tem sido nociva para o ritmo do comentário político, que nós não queremos trazer para este canal.

Nós não teremos os tudólogos a falar. De alguma forma, vamos tentar abrandar os ritmos mais emocionais e emotivos da política. O desafio do Now é o oposto disso que há três anos eu diagnosticava. Hoje em dia, o desafio dum canal de informação é contribuir para o esclarecimento do espectador, para que o espectador possa ter uma informação diferenciada e que não seja meramente uma futebolização do debate, quer sobre a política, quer sobre as grandes questões da sociedade. Esse também vai ser um dos efeitos do Now. Nós vamos, no fundo, procurar fazer serviço público através dessa alteração dos ritmos de informação.

E vão conseguir resistir à tentação do imediatismo?

Sim, claro. No fundo, o que é que acontece nos canais de cabo? A proliferação de vozes, nem sempre com autoridade, ou seja, com o conhecimento sobre as coisas de que fala, que surge amiúde nos canais de informação, advém muitas vezes, ao contrário do que se possa pensar, dos orçamentos baixos, mas também da falta da capacidade de recriação e de imaginação em relação a novas ideias.

Penso que se olharmos para uma grelha de um padrão de códigos de informação diários de um cidadão normal português, ele é suficientemente vasto para caber todo numa antena, num canal de informação. Vou dar exemplos, começar o dia com um noticiário que, em blocos de 15 minutos, possam permitir uma informação rápida, faz parte de uma dieta informativa fundamental, porque é a forma de a pessoa se atualizar em relação ao estado em que está o mundo.

Informação especializada de internacional, com o Jornal do Mundo, que é outra das nossas propostas, é fundamental. A experiência da CNN Portugal, com o qual nós aprendemos muito, diz-nos que isso é muito eficaz em Portugal e que os espectadores portugueses precisam muito.

O Now não vai canibalizar a CMTV. São dois canais que são concorrentes e, eventualmente para os espectadores, serão duas propostas alternativas.

O jornal das oito será apresentado por Pedro Mourinho.

Será o Pedro Mourinho, alternando com a Eduarda Pires, que fazia o jornal das oito na Record TV. Ao fim do dia, teremos aquilo a que chamamos o olhar viral. Vamos procurar nas redes sociais as vozes e os protagonistas do futuro. É uma ideia que estamos a trabalhar com afinco e que vai ser interessante.

Os ‘frente a frente’ do jornal das oito vão ser um misto entre experiência e juventude. Vamos estar com Hugo Soares, líder parlamentar do PSD, temos alguns nomes do PS também, que eu vou reservar para lançar mais tarde, temos a Rita Matias, do Chega, o Cotrim Figueiredo. Temos uma gama muito variada e multifacetada de opiniões, porque também não queremos, digamos, afunilar o fluxo da opinião numa só corrente. Nós seremos, naturalmente, um canal multidisciplinar, mas também plural sob o ponto de vista da opinião.

Em termos de equipa, como é que vai funcionar?

Vai funcionar autonomamente, ou seja, uma equipa específica. Criámos cerca de 60 lugares de quadros novos para fazer o canal Now. Estou a incluir pivôs, jornalistas, repórteres de imagem, grafistas e técnicos de continuidade, do estúdio. Tivemos que criar instalações novas. O Now será um canal totalmente distinto da CMTV. Tem estúdio próprio, régie própria, equipa própria, um estatuto editorial próprio.

É essa a equipa? 60 pessoas?

Essa é a equipa base. Depois o canal funciona precisamente devido a esta parceria em relação ao Negócios, à Máxima e à Sábado.

Desses 60, quantos são jornalistas?

Entre 20 e 30. Um dos temas dos canais de informação é a necessidade muito constante e ativo de formar pivôs. Só para pivôs, um canal de informação necessita, na operação semanal, algures entre 15 e 20.

Judite de Sousa faz parte da equipa de pivôs?

Tive uma conversa com a Judite e combinei que estará connosco na noite eleitoral, na CMTV. E depois vamos combinar o que vai fazer no Now. Mas vai estar connosco, tenho a certeza absoluta. Aliás, pensei em fazê-lo na apresentação do canal, mas faço agora aqui: acho que é muito importante prestar uma homenagem à Judite, pela carreira e por tudo o que deu ao jornalismo e que nós queremos que volte a dar.

Carlos Rodrigues, Diretor-Geral Editorial da MediaLivre, em entrevista ao ECO/+M - 08MAI24
Carlos Rodrigues, diretor-geral editorial da Medialivre, em entrevista ao +M/ECOHugo Amaral/ECO

Esses 60 profissionais são sobretudo jovens?

Uma boa mescla entre jovens e pessoas com experiência. Fizemos uma ótima mistura entre jovens, que já estavam no mercado mas têm um trajeto longo percorrer, e pessoas com mais experiência e que de alguma forma vêm reforçar a equipa e o nosso know how interno, que já é bastante grande, do meio televisivo.

A CMTV é feita com quantas pessoas?

Nasceu com 72 pessoas no quadro. Mas, na altura, estávamos numa empresa onde não havia a mínima experiência televisiva e estamos a falar de 2013.

Porquê o nome News Now? Na altura do lançamento da CNN, fez críticas contundentes a um nome e formato internacional em vez de manterem o TVI24. Agora escolhem um nome em inglês…

Era diferente. Era como se tivéssemos desligado um canal e abríssemos o Now, não é isso que estamos a fazer. Porquê o nome Now? Na verdade, o nome faz sentido por uma questão muito simples, este canal destina-se a fazer essa nova oferta informativa, com uma proposta diferenciadora. Parte desse nosso conceito advém do ritmo horário da informação. Nós seremos o canal das horas certas.

O Now vai canibalizar a CMTV?

Não. São dois canais concorrentes e, eventualmente para os espectadores, serão duas propostas alternativas. Para os nossos parceiros, para os nossos anunciantes, para o mercado, são complementares. É com esta filosofia que nós vamos fazer o Now.

São dois projetos televisivos muito fortes. Um que já tem provas dadas, que é a CMTV, o outro que está a nascer agora e que nasce com o apoio das três operadoras. Penso que esse apoio é um reconhecimento pela nossa qualidade de trabalho televisivo. E esse novo projeto, esse novo canal, nasce com uma personalidade muito forte, e que terá uma posição complementar ao nível do mercado em relação à CMTV. E nós, agora falo até como espectador e como cidadão, só temos que ficar contentes por a oferta aumentar.

Quanto mais oferta houver, quanto mais complementaridade houver, melhor. O Now não vai ser, como me citou há pouco, um canal cinzento, nem com uma proposta igual ao que está no mercado. Eu, até como programador, mas enfim, nas minhas múltiplas valências, quando vejo momentos em que dos quatro canais existentes no campo de informação nacional – SIC Notícias, RTP3, CNN e CMTV –, três deles passam por vezes dias inteiros, tardes inteiras, horas inteiras, com o mesmo sinal ou do Parlamento ou da mesma conferência, a minha equipa costuma dizer por brincadeira “é a hora da liberdade de imprensa”.

Porque há um canal que dá diferente, que é a CMTV, e faz com que o espectador tenha duas opções: o conjunto dos três canais institucionais e a CMTV. O que vai acontecer a partir de agora é que o espectador passa a ter três opções. A CMTV, o Now e depois a RTP3, o SIC Notícias e a CNN que são, no fundo, cada vez mais iguais.

Acha que são os três cada vez mais iguais?

Acho que têm sido mais iguais do que deviam, durante muito tempo. Mas não quero criticar nenhum deles. E, aliás, disse na apresentação do canal que a pujança desses três competidores, para nós é muito importante. Respeitamos muito todos os concorrentes e aprendemos muito com eles.

E quanto melhor estiverem…

Mais determinação teremos para triunfar.

Se soubesse a quantidade de vezes que eu ouvi neste processo a pergunta “mas tens a certeza que há espaço para mais um canal de cabo?”. Claro que há espaço.

Como é que avalia cada um deles agora? Ou como é que descreveria cada um deles?

Penso que a oferta está muito semelhante e é muito baseada no princípio do tudólogo. E isso é algo que está a fazer mal à democracia em Portugal. Ao colocarmos em antena, em canais que tenham, digamos, uma estrutura de temas mais clássicos, como são os nossos três concorrentes, a debater com base na intensidade emocional e não na intensidade intelectual, estamos a fazer com que muitos debates políticos se tenham transformado em autênticas, eu costumo chamar, Ligas d’Ouro do futebol.

Liga d’Ouro é um formato da CMTV, que todas as noites analisa o futebol. Mas todos os adeptos/comentadores que estão na CMTV à noite, quando saem do estúdio sabem que, no fundo, o futebol é um divertimento, um entretenimento. No conjunto de canais que têm esse código de valores mais clássico, está-se a transformar o debate político em algo muito emocional. E eu penso que isso é mau. O reinado do emocional é mau.

Quando diz algo muito emocional refere-se a uma espécie de tabloidização do debate político?

Sim, eu prefiro usar a expressão futebolização, porque se discute hoje em dia a vida parlamentar, a vida partidária, a vida governamental e as opções do país como se fosse uma partida de futebol.

Nós vamos também tentar furtar o espectador dessa lógica, porque achamos que isso é importante para o país. Estou certo que os espectadores vão sentir a diferença. Lá está, mas sem fazer do Now um canal institucional ou cinzento.

E sem fazer do Now um canal demasiado elitista, se quisermos?

Não gosto da palavra elitista, porque parece que há uma elite versus não elite. Mas na verdade é uma proposta diferenciadora, nós sabemos bem para quem vamos trabalhar.

Hoje discute-se a vida parlamentar, a vida partidária, a vida governamental e as opções do país, como se fosse uma partida de futebol.

Uma espécie de ‘canal de referência’, para utilizar a caracterização que era aplicada à imprensa?

Nós usamos a designação que, no meu entendimento é clarificadora, de canal diferenciado. Nós somos um canal diferenciado na proposta, na filosofia de atuação, na capacidade de dar notícias e analisar essas notícias.

Vai ser mais sóbrio?

Vamos necessariamente ser televisivamente muito intensos. O canal está bonito, é sóbrio e discreto. A música está a ser feita pelo Elvis Veiguinha, que é um profissional que dispensa apresentações para o mercado.

Fez a identidade sonora da SIC Notícias, por exemplo.

Foi ele que fez. Eu estava lá nesse dia e recordo-me perfeitamente. Mas as frases musicais principais vão ser ultimadas através do recurso a uma orquestra sinfónica, no caso em Praga. Será um canal esteticamente cuidado, destinado a um público diferente dos outros canais, e quando digo diferentes de outros canais existentes, refiro-me não só a CMTV, como à SIC Notícias, CNN e RTP3.

E estou certo que vamos encontrar o nosso próprio público. O que acontece no mercado de media é um movimento interessante, sempre que numa determinada área de negócio surge um projeto novo, a princípio todos têm medo porque não há espaço para todos… Se soubesse a quantidade de vezes que eu ouvi neste processo a pergunta “mas tens a certeza que há espaço para mais um canal de cabo?”. Claro que há espaço. O que se tem verificado é que sempre que num determinado segmento de mercado surge um player novo, forte, esse mercado alarga.

Na informação tem acontecido assim.

Ainda recentemente, quando apareceu a CNN. Na verdade a CNN encontrou o seu espaço e a CMTV, por exemplo, subiu muito. Alargou-se o mercado já existente, com pessoas novas e eu acho que é isso novamente que vai acontecer. Mais preocupado, já agora, estaria eu com a sobrevivência eventual dos canais FTA do com os canais cabo.

O investimento publicitário nos FT ainda é bastante superior, mas o cabo tem vindo a ganhar terreno.

E pujança. A nossa parceria com as agências de meios, com os anunciantes, é ótima. Porém, a minha equipa de comerciais chamou-me a atenção que o surgimento do canal Now vai alargar o portfólio e criar novas oportunidades no mercado. E contamos com essa colaboração e com essa adesão dos anunciantes, em alguns segmentos também eles diferenciados, como os produtos de luxo, perfumaria, a moda, a banca, os seguros, os automóveis.

Anunciantes que não estão na CMTV.

Alguns estão na CMTV, mas não todos. Agora, com o alargamento deste portefólio sob o ponto de vista comercial, achamos que fará sentido. Somos uma empresa privada, precisamos de dar lucro e é bom que assim seja. Aliás, a única forma de haver jornalismo livre é que isso aconteça. E o alargamento do portfólio através do surgimento do Now é importante para nós também sob esse ponto de vista.

Os anunciantes e agências de meios estão expectantes, mas também parece haver algum receio de que tentem entrar com preços mais competitivos e acabem por baixar o valor da publicidade para todos operadores. Pode acontecer?

Estou em crer que não. Sinceramente, no nosso caso, é uma falsa questão. Não temos de todo uma posição confrontacional nem predatória no mercado. Vamos, naturalmente, fazer o trabalho, desenvolver as nossas ideias, fazer uma expectativa de receitas realista, gastar o dinheiro atinente ao necessário, ao lucro que é preciso manter, e levar a nossa proposta ao mercado.

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