Desenrasquei este artigo

  • João Guerra
  • 10:50

A arte de desenrascar, quando praticada com consciência e propósito, pode transformar-se numa forma elevada de pensamento estratégico.

Os portugueses são frequentemente reconhecidos pela sua capacidade de “desenrascar” — isto é, de encontrar soluções criativas e eficazes em situações de aperto, utilizando apenas os recursos disponíveis. Ao contrário da conotação negativa que por vezes lhe é atribuída, considero esta uma característica extremamente positiva. Ser capaz de desenrascar exige manter o foco no essencial: identificar o problema e procurar resolvê-lo, tirar o máximo partido dos meios ao nosso alcance e, acima de tudo, aplicar criatividade para construir soluções engenhosas e ajustadas à realidade.

Esta habilidade foi determinante ao longo da nossa história. Vivendo num território pequeno e com recursos naturais limitados, tivemos de desenvolver competências que nos permitissem ir mais longe: aprendemos a navegar, a explorar e a descobrir novos mundos. Essa urgência de ultrapassar os limites geográficos e económicos foi o motor da nossa expansão.

Hoje, embora em circunstâncias muito diferentes, continuamos a enfrentar desafios semelhantes. O mercado interno é reduzido e, por isso, as empresas portuguesas devem ser pensadas com ambição global. Temos de olhar para fora, exportar, e competir lado a lado com os melhores. Já sabemos que, para sermos competitivos, não podemos depender apenas do fator preço — temos de oferecer mais. O verdadeiro diferencial está na capacidade de acrescentar valor, seja através da inovação, da qualidade, da proximidade com o cliente ou da integração de soluções sustentáveis.

Desenrasquei este artigo depois de ler, no MaisM, uma entrevista com a Mónica Sousa, diretora de marketing do IKEA, onde dizia: “como não temos um budget muito grande, temos de ser criativos”. Essa frase ficou comigo. Identifico-me totalmente com essa lógica. Não encaro a escassez como uma limitação, mas sim como uma oportunidade para pensar melhor — quase como se a falta de meios fosse, em si mesma, um catalisador de boas ideias. A arte de desenrascar, quando praticada com consciência e propósito, pode transformar-se numa forma elevada de pensamento estratégico.

No entanto, essa arte só ganha verdadeiro valor quando usada como ponto de partida, e não como fim em si mesma. O verdadeiro desafio está em transformar a nossa agilidade em visão, a nossa capacidade de improvisar em propostas sólidas de valor. É essa evolução que nos permitirá afirmar-nos de forma duradoura num mundo cada vez mais exigente, global e competitivo.

 

Referência: +M:“O nosso principal amplificador é a ideia, é a criatividade, em vez da força do GRP

  • João Guerra
  • Diretor de marketing & comunicação Helexia Portugal

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Desenrasquei este artigo

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião