Viseu entre a “reinvenção” e o “estrangulamento regional”
O "desvio" de verbas do PRR é "um estrangulamento regional” de Viseu, acusa o vice-presidente da Câmara, João Paulo Gouveia. Luis Ribeiro, do Novobanco, aponta a reinvenção da região.
“Mais uma vez, o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) é distribuído pelas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, e a ferrovia não chega. Ficamos a ver passar os comboios e a IP3 [Itinerário Principal 3]”; acessibilidades há muito reivindicadas que não saem do papel. O reparo ao Governo é feito pelo vice-presidente da Câmara Municipal de Viseu, João Paulo Gouveia, que vê neste desvio de verbas “um estrangulamento regional” e uma “castração ao desenvolvimento”. No primeiro debate do ECO Local/Novobanco sobre a realidade económica e empresarial local, que decorreu em Viseu, o número dois da câmara liderada pelo social-democrata Fernando Ruas fez um ponto de situação da economia regional de Viseu.
Sobre a forma como o PRR está a ser gerido, o autarca defende que “é um estrangulamento regional, porque se assiste a mais do mesmo que é o dinheiro ficar em Lisboa e no Porto, e não há nada para Viseu”. Mais, reitera: “Isto é uma castração ao desenvolvimento e a quem cá está e para quem quer vir, e ao mesmo tempo sofremos com estas coisas”.
É um estrangulamento regional, porque se assiste a mais do mesmo que é o dinheiro ficar em Lisboa e no Porto, e não há nada para Viseu.
João Paulo Gouveia alerta para o facto de as acessibilidades serem “o principal constrangimento de Viseu“, ou seja, a necessidade da requalificação da IP3, que liga Coimbra a Viseu, “que serviria todo este centro norte do país”, e uma ligação de ferrovia. Um inquérito que a autarquia fez recentemente deu conta disso mesmo, numa cidade que é “polo aglutinador” ao oferecer serviços ao resto das localidades envolventes, nomeadamente às 25 freguesias do concelho. Assim como é “motor e âncora de desenvolvimento da região“, sustenta o vice-presente do município que todos os anos atrai milhares de pessoas à Feira de São Mateus, um evento que implica um retorno económico considerável.
“Tivemos reuniões com o Estado Central há poucos dias e o que nos dizem é que não há disponibilidade de verba, quando na realidade não falta verba para as áreas metropolitanas do Porto e de Lisboa”, lamentou.
Ainda no que concerne às acessibilidades, João Paulo Gouveia lembra que Viseu não fica atrás de outras regiões com o aeródromo. “Investimos no segundo melhor aeródromo do país que tem 15 mil movimentos. Faz a carreira aérea Viseu-Lisboa duas vezes por dia“, frisa. O que demonstra o quão importante são as acessibilidades para a região, lamentando a postura do Governo nesta matéria. “Não compreendemos como Viseu não tem uma ligação de ferrovia. Diz-se que o OE2023 traz uma ‘pipa de massa’, mas não é nada para o que a região precisa”, critica.
Ainda assim, Viseu tem capacidade para atrair novas empresas e mais população para se fixar na região que proporciona qualidade de vida. “De todas as maiores empresas do distrito, um terço está em Viseu. Temos mais de 11 mil empresas em Viseu“, sublinha o autarca. E aponta como trunfos de atração de empresas a qualidade de vida, a sustentabilidade e o desempenho ambiental, além da quantidade de serviços que disponibiliza aos cidadãos.
De todas as maiores empresas do distrito, um terço está em Viseu. Temos mais de 11 mil empresas em Viseu.
O autarca citou como exemplo de sucesso “o parque empresarial de Coimbrões que está cheio”, referindo ainda a nova Área de Acolhimento Empresarial de Lordosa (AAEL) “onde a câmara está a colocar mais de seis milhões de euros”, apostando no desempenho ambiental.
João Paulo Gouveia destacou, nesse sentido, o Programa Viseu Investe como sendo “de atratividade económica” com incentivos e apoios à atração de investimentos e empresas, no âmbito da política municipal de reforço da competitividade da economia assim como de mobilidade, criação de emprego e fixação de população.
Sobre o posicionamento da indústria na região, João Paulo Gouveia assinalou ainda o papel fulcral da “indústria do turismo que tem vindo a crescer de uma forma exponencial. Viseu tem cerca de 300 mil dormidas”. Realçou ainda como mais-valias a proximidade às serras da Estrela e do Caramulo, e as particularidades das 25 freguesias. Além da qualidade de vida, gastronomia como trunfos para atrair mais turistas. Nesse sentido, avançou o autarca, o município está a criar um projeto de “escapadinhas” com as freguesias.
Luís Ribeiro, administrador do Novo Banco, destacou, por sua vez, que “Viseu soube reinventar-se, criar motivos de atração e desenvolver-se como polo aglutinador de toda a região, utilizando alguns aspetos diferenciadores que tem, como por exemplo o vinho do Dão, o enoturismo”. Para Luís Ribeiro, Viseu trilhou o seu caminho de sucesso ao conseguir “atrair empresas, investimentos, universitários”.
Luís Ribeiro deu ainda conta de que o “Novo Banco tem aqui [na região] um peso importante com a sua atividade. Com equipas dedicadas a acompanhar as empresas da região”, no âmbito de um “trabalho de proximidade local“.
Mais, defendeu o administrador do Novo Banco: “Fala-se muito em sustentabilidade e sustentabilidade é garantir que o território tenha um desenvolvimento equitativo. Estamos num espaço do Novo Banco na cidade de Viseu. É um pequeno auditório e representa muito o que o Novo Banco quer trazer como proposta de valor na sua rede à disposição dos clientes e dos diferentes agentes locais”.
Por fim, Luís Ribeiro referiu a execução de um “projeto de protocolos com agentes locais”, lembrando, contudo, os juros mais elevados na sequência da inflação, nomeadamente por arrasto da guerra na Ucrânia. “O contexto requer um grande rigor na avaliação e na seleção dos projetos que são apoiados. Temos de ajudar estas pequenas empresas de Viseu a ganhar escala e redes de distribuição, e aceso a mercados”, conclui.
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