Edson Athayde 1966 – 2046

“Se eu morrer aos 80 anos…” – apanho no ar uma frase dita logo ao começo numa brilhante palestra do filósofo Leandro Karnal, a qual assisti recentemente num Coliseu de Lisboa abarrotado.

As contas de Karnal também servem para mim: os nossos familiares nunca passaram dos 80, logo, a genética aponta para que tenhamos pouco mais de 20 anos de vida presumível.

A matemática fria do calendário deveria servir para que levássemos a nossa existência com um pouco mais de leveza. Só os imortais deveriam ter direito a serem insensíveis, arrogantes, egoístas, buliçosos, tornando tudo numa questão de ego, de vaidade, de disputa.

Bem-haja a Geração Z que crê em coisas distintas da minha, que sabe que existe muita coisa para além do “eu”; que há um planeta a salvar, minorias a respeitar, hábitos a mudar, que temos todos de melhorar enquanto pessoas e profissionais. Aprendo sempre com eles, temos todos a aprender.

Porém, não são perfeitos. Nenhuma geração é. Estudos recentes indicam que a Geração Z enfrenta desafios no engajamento profissional. Muitos iniciaram suas carreiras a enfrentar despedidas, sendo a pandemia da Covid-19 um agravante. A sua desconfiança do status quo e a busca por mudanças rápidas indicam a necessidade de estratégias inovadoras para conquistar seu engajamento.

Espero que nos anos que me restam até 2046 (sim, pretendo trabalhar até lá) continue a encontrar dinâmicas de equipa baseadas na colaboração inter-geracional. Tanto mais porque boa parte dos marketeers em Portugal tem cerca de 30, cabe a nós, os experientes, não nos encastelarmos em certezas cheias de teias.

Daí que gostaria de volta à palestra de Karnal. No final da sessão, o filósofo citou a personagem Polónio e os seus conselhos para a felicidade em “Hamlet”. Transcrevo aqui cinco desses conselhos e como a Geração Z poderia tirar partido deles no ambiente profissional:

1. “Acima de tudo, sê fiel a ti mesmo.” Em uma era de pressão para se encaixar, a autenticidade é mais importante do que nunca.
2. “Aqueles amigos que provaste, prende-os à tua alma com ganchos de aço.” As conexões pessoais e profissionais são valiosas, por isso é importante nutri-las.
3. “Ouve a opinião de todos, mas reserva a tua própria.” Aprender com os outros não significa que você tem que concordar com eles. Mantenha uma mente aberta, mas também pense criticamente.
4. “Não deixes que qualquer pensamento desproporcionado se transforme em ação.” O sucesso raramente acontece da noite para o dia. Seja paciente e persistente em seus esforços.
5. “Sê familiar, mas nunca vulgar.” Encontre um equilíbrio entre o desprendimento profissional e a necessidade de competição. Uma empresa também pode ser um lugar para fazer amigos. Mas não é só sobre isso ou não existe exatamente para isso.

Ou como diria o meu Tio Olavo: “Viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta”.