Depressões e tempestades: lançado o alerta meteorológico, o que se segue?

IPMA lança alertas à população e dá bases para as decisões da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil ou da proteção civil municipal. Contudo, não é líquido que haja acionamento de meios.

O continente e a Região Autónoma da Madeira têm estado nestas quinta e sexta-feira numa intermitência de alertas amarelo, laranja e até vermelho, mas entre os avisos do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) e o arranque da máquina da proteção civil nacional ou municipal não há uma ligação direta.

Haver alerta do IPMA “não significa que correspondam no terreno a situações de intervenção”, salienta ao ECO/Local Online o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses. Em situações como as vividas nestes dois últimos dias, “depende muito dos locais onde a concentração de chuvas ou ventos se faça”, explica António Nunes.

Por seu lado, a porta-voz da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) assegura que a comunicação com o IPMA é constante e, no que concerne ao caso específico desta semana, salienta o aviso emitido à população.

Este aviso é datado de dia 11, terça-feira e indica que, “de acordo com a informação” do IPMA, se previa “para os próximos dias, um agravamento do estado do tempo em Portugal continental devido à depressão Cláudia com precipitação persistente, por vezes forte, vento e agitação marítima, salientando-se: precipitação persistente, por vezes forte e acompanhada de trovoada, na generalidade do território”. Vento e agitação marítima eram expectáveis, alertava a ANEPC.

Muitas vezes, o IPMA dá alerta para um distrito, mas Setúbal, por exemplo, começa no Tejo e acaba em Sines. Muitas das vezes, o que se passa em Setúbal ou no Montijo não tem nada a ver com Alcácer do Sal ou Santiago do Cacém. A informação tem de ser tratada pela ANEPC, que difunde para corpos de bombeiros os locais mais complexos e qual o nível

António Nunes

Presidente da Liga dos Bombeiros de Portugal

As precauções sugeridas, vistas ao dia de quinta-feira, anteviam praticamente todos os efeitos que se foram sentindo, embora se possa questionar o aviso feito na terça-feira e a ausência de nova comunicação na quarta-feira, quando já se sabia da elevação de vários distritos a situação de alerta laranja. A somar a isto, o alerta de dia 11 é feito nos exatos mesmos moldes que os dois anteriores, de dias 4 de novembro e 30 de outubro: “Precipitação, vento e agitação marítima”.

Os “efeitos expetáveis” apontados no dia 11 foram ao encontro do verificado dois dias após o aviso: “ocorrência de inundações em zonas urbanas”, “ocorrência de cheias, potenciadas pelo transbordo do leito de alguns cursos de água, rios e ribeiras”, “movimentos de massa (deslizamentos, derrocadas e outros)”.

Através das redes sociais, a proteção civil municipal do Montijo alertou a população na quarta-feira, salientando a previsão dos problemas sentidos ao longo de quinta-feira. A nível de orgânica, a ANEPC responde ao Ministério da Administração Interna e o IPMA é um Instituto Público com atribuições conferidas pelo Ministério da Agricultura e Mar, em coordenação com os ministérios da Educação, Ciência e Inovação, e do Ambiente e Energia. Desde 2017, o IPMA passou a integrar competências do Instituto de Meteorologia, do Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos, do Instituto Nacional de Recursos Biológicos e de parte da competência de geologia marinha do Laboratório Nacional de Energia e Geologia.

Com as valências que lhe são inerentes, o IPMA emite alertas não só de temperatura, chuva e vento, mas também para o estado do mar e a apanha de bivalves na costa, por exemplo.

Apesar disto, a determinação de medidas no terreno cabe à ANEPC e às autoridades municipais de proteção civil.

“O IPMA traduz um aviso à população”, “tem função informativa e, acima de tudo, tem a ver com sensibilização das populações para um conjunto de medidas”, salienta António Nunes, exemplificando com “condução com maior precaução, limpeza de sarjetas, em leito de cheias tirar haveres”, exemplifica António Nunes.

Perante os avisos do instituto, cabe à ANEPC analisar as situações que justifiquem acionamento de meios. “Em Lisboa, por exemplo, toda a gente sabe que o aviso laranja ou encarnado do IPMA tem muito a ver com a altura ou quantidade de água do Rio Tejo”, explica o presidente da Liga de Bombeiros.

No caso do distrito de Setúbal, que esteve sob alerta vermelho, a sua geografia estende-se da margem esquerda do Tejo até Sines, salienta António Nunes, pelo que “muitas das vezes, o que se passa em Setúbal ou Montijo não tem nada a ver com Alcácer do Sal ou Santiago do Cacém”, realça.

IPMA é o mensageiro e a Proteção Civil o comandante das tropas

Embora sirvam de mapeamento para a ANEPC, as indicações do IPMA não se traduzem em imediato avanço das entidades de proteção civil. Primeiro, é necessária a intervenção da ANEPC.

“Os alertas que têm a ver com previsões meteorológicas determinam, da parte da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil a mobilização preventiva dos meios dos bombeiros e outros agentes de proteção civil, para responder a eventuais urgências”, explicita António Nunes.

A cadeia de resposta começa na Proteção Civil nacional e depois na municipal, sendo o principal responsável das forças de resposta a nível de cada concelho o respetivo presidente da Câmara Municipal.

Neste ponto, no Montijo, distrito de Setúbal, uma das zonas mais afetadas pela depressão Cláudia nesta quinta-feira e sujeito a um alerta vermelho do IPMA surgido já de madrugada, a Proteção Civil Municipal entrou em prontidão à meia-noite, avança a porta-voz da autarquia ao ECO/Local Online. No terreno estiveram logo “equipas dos setores de Jardins, Higiene Urbana e SMAS mobilizadas para garantir a resposta imediata a eventuais ocorrências”, diz. “Por volta das 7h00 da manhã”, a Câmara “recebeu o alerta vermelho por condições meteorológicas adversas”, esclarece.

Nesta sexta-feira, a autarquia do Montijo alerta para os problemas esperados para sábado. Na quinta-feira já tinha deixado a nota de medidas como o encerramento de escolas.

 

Uma hora depois, quando as notícias sobre inundações e perturbações provocadas pela depressão já circulavam, “foram também acionados os serviços do Parque Auto, Obras, Jardins e Higiene Urbana, reforçando o dispositivo municipal no terreno”, diz a porta-voz.

Noutro ponto do país, Viseu informou na quarta-feira que no dia seguinte os parques municipais estariam encerrados “por motivos de segurança” devido “à previsão de condições meteorológicas adversas e à emissão de alerta laranja para vento forte e chuva persistente”.

Também Loures avisava na quarta-feira que “de acordo com o aviso meteorológico emitido pelo IPMA, entre hoje, dia 12, e a próxima sexta-feira, 14 de novembro, o concelho de Loures vai estar sujeito a precipitação forte, persistente, e vento com rajadas que podem atingir os 80 quilómetros por hora”.

A autarquia apontava “preocupação especial para o Aviso Laranja do IPMA para Precipitação, entre as 21h00 de hoje [quarta-feira] e as 9h00 de amanhã, dia 13”.

A sul, numa região que continua sob aviso laranja, a Câmara de Olhão alertou a população para as agruras do temporal através das redes sociais. No aviso de quarta-feira indicava que o IPMA “prevê, para os próximos dias, um agravamento situação, que vai trazer chuva forte, trovoada e agitação marítima”, enumerava os “avisos para a região” e deixava indicações à população.

O acionamento de meios é determinado pela ANEPC e pelos serviços de proteção civil municipais

Para a tarde de sexta-feira, o IPMA prevê o continente pintado a amarelo. Contudo, como salientou na quinta-feira o porta-voz da ANEPC, Cláudia veio para passar o fim-de-semana em Portugal. Em algumas localizações, já se lançam alertas para novo agravamento do tempo.

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