Rozès “desengaça” quebra na produção com qualidade da vindima no Douro

É na Quinta de Monsul que acontece a vinificação da Rozès, este ano com uma vindima de qualidade, apesar de antecipar uma quebra na ordem dos 10% da produção e menos 900 mil euros de faturação.

Seguimos por entre íngremes encostas com vinhas plantadas em socalcos e solo de xisto como pano de fundo no Douro Vinhateiro, até chegarmos à Quinta de Monsul, em Cambras (Lamego), onde está instalado o centro de vinificação da Rozès. À entrada, uma carrinha apinhada de paletes com cachos de uvas, colhidas na região, está pronta para as descarregar e dar início ao processo de desengace, prensagem ou fermentação, seguindo as várias etapas de vinificação até às milhares de garrafas de Vinho do Porto e DOP encherem copos por esse mundo fora.

Desde que as vindimas começaram em meados de agosto, primeiro com a apanha da uva branca, que camiões ou carrinhas chegam carregados de uvas empilhadas ao Lugar da Adega do Chão, no Baixo Corgo, para dar continuidade ao processo de vinificação e se fazer história na Rozès com uvas de qualidade. “A uva está em bom estado fitossanitário, prevendo-se assim uma vindima de boa qualidade”, afiança ao ECO/Local Online o administrador da Rozès, António Saraiva.

Já o mesmo não se pode dizer da quantidade de uva, antecipando-se este ano uma quebra na produção. “Em termos quantitativos, prevê-se uma quebra da ordem dos 10% devido às altas temperaturas em julho e essencialmente em agosto”, antecipa ao ECO/Local Online o administrador da Rozès, António Saraiva.

Os números falam por si. “Em 2023 produzimos um milhão de litros de DOP Porto (aguardente incluída) e cerca de 320.000 litros de DOP Douro. Em 2024 iremos produzir à volta de 765.000 litros de DOP Porto (aguardente incluída) e estimamos um volume semelhante ao de 2023 de DOP Douro”, calcula o empresário, prevendo uma quebra no volume de negócios na ordem dos 900 mil euros.

Estimamos fechar o ano com uma faturação de 8 milhões de euros, contra 8,9 milhões faturados em 2023”, calcula o administrador da Rozès que integra o grupo de Champagne Vranken Pommery Monopole, tendo como atividade a produção e comercialização de vinhos do Porto sob as marcas Rozès, São Pedro das Águias e Quinta do Grifo, além do Douro sob a marca Terras do Grifo, bem como a distribuição dos champagnes do grupo Pommery.

Estimamos fechar o ano com uma faturação de 8 milhões de euros contra 8,9 milhões faturados em 2023.

António Saraiva

Administrador da Rozès

Com 160 anos de história vinícola, é na Região Demarcada do Douro, na Quinta de Monsul, que a Rozès controla todo o processo de produção de Vinho do Porto e DOP das castas Tinta Barroca, Gouveio, Touriga Nacional, Arinto ou Tinta Roriz. “Centraliza toda a parte da enologia, desde a receção da uva até à saída de vinho. Principalmente nesta altura das vindimas completamos o ciclo que compõe toda esta infraestrutura: vinificação, estágio, preparação, engarrafamento e expedição”, detalha o enólogo residente Manuel Henrique Silva, enquanto mostra como as uvas, que um viticultor acabou de trazer, passam pela etapa do desengace — a separação das bagas das uvas do engaço –, sendo esmagadas para depois libertarem o sumo – o mosto — para posterior fermentação. É nesta etapa que o açúcar do mosto é transformado em álcool e dióxido de carbono.

Neste centro de vinificação todo o processo de transformação da uva em vinho decorre com ajuda de maquinaria e com o maior detalhe possível para, no final, produzir vinho de qualidade. As primeiras uvas a chegarem este ano foram as brancas provenientes das quintas da sub-região do Douro Superior, nomeadamente da Quinta da Veiga Redonda, em Freixo de Espada a Cinta. Muitas mais se seguiram.

Das uvas que são rececionadas neste centro de vinificação, 60% é de produção própria e outras 40% são compradas a viticultores da região para completar a produção vinícola, indica o enólogo enquanto aponta para “as uvas brancas que se destinam a fazer maioritariamente vinhos brancos DOP Douro que serão representados pela marca Terras do Grifo”.

Prosseguimos para a sala de vinificação com a mais avançada tecnologia, cubas de fermentação, prensas e algumas barricas. “É aqui que fermentamos os vinhos”, elucida a enóloga Jorgina Quintela, apoiada pelo colega Manuel Henrique Silva: “Transformamos o mosto em vinho que fermentamos, e agora vamos separar o líquido das massas”. Enquanto coloca o vinho fermentado num copo, a enóloga Jorgina Quintela questiona, com um sorriso: “Vamos fazer a prova?”

Tirada a prova dos nove, prossegue o enólogo, “as massas são prensadas e seguem depois para uma destilaria para destilar e fazer álcool industrial”, apontando para a cuba de fermentação na sala. Destaca depois a importância da sustentabilidade de todo o processo de vinificação. “Desde o engaço até à parte sólida (das películas) temos aqui um ciclo de sustentabilidade em que tudo é aproveitado”, exemplificando com o reaproveitamento das grainhas para óleos ou do engaço para biomassa.

Principalmente nesta altura das vindimas completamos o ciclo que compõe toda esta infraestrutura: vinificação, estágio, preparação, engarrafamento e expedição.

Manuel Henrique Silva

Enólogo residente da Rozès

Já numa outra etapa, detalha Jorgina Quintela, “o vinho é colocado numa cuba de armazenamento”, numa das caves de envelhecimento onde encontramos as tradicionais pipas de vinho do Douro, por exemplo.

Mas até chegar aqui, a uva teve antes de passar por um processo de seleção muito cuidado e preciso. A Rozés tem neste centro de vinificação um laboratório com uma sala para análises de controlo das vinhas. “Vamos fazendo a recolha das uvas quando os pontos de maturação estão no ponto ideal: açúcar e acidez”, descreve, por sua vez, o seu colega Manuel Henrique Silva. “Nos brancos, por exemplo, promovemos bastante o potencial de acidez, porque é o que vai dar equilibro e frescura, e até depois potencial e evolução dos vinhos uma vez na garrafa”.

Jorgina Quintela no laboratório da RozèsHugo Amaral/ECO

Apesar da produção de boa qualidade nesta vindima, há fatores que estão a influenciar o mercado vitivinícola. O administrador da Rozès elenca “a diminuição do poder de compra das famílias, as campanhas contra as bebidas alcoólicas, o elevado custo do financiamento bancário para as empresas do setor do Vinho do Porto que são de capital intensivo, dada a chamada Lei do Terço”. Esta última consiste numa regra do setor que estabelece que um comerciante só pode, em cada ano, vender um terço dos vinhos que tem em stock.

António Saraiva aponta igualmente “a cada vez maior concentração das vendas na moderna distribuição, com uma política cada vez mais agressiva nas negociações de compra” como fragilidades do setor. Já numa anterior entrevista ao ECO/Local Online em 2023, o empresário se mostrava preocupado com estas vicissitudes que o setor enfrenta.

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