Rock stars da comunicação
Eu sei que é sempre mais fácil citar casos internacionais, consagrados que gerem budgets impossíveis em Portugal, mas a ideia do artigo é exatamente oposta. Só precisam de me dar mais dois minutos.
“Demorei alguns segundos a desenhá-lo, mas levei 34 anos para saber como desenhá-lo em alguns segundos”. A frase é de Paula Scher, designer americana, cujo trabalho me chamou a atenção muito antes de saber quem era.
A ligação de Scher, hoje septuagenária, à tipografia e à comunicação cultural fez com que me cruzasse com o seu trabalho e, com isso, começasse a entender o poder do design e a forma como as palavras podem dizer muito mais do que o que está escrito. Esse também é o poder das relações públicas (desculpem a colherada, mas é verdade).
Mas a frase de Scher quer dizer muito mais do que isso. É uma caricatura de algumas relações entre clientes e agências, lembra que mesmo o que parece fácil requer muito trabalho, e alerta os profissionais comunicação (sejam designers, publicitários ou profissionais de relações públicas) para a importância de nunca estagnarem.
“Belo cliché, Elgar. Até agora ocupaste dois minutos do meu tempo com uma referência americana e uma ideia batida”. Eu sei que é sempre mais fácil citar casos internacionais, consagrados que gerem budgets impossíveis em Portugal, mas a ideia do artigo é exatamente oposta. Só precisam de me dar mais dois minutos.
Sou dos que acredita que somos tão bons como os “lá de fora”. E isto não é discurso paternalista ou corporativista. E se hoje temos um belo “quadro de honra” de “tugas” que se destacaram lá fora – Pedro Pinto, ocupou a cadeira da comunicação da UEFA, Hugo Veiga, cujo nome se mistura com a campanha da Dove, João Coutinho que deve ter uma estante de Leões, o prodígio Bráulio Amado, que trabalhou na Pentagram, entre outros –, eu quero falar, sobretudo, de exemplos de profissionais que nunca saíram do no nosso retângulo, cujo trabalho é mais do que o negócio ou emprego.
Temos agências e profissionais incríveis em Portugal. Sou admirador do trabalho da This is Pacífica, acho incontestável que O Escritório tem uma marca na publicidade que vai perdurar, não é possível falar da evolução dos eventos corporativos sem mencionar a Desafio Global.
Mas a minha admiração especial vai para os “Mick Jaggers” da comunicação (a comparação não é etária, caso contrário diria Keith Richards). Exemplos como o Jorge Silva (silvadesigners), o Paulo Rocha (Ivity), entre outros, que são a personificação da frase de Scher porque, nem com o surgimento de novos pop stars na sua área, perderam a boa forma e a capacidade de manter o seu trabalho atual.
Para mim, o Jorge Silva, por exemplo, é a nossa Paula Scher. Por tudo. Pela frescura de espírito, pela vitalidade criativa, pela forma como valoriza a tipografia e até pela sua proximidade à cultura. A silvadesigners, que reinventou produtos, como a sardinha das Festas de Lisboa, é uma agência que devia inspirar toda a indústria pela capacidade de manter a sua identidade, sem beliscar a qualidade dos projetos que desenvolvem para os seus clientes, sejam marcas, projetos públicos ou culturais.
A Paula Scher, o Jorge Silva e o Paulo Rocha são três exemplos superlativos do que todos procuramos ou devíamos procurar: credibilidade e confiança dos clientes no que fazemos, mesmo quando o output parece simples; clarividência para perceber que o estatuto só se mantém se o trabalho for bom; e vontade de deixar um legado que seja válido para além do egocentrismo e do autoelogio.
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