As relações públicas também ganham eleições
Não sei quem vai ganhar no dia 10 de março, mas posso adiantar que um profissional de relações públicas estará entre os vencedores.
Já aqui falei de como os profissionais de relações públicas têm dificuldade de explicar o que fazem a familiares a amigos. Esta irrelevante caricatura serve para abordar o facto de a nossa profissão manter uma falta de reconhecimento público que ora me encanta, ora me irrita. Encanta porque sou dos puristas que acredita que o nosso trabalho é sobretudo de bastidores, de estratégia, e que a visibilidade dos clientes é a melhor prova da nossa competência e importância. Mas também irrita porque o mundo mudou e esta falta de visibilidade prejudica o reconhecimento de um setor essencial para a comunicação contemporânea e, por vezes, legitima uma aura de obscurantismo em matérias como o já cansado tema do lóbi.
Vem esta reflexão a propósito do momento em que nos encontramos para Eleição da Assembleia da República, que vai determinar o próximo Governo e primeiro-ministro de Portugal. O momento mais mediático do ano tem nos seus bastidores estrategas de comunicação e assessores de imprensa que, à sombra dos seus candidatos, combatem na arena mediática por espaço, audiências, temas e soundbites. E numa altura em que a política se tornou conteúdo de entretenimento, com o crescimento de temas laterais aos programas políticos e espaços de comentários aos debates e às performances dos candidatos, vale a pena lembrar (e eu diria conhecer) os estrategas de “PR” dos principais partidos da nossa democracia. Digo isto como cidadão, uma vez que a agência que lidero não tem clientes na área política, o que me confere total liberdade para falar sobre o tema.
Mas se falo enquanto cidadão, como profissional da indústria também não me canso de pensar que todas as horas de comentários sobre quem venceu os debates é antecedido de horas de trabalho estratégico, seleção de temas, análise das fraquezas dos opositores e muito, mas muito, media training.
Nos Estados Unidos e alguns países europeus estes profissionais são verdadeiras estrelas, que inspiram obras de ficção e viajam vender palestras milionárias. Por cá, temos Luís Paixão Martins, que, dúvidas houvesse sobre o interesse público sobre o que fazemos, teve o seu livro “Como Perder uma eleição” a disputar os tops de vendas com romances, livros de culinária ou bem-estar. Paixão Martins, para os mais distraídos, esteve ligado às últimas três maiorias absolutas em Portugal (Costa, Sócrates e Cavaco Silva).
São estas as pessoas que potenciam os “animais políticos”, os seus recursos de oratória, que analisam o ambiente político, económico e social e convertem essa informação em estratégias de comunicação, adaptadas diariamente, de forma a conseguir ocupar mais espaço mediático e a simpatia dos eleitores. São eles quem preparam os candidatos para os debates, antecipando questões sensíveis, contra-ataques e comportamento verbal e não verbal.
Se as Relações Públicas são essenciais em todas as atividades, a política é das que melhor se entende o seu papel crítico, uma espécie de compêndio diário para quem trabalha, se interessa ou quer conhecer melhor o trabalho que fazemos, porque, além de se entender a importância da formatação da mensagem, do tom, do timing e até do canal escolhido, temos a “sorte” de ter vários analistas a “avaliarem” permanentemente a eficácia da mensagem e a performance dos candidatos.
Não sei quem vai ganhar no dia 10 de março, mas posso adiantar que um profissional de relações públicas estará entre os vencedores.
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