Francisco Pedro Balsemão admite entrada de novos acionistas na Impresa
A sustentabilidade do setor dos media foi o tema central no debate que juntou, no congresso da APDC, os líderes da Impresa, MediaLivre, RTP e Media Capital.
Francisco Pedro Balsemão, CEO do grupo Impresa, admitiu esta terça-feira a entrada de novos acionistas no grupo. “Não estamos fechados à entrada de entidades ou pessoas de fora. Se for uma relação win-win, não fechamos essa porta“, afirmou no 34.º Congresso da APDC, no painel “Debate da Nação dos Media”, que juntou ao início da tarde os administradores dos quatro grupos de media com televisão.
Balsemão lembrou, no entanto, que a entrada e saída de acionistas não tem sido inédita ao longo dos anos. A venda do edifício, inscrita no plano de reestruturação do grupo e em vias de se concretizar, também foi abordada. “É gestão financeira”, resume o responsável.
Com os quatro responsáveis de acordo quanto às ameaças ao setor – como a quebra das receitas de publicidade, a fragmentação do consumo e a concorrência, quase desregulada, das plataformas internacionais, às quais se junta agora a forma como os sistemas de IA utilizam os conteúdos dos media –, Luís Santana, CEO da MediaLivre, apontou a diminuição de receitas como o principal problema dos media.
“A maior dificuldade é conseguir ter receitas estabilizadas. Há muito tempo que a perda é efetiva”, referiu o responsável pelo grupo dono da CMTV e do Now. “Quem tem papel ainda sente mais, porque para além das receitas de publicidade há quebra na circulação”, descreveu. Mesmo assim prossegue, fazer jornais continua a ser rentável.
“Não temos produtos que não tenham margem de contribuição positiva para os resultados do grupo. Se existem, é porque têm margem”, garantiu o administrador do grupo também dono do Record ou da Sábado. “Temos sempre resultados positivos, desde o início. Estamos organizados desde sempre com uma equipa muito focada em resultados, cumprindo orçamentos e acreditando na criação de novas soluções e novos produtos”, acrescentou Luís Santana.
Começando por defender que o presente dos media é “sólido e estável”, com “a RTP bem financiada pelo Estado, mantendo os custos sob controlo, e os dois grupos privados maiores – Media Capital e Impresa – numa luta intensa e muito competitiva, numa guerra para oferecer o melhor conteúdo” e ainda “o grupo Medialivre impulsionado pelos acionistas e em crescimento“, Pedro Morais Leitão, CEO da Media Capital, não se mostrou tão otimista quanto ao futuro.
“O futuro está ameaçado pelas tendências de mercado. Como a IA, que está a normalizar-se nos grupos de comunicação social. A preocupação tem a ver mais com a publicidade digital, onde sempre tivemos mais dificuldades em concorrer. Esta guerra parece estar a travar-se entre as gigantes mundiais da IA, o que cria uma preocupação grande, pois é uma guerra que afeta o mundo da comunicação social em termos globais. Estamos atentos aos que os demais grupos estão a fazer, mas o que pedimos à CE e ao Governo é para estarem particularmente atentos, para evitar o caminho das pedras que já seguimos com os motores de busca“, alertou o responsável do grupo dono da TVI, da CNN Portugal ou da Plural.
Com a Impresa em reestruturação e a RTP a “enxugar a casa”, como descreve o presidente do grupo, Nicolau Santos, Pedro Morais Leitão lembrou que a Media Capital é proprietária de um ativo, a TVI, “que já faliu duas vezes” – no início, quando era da Igreja, e antes de ser vendida a Mário Ferreira.
“O facto de termos passado por isso cria uma grande consciência de que é preciso estar permanentemente a pensar em reestruturações, para não acontecer outra vez”, referiu.
“O grupo está a pagar dividendos regularmente, temos feito aumentos ao pessoal e acreditamos que estamos a contribuir para a sociedade. Temos a preocupação de o fazer num horizonte a cinco anos e é aí que começamos a ficar preocupados. A nova vaga tecnológica da IA, num mundo mais global e aberto, terá um impacto muito mais rápido. Temos de estar particularmente atentos, porque o tempo de reação tem de ser muito mais rápido. Não podemos demorar 20 anos a criar uma lei de proteção dos direitos de autor no digital”, reforçou.
Na RTP, que na última semana foi notícia pela demissão do diretor de informação e eliminação de 11 direções, Nicolau Santos frisa que não está em curso uma reestruturação, mas “um novo organograma e um novo olhar para a empresa”.
“Tínhamos a estrutura pesada, grande. Na RTP as coisas não podem ser feitas muito de repente“, diz inclusive sobre o plano de rescisões voluntárias, que termina esta terça-feira e se salda pela saída de 97 funcionários”. Agora, para saírem mais 47 – que pretendem aderir –, é preciso nova autorização da tutela e também um financiamento de 2,4 milhões de euros.
“O plano [de rescisões] não teve luz verde com o Governo socialista, só no anterior Governo”, recorda, lembrando também que a tutela da comunicação social passou dos Assuntos Parlamentares para a Presidência, para mais próximo do primeiro-ministro.
“Não sabemos o que o novo ministro pensa do Plano de Acão para os Media. Precisamos de atualizar a legislação do setor – é fundamental que tal aconteça. Até agora, as ideias que surgiram em outubro de 2024 ainda não avançaram“, apontou o presidente da RTP, empresa que este ano, pela primeira vez em 15, terá “resultados significativamente negativos“, mas em 2026 espera voltar a resultados positivos.
Apesar de todas as dificuldades e desafios, a nota final foi positiva. “Os media são um negócio de futuro. Temos de ter consciência de todas as dificuldades, mas temos uma da indústria das mais sexys. E ainda bem que tem futuro, a democracia tem muito que ver com a vitalidade de que os media beneficiam”, concluiu Luís Santana.
(atualizada às 16h15)
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