Media

Privados questionam publicidade na RTP, presidente da RTP defende ajudas para os privados

Carla Borges Ferreira,

A publicidade na RTP ocupou grande parte do painel dedicado ao Estado da Nação dos Media, que juntou os CEO da Media Capital, Medialivre e Impresa e o presidente da RTP.

A discussão sobre o financiamento da RTP ocupou grande parte do Estado da Nação dos Media, debate organizado pela APCD no âmbito do 33.º Congresso das Comunicações. No painel que juntou os CEO dos operadores privados e o presidente da RTP, os primeiros três defenderam o fim ou redução da publicidade na RTP, enquanto Nicolau Santos, presidente do operador público, apontou a necessidade de os poderes públicos apoiarem os operadores privados, tal como aconteceu durante a pandemia.

Vivendo o setor dos media uma “grave crise de sustentabilidade e ameaças várias que podem colocar ainda mais em causa essa sustentabilidade”, se for entendido que a informação “é fundamental e um dos pilares da democracia portuguesa, então o Estado deve apoiar o setor privado”, afirmou o presidente da RTP.

O tema do financiamento da RTP foi puxado por Nicolau Santos na sua primeira intervenção. “O financiamento da RTP, que tanto incomoda muitos analistas do setor, está congelado desde 2016 e a RTP tem uma missão de serviço público que contempla a existência de oito canais de televisão e sete canais de rádio”, lembrou.

Referindo que a publicidade representa cerca de 20 milhões do orçamento total, que “no cabo quase não tem publicidade”, Nicolau Santos defendeu que se o operador público fosse “impedido de conquistar” publicidade, “não era seguro” que os 20 milhões de euros fossem repartidos pelos restantes operadores.

Opinião diferente foi manifestada pelos operadores privados. Luís Santana, CEO da Medialivre, pela primeira vez com assento neste painel, apontou uma “unanimidade” na ideia de que não faz sentido uma entidade que tem financiamento público estar a discutir o financiamento com privados.

“Existe uma opinião unânime sobre a RTP, uma entidade que tem um financiamento público substancial estar a concorrer com canais privados. Tem de se avaliar o número de canais disponíveis no TDT, perceber se há sobreposições e redundâncias, e se o valor de financiamento não deve sofrer uma otimização dos custos”, afirmou o CEO da empresa que no próximo dia 17 de junho vai lançar o Now, um novo canal de informação.

“Fazemos o negócio dos media à imagem da realidade do mercado que temos, e não tenho visto uma otimização dos custos da RTP, ajustada a esta mesma realidade”, acrescentou.

Francisco Pedro Balsemão, CEO da Impresa, defendeu uma “redução substancial” do tempo de publicidade da RTP, referindo que o facto de poder ter também publicidade no digital “prejudica os privados”. “Desde 2016 que temos sido coerentes. Devia haver eliminação ou redução substancial do tempo de publicidade reservado à RTP, para uma concorrência mais leal, à semelhança do que se faz noutros países“, sustentou.

Pedro Morais Leitão, CEO da Media Capital, acrescentou que se é entendido que todos os canais fazem serviço público, “o financiamento devia ser repartido por todos”. “Quando discutimos as receitas de publicidade e de financiamento publico, estamos a discutir como se pagam os custos operacionais. Mas o nosso desafio para o futuro é como é que se pagam as plataformas digitais”, alertou o responsável pelo grupo que detém a TVI e a CNN Portugal.

O lançamento do novo canal de Medialivre serviu de pontapé de saída para o debate, com Luís Santana a referir que “não será a entrada de um novo canal que vai causar distúrbio” no mercado. “Se há algo que está a distorcer o mercado é a publicidade digital e as plataformas digitais que está a comer um valor desproporcionado”, ponto que recolheu a concordância de todos os presentes.

O negócio da publicidade é um negócio secundário para os novos projetos. Quem decide são os operadores, que partilham entre si o mercado de tv paga”, apontou por seu turno Pedro Morais Leitão.

“O mercado da publicidade, neste momento, não chega para ninguém. 2024 será o ano em que as plataformas digitais vão ultrapassar as televisões de sinal aberto em receitas. O mercado digital está a crescer a dois dígitos”, acrescentou o responsável da Media Capital.

O Now, recorde-se, vai ocupar a posição nove da Meo, Nos e Vodafone, que viabilizaram o projeto, surgindo a seguir à CMTV — as grelhas dos operadores são temáticas, comentou a propósito Luís Santana, apontado até a posição cinco, a da SIC Notícias, como a ideal para a CMTV, canal generalista.

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