Autárquicas em Matosinhos. Oposição tenta acabar com domínio socialista
Numa Câmara onde o socialismo governou décadas seguidas, à exceção de um mandato, os partidos da oposição tentam de tudo para quebrar o ciclo. Será que conseguem destronar Luísa Salgueiro?

Durante 29 anos, a Câmara de Matosinhos foi reino do histórico ‘dinossauro’ autárquico Narciso Miranda (PS) e continua até aos dias de hoje na hegemonia socialista, à exceção do mandato 2013-2017 – em que foi liderada pelo independente Guilherme Pinto. Com um legado de peso socialista, será que os partidos de oposição conseguirão destronar a atual presidente Luísa Salgueiro que concorre ao terceiro mandato nas próximas autárquicas?
A luta promete ser renhida com cada um dos candidatos a lançar a melhor cartada para convencer o eleitorado. A habitação surge à cabeça das promessas de grande parte deles que acenam ainda com melhores transportes, enquanto o Chega vai a jogo com a promessa de combater da corrupção.
Além de Luísa Salgueiro pelo PS entram na corrida às autárquicas para Matosinhos o advogado Bruno Pereira pela coligação PSD/CDS, o vereador da CDU José Pedro Rodrigues e o ex-socialista e vereador independente António Parada pelo Chega. Candidatam-se ainda o ex-presidente do grupo parlamentar do Bloco de Esquerda (BE) Pedro Filipe Soares e o economista Filipe Garcia pela Iniciativa Liberal (IL).
Comecemos pela atual autarca Luísa Salgueiro, o grande trunfo do PS, que se prepara para cumprir o terceiro e último mandato à frente do município matosinhense, onde garante ter provas dadas para convencer o eleitorado. E não só. Aos 57 anos, Luísa Salgueiro lança um naipe que lhe dá vantagem em relação aos seus opositores: tem caminho feito e deixará depois legado na Associação Nacional dos Municípios Portugueses (ANMP) que lidera desde 12 de dezembro de 2021.
Nesta associação defensoras dos interesses das câmaras do país, a mulher do Norte mostrou a garra de que é feita para defender os interesses das autarquias de todo o país em dossiers de acordos difíceis, como a descentralização de competências e a lei das finanças locais.
Agora a jurista tem outra batalha pela frente com os seus adversários para se manter na cadeira do poder do Paços do Concelho onde quer dar continuidade ao trabalho que tem vido a fazer há oito anos. Ex-deputada e ex-vereadora do histórico ‘dinossauro’ autárquico Narciso Miranda, Luísa Salgueiro foi vereadora da Câmara de Matosinhos entre 1997 e 2009, deputada no Parlamento, entre outros cargos na política.

Para acabar com anos de domínio socialista e destronar o PS do poder, o PSD/Matosinhos aposta, pela primeira vez, numa recandidatura. A escolha recaiu, assim, no advogado Bruno Pereira, vereador sem pelouro desde 2017, conhecedor dos cantos da casa. Foi candidato pela primeira vez nas eleições autárquicas de 2021, obtendo 17,25% (12.015 votos) e agora vai a votos em coligação com o CDS-PP.
Ex-líder da Concelhia de Matosinhos do PSD entre 2017 e outubro de 2024, Bruno Pereira vai novamente a jogo e promete implementar políticas municipais destinadas às pessoas e ao seu bem-estar “sem desbaratar milhões de euros dos impostos em más políticas públicas”.
No que toca a dinheiros públicos, os social-democratas não pouparam nas críticas e até no recurso à sátira para, durante este mandato, apontar o dedo a Luísa Salgueiro. Espalharam cartazes por vários pontos do concelho onde a atual presidente surgia caricaturada em cima de um avião da TAP com uma maçã numa das mãos e na outra uma boia. Criticavam a autarca “por estar constantemente ausente”, acusando-a de “passar metade do ano fora” e de ter gasto 253 mil euros em viagens e hotéis em 2023.
O episódio gerou troca de galhardetes entre o vereador e a presidente do município, pois a reação da socialista não se fez esperar, afiançando que a mensagem era falsa e difamatória, indo mais longe: “Não andamos a fazer turismo”.
Na apresentação da sua candidatura, Bruno Pereira, 40 anos, lançou igualmente mais farpas a Luísa Salgueiro, acusando-a de não ter feito uma única obra em oito anos e de governar a câmara a pensar na sua autopromoção.

Já a CDU repesca José Pedro Rodrigues, 47 anos, que assumiu, entre 2013 e 2021, os pelouros dos Transportes e Proteção Civil, e que aposta todas as fichas na melhoria dos transportes públicos e na criação de novas soluções para a habitação. O seu primeiro mandato, de 2013 a 2017, foi sob a liderança do socialista Guilherme Pinto que ganhou as eleições como independente, enquanto o segundo mandato (2017 e 2021) já foi sob os comandos de Luísa Salgueiro à frente da autarquia.
Da habitação ao combate à corrupção, os trunfos dos candidatos
Mais à direita, o Chega leva ao colo o dissidente socialista António Parada, de 57 anos, diretor técnico, ex-socialista e que foi por duas vezes vereador independente. Quer combater a corrupção e fazer uma boa gestão dos dinheiros públicos, e numa Câmara que, a par do município de Lousada, foi considerada a mais transparente do país pelo segundo ano consecutivo, segundo a plataforma internacional Dyntra – Dynamic Transparency Index.
Numa entrevista ao JN, o antigo líder do PS/Matosinhos acusou a atual autarca de “desperdício de dinheiro em todo o concelho, com obras mal planeadas”.
Sob o lema “Transformar Matosinhos”, o economista Filipe Garcia concorre a solo pela IL ao contrário do que sucede nas candidaturas do partido às câmaras do Porto e de Vila Nova de Gaia, onde se coligou com o PSD e CDS-PP. Filipe Garcia acena com a simplificação de serviços, reduzindo burocracia, além de prometer ruas limpas e seguras. Também tenciona escrutinar os gastos públicos e aliviar a carga fiscal.
Na corrida à Câmara de Matosinhos, cada candidato lança, assim, a melhor cartada que tem. A socialista Luísa Salgueiro, que joga em casa, usa o trunfo da habitação. A atual autarca até desafiou o Governo de Luís Montenegro a avançar com a experiência piloto do concelho assente no investimento em cooperativas como forma de combater a crise na habitação.

Durante a apresentação da sua candidatura, Luísa Salgueiro considerou “imperioso voltar ao modelo assente no trabalho das cooperativas de habitação económica”, adiantando já ter “terrenos prontos para entregar para as cooperativas avançarem com mais uma leva de construção de fogos para responder às necessidades da população”.
A habitação também faz parte das promessas do candidato do PSD/CDS-PP. Se ganhar, avança com uma nova geração de cooperativas habitacionais e habitação municipal para arrendar a funcionários públicos deslocados. Pretende ainda criar um campus universitário no concelho, ampliando o polo da Asprela até São Mamede de Infesta.
Igualmente o ex-presidente do grupo parlamentar do BE lança a cartada da política de habitação cooperativa e promete desincentivar a especulação imobiliária, construindo e reabilitando mais casas públicas. Pedro Filipe Soares lamenta que “Matosinhos seja um dos concelhos do país onde a habitação é mais cara”.
Sob o lema “Matosinhos, uma Casa, uma Causa”, o ex-deputado elege ainda como prioridades os transportes públicos, exigindo que a rede Unir cumpra horários. Se ganhar, haverá mais espaços verdes e melhores serviços públicos.
O atual executivo é constituído por sete eleitos do PS, um do PSD, um independente, um pelo movimento António Parada Sim! e um da CDU. As eleições autárquicas vão decorrer no próximo dia 12 outubro.
Em 2021, o PS ganhou as eleições autárquicas em Matosinhos com 30.373 votos (43,62%) e conquistou sete mandatos, a coligação PSD/CDS obteve 12.015 votos (17,25%) e dois mandatos (entretanto um passou a independente), o movimento António Parada, Sim! 6.873 votos (9,87%) e um mandato e a CDU 4.580 votos (6,58%) e um mandato.
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