Obras de requalificação da pista obrigaram à paralisação total da operação aérea no Aeroporto Sá Carneiro. Mesmo avisados sobre o encerramento da infraestrutura, passageiros queixam-se do transtorno.
Um aeroporto completamente parado sem o frenesim dos habituais 320 voos diários e dos milhares de passageiros que por ali passam a todas as horas. No aeroporto Francisco Sá Carneiro, na Maia, os aviões não aterram, nem descolam desde a meia-noite. Não há filas, as superfícies comerciais estão encerradas, o trânsito nas imediações é mais reduzido e o silêncio paira no ar. Os passageiros foram avisados de que a infraestrutura nortenha iria estar encerrada esta terça-feira para reabilitação da pista de aterragem, mas não deixaram de se queixar do “transtorno”. Os voos vão ser retomados a partir das 6h00 de quarta-feira.
Maria Pereira e outros três elementos da família estavam à espera do autocarro para Vigo para depois apanharem o avião para Palma de Maiorca. “Não tem jeito nenhum”, reclama a passageira, alegando que a situação é “prejudicial” e fez “perder um dia de férias”. Vão chegar ao destino já depois do jantar, quando inicialmente a chegada estava prevista para as 14h00. “Fomos avisados pela agência de viagens há um mês e pouco. Mas se não tivesse a viagem paga não ia sujeitar-me a isto“, assegura a portuense.
A poucos metros está um jovem casal com uma história semelhante e com o mesmo destino: Palma de Maiorca. Enquanto aguarda o autocarro para o aeroporto galego, Gabriela Silva conta ao ECO que já estava a par da situação há um mês, mas não deixa de ser um “transtorno”. “O nosso voo partia do Porto às 16h, depois passou para as 17h e, posteriormente, fomos informados que, afinal, ia partir às 18h10, mas de Vigo”. A porta-voz deste casal de Braga desabafa que se tivessem tido conhecimento deste encerramento com mais antecedência, optariam por partir noutro dia.
Fomos avisados pela agência de viagens há um mês e pouco. Mas se não tivesse a viagem paga não ia sujeitar-me a isto.
Na zona das partidas do Aeroporto Sá Carneiro está outra família que regressou esta terça-feira de férias do Senegal. Em vez de aterrarem no Porto, foram desviados também para Vigo. A família natural da Póvoa de Lanhoso teve de apanhar um autocarro desde a cidade espanhola até ao aeroporto no Norte de Portugal. Sónia Marques conta ao ECO apesar de já saberem desde julho que essa seria a alternativa, isso não deixa de ser “um transtorno muito grande”.
As obras já estão a decorrer desde o final de julho durante o período da noite, mas uma intervenção mais profunda na pista de aterragem, que está a ser assegurada por 260 pessoas, 70 camiões e 150 equipamentos, obrigou o enceramento do aeroporto esta terça-feira. A interrupção foi programada no início do ano e a empreitada total está orçada em 50 milhões de euros. As previsões apontam para que os trabalhos sejam concluídos em fevereiro de 2026.
O diretor do Aeroporto Francisco Sá Carneiro explicou esta manhã aos jornalistas que a “pista 17-35 já não sofria uma intervenção desta dimensão há 20 anos, desde a altura do Euro 2004. “Aconteceu em 2003 e 2004 uma repavimentação da pista”, nota. Rui Alves detalha que, depois deste dia de encerramento total, as restantes intervenções serão feitas entre as 00h00 e as 06h00, de segunda a sábado, para minimizar o impacto nas operações aeroportuárias. “Não está previsto mais nenhum dia de encerramento total”, garante o gestor.
Preparar o futuro é mais importante do que qualquer impacto económico que possa surgir.
Maria Rebelo e as duas filhas estavam sentadas no café do aeroporto à espera do autocarro que partia para Vigo, para depois apanharem o avião com destino a Palma de Maiorca. Se não fosse esta paralisação tinham voo às 17h45 a partir da Invicta. “Vamos chegar mais ou menos à mesma hora. O único transtorno é ter de fazer a viagem de autocarro do Porto até Vigo”. A família bracarense conta que soube do encerramento do aeroporto a 22 de agosto, mas, mesmo que tivesse sido antes, não iria alternar os planos porque só tinham estes dias de férias.
O diretor do Aeroporto Francisco Sá Carneiro explicou que a obra, que obrigou a uma paragem completa da infraestrutura, contempla a “repavimentação completa da camada de desgaste da pista 17-35, intervenções de reforço estrutural da pista, substituição do sistema de luzes de pista por 1.500 LED’s e cablagens (340 km de cabos), renovação integral do sistema de drenagem da pista e substituição dos sistemas de aproximação”. “É uma obra bastante complexa”, nota.
A obra prevê ainda renovação integral do sistema de drenagem da pista e a instalação de infraestruturas civis para a implementação de equipamentos de navegação (ILS categoria II) na pista 35, que vão permitir operações em baixa visibilidade.
A escolha da data para esta paralisação total não foi escolhida ao acaso, mas sim com base em probabilidades de condições meteorológicas favoráveis. “Chuva mais intensa seria um problema para esta obra. Era algo que estava a preocupar-nos bastante porque não podíamos falhar”, afirma Rui Alves. Por outro lado, foi escolhido um dia a meio da semana, por ter “menos movimento e, consequentemente, menos impacto para os operadores”.
Questionado sobre o impacto económico deste encerramento histórico, o diretor do aeroporto nortenho realça que “preparar o futuro é mais importante do que qualquer impacto económico que possa surgir”. “O cumprimento na neutralidade carbónica até 2030, a questão da segurança que é fundamental e o crescimento do trafego – no ano passado atingimos, pela primeira vez, 15 milhões de passageiros, o que representa um crescimento de 20% em relação a 2022 -, fez-nos prosseguir o plano para preparar o aeroporto para o futuro”, conclui o diretor do Aeroporto Francisco Sá Carneiro.
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Fecho do aeroporto “desvia” 320 voos no Porto. “Vamos perder um dia de férias”
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