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Compra da Cofina tem como objetivo “salvaguardar independência jornalística”, diz diretor do Correio da Manhã

Rafael Ascensão,

Carlos Rodrigues, Francisco Pedro Balsemão e Luís Paixão Martins foram os "hot seat" no congresso da APODEMO, na manhã desta quinta-feira.

António Gomes (GFK) e Carlos Rodrigues, diretor-geral editorial da Cofina (fotografia Edgar Coelho)

Entrámos neste processo com um único fim: salvaguardar a independência jornalística das diferentes marcas da Cofina”, disse esta quinta-feira Carlos Rodrigues, diretor-geral editorial da Cofina, no congresso “Antecipar o futuro, descodificar as mudanças”, promovido pela APODEMO (Associação Portuguesa de Empresas de Estudo de Mercado e de Opinião).

Questionado sobre o negócio da compra da Cofina, Carlos Rodrigues explicou que, numa altura em que o mercado dos media está a atravessar “momentos muito tormentosos”, o Management Buy Out (MBO) da empresa, feito por pessoas “da casa” com o apoio financeiro de Cristiano Ronaldo, visa salvaguardar a independência jornalística e a independência financeira, porque “sem independência financeira não há independência jornalística“.

Recorde-se que os acionistas vão deliberar sobre a venda da Cofina Media em assembleia no dia 26 de outubro. Entretanto a proposta concorrente, da Media Capital, foi retirada.

Temos confiança que vamos conseguir manter – se viermos a concretizar o MBO – a independência jornalística de todas as marcas do grupo Cofina“, afirmou Carlos Rodrigues, referindo que isso é algo “cada vez mais difícil”.

Segundo o também diretor do Correio da Manhã, sem ser os grupos Cofina e Impresa “mais nenhum outro grupo de comunicação social tem neste momento sustentabilidade financeira que seja suscetível de manter essa operação editorial com a independência que os cidadãos merecem e exigem“.

Isso é algo que devia preocupar toda a sociedade“, disse Carlos Rodrigues, preconizando que, tendo em conta o estado atual dos media em Portugal, “muito em breve haverá só dois ou três jornais diários e um semanário” e que mesmo esses terão muita dificuldade em manter-se.

Descartando os rótulos que por vezes são atribuídos à estação televisiva do grupo Cofina, Carlos Rodrigues afirmou que “nós queremos é ganhar, seja quem for o nosso adversário, e ganhar significa fazer o melhor trabalho, ou seja, ter todos os dias a escolha do espectador”.

Já questionado sobre a frase “Alerta CM”, o diretor da CMTV disse que “é já uma marca muito forte“, adiantando que neste momento essa marca não está a ser usada pela estação, “porque sabemos que o Alerta CM já toda a gente conhece. Neste momento estamos a lançar outra marca que é o “Urgente CM”, cuja diferença não é nenhuma. Funciona também apenas como criação de retenção informativa do telespectador”, explica.

A “solução” para a SIC Notícias era a Impresa concessionar o canal durante três meses à Cofina que depois seria devolvida “melhor e com mais resultados”, disse ainda Carlos Rodrigues, em tom de desafio, a Francisco Pedro Balsemão, que momentos antes tinha afirmado em palco que, embora não fosse líder, a SIC Notícias é “muito rentável”.

António Gomes (GFK) e Francisco Pedro Balsemão, CEO da Impresa (fotografia Edgar Coelho)

Sobre podcasts, o CEO da Imprensa defendeu que estes têm “muito potencial”, mas quanto à monetização afirmou que “infelizmente ainda não há mercado em Portugal, que é um mercado mais pequeno, mais tradicional e mais conservador”, pelo que o formato “ainda vai demorar algum tempo a crescer”. No entanto, a Impresa não vai desistir dessa aposta, assegurou o CEO do grupo, adiantando que a estratégia pode passar por fechar alguns podcasts e privilegiar assinantes digitais.

Quanto à abertura do mercado português para pagar por conteúdo, Francisco Pedro Balsemão disse que sente um sinal positivo, mas que existem nuances geracionais e de contexto a ter em conta. O responsável acrescenta que a atual conjuntura não é melhor e que, nesta fase, “a evolução que vínhamos a sentir nalgumas áreas, como com o Expresso, não está a ter o mesmo tipo de crescimento”. Portugal não se compara com a Noruega, onde cerca de 30% da população é subscritora, percentagem que só chega a 10% em Portugal, constata a título de exemplo.

Segundo Francisco Pedro Balsemão, a Impresa é a empresa com o maior número de assinantes digitais no país, cerca de 70 mil, o que “já é qualquer coisa num país como o nosso”.

Também em palco, Luís Paixão Martins, consultor de comunicação, falou essencialmente de sondagens, tendo desde logo referido que existe um “desfasamento enorme entre os estudos de opinião e os resultados”.

António Gomes e Luís Paixão Martins (fotografia Edgar Coelho)

As sondagens deixaram de ser um produto de conhecimento do que se passa e passaram a ser um conteúdo de influência“, afirmou também o fundador da agência LPM, referindo que em Portugal existe um ambiente mediático “muito cheio de conteúdo e de informação”, desde logo pela “existência de três canais exclusivamente dedicados à informação política e ao futebol”, o que “produz uma necessidade enorme de conteúdos”.

Assim, acrescenta, todos produzem e encomendam as suas sondagens, não existindo uma relação crítica ou de análise, e é transmitido o que vem das empresas de sondagens sem um filtro. “Produz um efeito enorme, porque altera o comportamento dos cidadãos. É o próprio impacto da sondagem que faz com que a sondagem deixe de ser rigorosa“, defende Luís Paixão Martins.

Estou convencido que a coligação de direita não teve maioria absoluta porque durante 15 dias todos os meios de comunicação social andaram a dizer que ia ter maioria absoluta“, acrescentou o consultor que trabalhou com o PS nas legislativas, e que vê nas sondagens a vantagem de “mobilizarem” e “estimularem” os eleitores.

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