Sustentabilidade: estamos a comunicar para a mudança ou para a indiferença?

A mudança começa com informação rigorosa, ganha força com criatividade e concretiza-se com práticas sustentáveis. E se no final do dia ganham os mais criativos, no final da semana ganha o planeta.

Recentemente visitei o Transformarium da ERP/Novo Verde, em Sintra, um centro de sensibilização ambiental dirigido a crianças e jovens, e que aposta numa abordagem inovadora e envolvente. Uma das áreas mais impactantes a que temos acesso através do Transformarium é o armazém onde se faz a selecão de material elétrico e eletrónico para reciclagem. A visão de montanhas de equipamentos descartados — televisões, máquinas de lavar, telemóveis, micro-ondas… — é um choque visual que ilustra a escala alarmante do lixo que produzimos e do desperdício que geramos diariamente. Apesar do esforço notável da reciclagem, esta imagem reforça uma questão essencial: estamos a comunicar a sustentabilidade de forma eficaz? Temos sabido comunicar a importância dos três R’s — Reduzir, Reutilizar e Reciclar?

Num mundo onde a simples separação doméstica de resíduos ainda não é uma prática universal, a resposta não é óbvia. A desinformação continua a ser um obstáculo. Quem nunca ouviu dizer que a reciclagem não passa de um embuste ou que muitos resíduos separados acabam no mesmo destino? Estes boatos, muitas vezes alimentados pela falta de informação clara e acessível, comprometem a confiança da população e dificultam a mudança de comportamentos.

A comunicação da sustentabilidade não pode, por isso, ser simplista nem cair em discursos alarmistas ou no greenwashing. Informar não basta; é preciso educar, inspirar e mobilizar. Para isso, a transparência é fundamental: os desafios ambientais devem ser apresentados de forma honesta, sem minimizar dificuldades, mas também sem paralisar as pessoas pelo medo ou pelo cansaço. Até porque ninguém pretende cair no ridículo dos manifestantes que bloqueiam estradas, supostamente em nome do ambiente.

Mais do que apenas desmentir mitos ou corrigir conceitos, comunicar sustentabilidade implica criatividade e estratégia. Como podemos tornar um tema denso e muitas vezes técnico em algo apelativo e acessível? Como podemos envolver diferentes públicos, das crianças aos decisores políticos, num debate que exige urgência e compromisso?

Este não deveria ser um serviço público essencial? Desconstruir a complexidade da informação ambiental, clarificar dados e torná-los práticos e úteis para todos?

Aqui, a responsabilidade recai sobre profissionais de comunicação, jornalistas e marcas. Devemos ir além das campanhas e mensagens superficiais para promover uma verdadeira literacia ambiental. Isso significa explicar com rigor os impactos das nossas escolhas, incentivar a mudanças e criar estratégias que promovam a ação.

E aqui entra a criatividade. O futuro da comunicação da sustentabilidade passa por novas linguagens e novos formatos que captem a atenção e gerem impacto. O storytelling, as experiências imersivas, as plataformas digitais e até a cultura pop podem ser ferramentas poderosas para envolver e sensibilizar. A visita ao Transformarium foi um exemplo claro de como a abordagem certa pode transformar um conceito abstrato numa experiência educativa.

No entanto, esta necessidade de comunicar melhor a sustentabilidade surge num momento paradoxal. Enquanto algumas iniciativas se destacam, assistimos a um retrocesso preocupante a nível global, especialmente no que diz respeito à política ambiental. A administração Trump, por exemplo, desmantelou regulações ambientais essenciais e retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris, enviando um sinal perigoso sobre a falta de compromisso com o planeta. Estes passos evidenciam ainda mais a urgência de uma comunicação eficaz que mobilize cidadãos e governos a não cederem à inércia ou aos interesses económicos de curto prazo.

A comunicação da sustentabilidade é, acima de tudo, um esforço coletivo; exige colaboração. Profissionais da comunicação, jornalistas, empresas, educadores e cidadãos têm de trabalhar em conjunto para construir um futuro mais equilibrado. Até porque o objetivo é conhecido e querido por todos — quem não pretende preservar o planeta? –, mas requer ação individual e vontade de educar e sensibilizar à nossa volta.

Acredito que a mudança começa com informação rigorosa, ganha força com criatividade e concretiza-se com a adoção de práticas sustentáveis no dia-a-dia. E se no final do dia ganham os mais criativos, no final da semana ganha o planeta.

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