BRANDS' Local Online 1º Forum Invest Pombal: “Temos que promover o nosso território e empresários”
Pedro Pimpão, Presidente da Câmara Municipal de Pombal, quer tornar o concelho numa marca nacional, distinguindo-o como o “centro natural de Portugal”.
Líderes empresariais, autoridades locais e especialistas reuniram-se, no dia 8 de novembro, em Pombal, para discutir o futuro económico do concelho e impulsionar o desenvolvimento regional.
O debate aconteceu a propósito do primeiro Forum Invest Pombal, uma conferência organizada pelo ECO com a Câmara Municipal de Pombal, onde foram abordados temas como inovação, sustentabilidade e mobilidade, numa perspetiva de exploração de estratégias para impulsionar o crescimento económico e a promoção de práticas sustentáveis que fortaleçam o poder local.
Smart Cities: resolver problemas em tempo real
O primeiro painel de discussão abordou como a tecnologia pode impulsionar decisões políticas baseadas em dados concretos, possibilitando um desenvolvimento urbano mais eficiente e sustentável. “As smart cities permitem ao poder político tomar decisões baseadas em números”, refere Joaquim Castro Ferreira, Professor da Universidade de Aveiro, que salientou também a importância da cooperação entre as universidades e os municípios, reforçando que esta parceria permite às cidades estarem tecnologicamente atualizadas.
Paulo Duarte, project manager da Ubiwhere, segue a mesma linha de pensamento e deu o exemplo de um projeto dedicado ao turismo, em Granada, em que durante um período se monitorizou o comportamento dos turistas, tentando perceber as suas preferências, de onde é que vinham e o seu consumo. “Num dos momentos, Alhambra começou a sobressair [no sistema], fomos analisar e as pessoas estavam a queixar-se que estavam a demorar três a quatro horas a entrar no local. No dia a seguir, o departamento de turismo conseguiu organizar as filas para que as pessoas entrassem com mais rapidez e também a segmentação da venda de bilhetes. Isto, para mim, é um bom exemplo do que as smart cities podem ser: em tempo real conseguem dar a resposta para amanhã”. Paulo Duarte diz que este exemplo pode ser aplicado nas diversas áreas existentes num município, como a mobilidade e a economia.
"Uma das situações que nós temos de ter atenção é que a cidade não é apenas município, a cidade é maioritariamente privada”
Vítor Pereira, CEO da Zoom Global Smart Cities, mencionou algumas das cidades mais avançadas no que diz respeito a este tema, em Portugal, como Guimarães e Famalicão, destacando o desafio da regulação que impede o setor privado de contribuir plenamente para o desenvolvimento desta área. “Temos um problema de regulação que não permite que o espaço público dê oportunidades a empresas de, efetivamente, tirarem partido daquilo que pode ser um bom negócio para criar a cidade, emprego e atrair mais pessoas. Uma das situações que nós temos de ter atenção é que a cidade não é apenas município, a cidade é maioritariamente privada”, diz.
Apesar dos desafios ainda existentes ao desenvolvimento das smart cities, em Portugal, há quem considere que Portugal tem vários fatores para se tornar numa smart nation. Joaquim Castro Ferreira diz que em certa medida, Portugal já se insere nesse cenário. No entanto, ainda existe um longo caminho a percorrer. “Quando começámos a fazer a instalação de sensores e a medir a cidade, a parte mais difícil foi a eletricidade. Se eu pudesse dar um conselho aos municípios seria que deixassem condutas livres para passar cabos e instalar sensores”, refere.
Olhando para o contexto global, Paulo Duarte diz que falta a Portugal criar histórico de dados. Na sua opinião é preciso “garantir que os dados fiquem na posse dos municípios”, pois só desta forma será possível tomar melhores decisões e responder às necessidades dos cidadãos.
Economia circular: que futuro?
A economia circular foi discutida por Carla Coimbra, diretora da Unidade de Planeamento e de Desenvolvimento Regional da CCDR Centro, que explicou como este modelo oferece uma alternativa ao paradigma linear, promovendo o reaproveitamento de materiais e tornando os processos mais sustentáveis.
Carla Coimbra mencionou um conjunto de iniciativas que já se estão em desenvolvimento no território e o Pacto Institucional para a Economia Circular, que envolve empresas e entidades públicas numa agenda comum para implementar práticas de circularidade. “Do lado da CCDR divulgamos informação, criamos redes de aprendizagem e as entidades têm o compromisso de introduzir nas suas atividades ações de economia circular”. Já tiveram duas edições, a última em novembro de 2023, que ainda está em desenvolvimento e conta com 100 entidades com 240 ações.
"A região centro tem um ecossistema muito favorável para esta transição de economia circular. Quer as universidades, quer os institutos politécnicos têm projetos muito interessantes com ligação às empresas, na tentativa de resolver alguns problemas”
“A região centro tem um ecossistema muito favorável para esta transição de economia circular. Quer as universidades, quer os institutos politécnicos têm projetos muito interessantes com ligação às empresas, na tentativa de resolver alguns problemas”, explica. No entanto, existem alguns desafios que ainda se colocam à economia circular, como o custo elevado de algumas soluções sustentáveis. “A empresa tem que fazer o diagnóstico, perceber no seu modelo o que é que é importante e o que é possível introduzir na economia circular de sustentabilidade no seu processo”, explica.
Para o futuro, a especialista destacou a importância de novos materiais e tecnologias, como a digitalização para a rastreabilidade dos produtos, o ecodesign, e a Internet das coisas como tendências que podem transformar a economia circular.
Incentivos às empresas e ao desenvolvimento regional
O IAPMEI desenvolveu um algoritmo – O MAP – em colaboração com a Autoridade Tributária e o Banco de Portugal, que é um instrumento de análise grátis que as empresas podem utilizar para pensar a sua estratégia. “No fundo faz uma análise dos dados económico-financeiros em diversas vertentes, tendo em conta a área de atividade”, diz Gisela Esteves, técnica do IAPMEI Leiria.
Relativamente ao panorama empresarial da região, a especialista dá destaque para a dificuldade das exportações de alguns produtos. “Recentemente, estava numa empresa que faz embalagens de plástico para a indústria química e, apesar de estarmos numa região de moldes, percebi que os moldes para aquele tipo de produto não são feitos em Portugal, mas sim em Taiwan”, explica. Porém, Gisela Esteves diz que existem muitas oportunidades, nomeadamente, “muito mercado na substituição de importações”.
Jorge Brandão, vogal executivo do Centro 2030, salienta a importância dos instrumentos de financiamento das empresas no contexto da política de coesão, classificando-os como “uma oportunidade muito significativa para as regiões, territórios e, em particular, para as empresas”. No entanto, deixa um conselho: “O ponto de partida não deve ser o facto de existir um financiamento disponível, mas sim uma ideia clara em relação ao seu trajeto futuro”, explica.
Relativamente à adesão a este tipo de incentivos financeiros, Jorge Brandão diz que é muito significativa e afirma existirem mais projetos do que verbas, o que considera ser um sinal extremamente importante.
Apesar de ser da opinião que existem imensos apoios para a indústria, Horácio Mota, presidente da Associação Comercial e de Serviços de Pombal, refere que o mesmo não acontece no setor comercial. “O setor comercial sempre foi esquecido relativamente a estes apoios. A inovação da indústria é importante, mas não nos podemos esquecer que é importante que o comércio seja moderno e atraia pessoas, caso contrário, as smart cities não têm interesse”, afirma.
Sobre este tema, Gisela Esteves diz que o PRR prevê a abertura dos bairros comerciais digitais e que estão a avançar em várias zonas. Além disso, a responsável do IAPMEI de Leiria diz existir ainda as aceleradoras de comércio digital, um incentivo que contempla vários vouchers monetários para a modernização digital destas empresas.
Pombal como “centro natural do investimento”
Pedro Pimpão, presidente da Câmara Municipal de Pombal, apresentou a agenda de desenvolvimento e atração de investimento – Invest Pombal – e desafiou a comunidade local a participar na construção desta agenda. O presidente destacou que Pombal possui uma história rica em empreendedorismo e que o território já é reconhecido pela sua dinâmica empresarial. “Temos uma história. Se hoje somos reconhecidos como um território com muitas empresas é porque houve muitos empresários que apostaram em Pombal”, afirma.
De acordo com o presidente, o município procura consolidar-se como um polo atrativo para empresas, oferecendo condições ideais para o crescimento e o investimento sustentável.
A Câmara lançou um plano estratégico em 2022, que visa estruturar as bases do desenvolvimento do concelho para a próxima década, em parceria com o setor privado e várias instituições. Essa estratégia tem como foco tornar Pombal mais competitivo e digital, adaptando o município às exigências da economia moderna e alinhando-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.
Pedro Pimpão destacou a centralidade geográfica de Pombal como um ativo valioso, com acessos estratégicos por rodovia e ferrovia, facilitando a ligação a várias regiões de Portugal. “Este posicionamento permite assumirmo-nos como um centro natural do investimento”, refere.
Sublinhou ainda a importância de investir na qualidade de vida, mencionando os esforços da autarquia em oferecer serviços de saúde de qualidade, apoio ao desporto e atividades culturais regulares. “Vamos ter três unidades de saúde novas, são 10 milhões de euros de investimento”, afirma.
O presidente reforçou que o plano não se limita ao papel, destacando que a Câmara tem implementado efetivamente as ações previstas, com uma taxa de concretização de 86% para 2024. Entre as metas para os próximos anos, está a expansão das áreas industriais para atrair novos negócios.
“Nós temos empresas Pombalenses espalhadas pelo mundo inteiro. E também temos Pombalenses cá, que fruto da sua atividade, têm várias atividades ou têm vários posicionamentos a nível internacional. E é por isso que nós temos que pegar nessas pessoas, assumi-los como embaixadores da nossa economia para poderem falar onde vão como se fossem o Presidente da Câmara”, diz.
O presidente da Câmara Municipal de Pombal deixa o apelo para que seja comunicado e promovido o trabalho que tem vindo a ser feito. “Temos de promover o nosso território e os nossos empresários”, apela.
Um país mais justo, competitivo e coeso
Para encerrar o primeiro Forum Invest Pombal, Hélder Reis, Secretário de Estado do Planeamento e Desenvolvimento Regional, abordou múltiplas dimensões do desenvolvimento, com um discurso centrado no progresso económico e coesão regional. Hélder Reis destacou a importância da política de coesão e dos fundos europeus para reduzir as disparidades regionais e promover uma distribuição equitativa da riqueza em Portugal.
“O desenvolvimento económico não se limita ao aumento do produto interno bruto, nem à sua distribuição pela população, ele inclui também melhorias em áreas como a saúde, capital humano, infraestruturas físicas e tecnológicas, equidade social, coesão territorial, liberdade económica, sustentabilidade ambiental e social, entre outras”, explicou.
A política de coesão europeia e os fundos comunitários, responsáveis por múltiplos avanços infraestruturais, foram destacados como cruciais para o desenvolvimento nacional.
Hélder Reis salientou também que “o sucesso de uma União Europeia mais ampla e inclusiva dependerá de uma política de coesão que seja robusta, flexível e orientada para resultados capazes de promover uma Europa verdadeiramente unida e equitativa”.
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