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A próxima edição do jornal i será toda feita pelo ChatGPT

Rafael Ascensão,

O objetivo da iniciativa passa por perceber se o jornalismo tem no ChatGPT um concorrente a sério, ou não, explica Mário Ramires, diretor do jornal.

 

A próxima edição do jornal i – que chega às bancas na terça-feira – será assim feita na íntegra através do ChatGPT. “É um desafio”, disse Mário Ramires ao +M.

Segundo o diretor do jornal, o jornalismo online em vários sítios já é feito através de computadores e algoritmos, que recebem as notícias colocadas na internet e divulgam as que consideram válidas. Agora a inovação será “não ter a intervenção de jornalistas. Ver se é possível um editor fazer um jornal sem jornalistas, com as notícias do dia, as notícias do mundo, do país, das várias áreas – economia, desporto, sociedade, política, cultura. Vamos ver se é possível, vamos ver o que é que sai“, explicou ao +M.

É essa a experiência e o desafio que temos, saber se o futuro também passa por aí, se o jornalismo tem já um concorrente a sério ou não, é esse o objetivo“, prossegue Mário Ramires, adiantando que a plataforma de inteligência artificial já escolhe “tudo”, desde as fotografias e os títulos até à capa.

As preocupações do setor da comunicação – e não só – quanto ao desafio que o ChatGPT representa são várias, mas o diretor do i não acredita que esta e outras experiências possam trazer consequências nefastas para o jornalismo, defendendo a importância crescente do jornalismo de autor.

“Desde há muitos anos, já há umas décadas largas, defendo muito o jornalismo de autor. Chega-nos informação de todo o lado, por vários meios, quase em tempo real – as coisas estão a acontecer e as notícias a sair – e cada vez mais eu acredito que a qualidade e o valor da informação está em quem a seleciona, na credibilidade de quem a selecionada e na capacidade também de análise e crítica“, disse o diretor do jornal agora nas bancas semanalmente às terças-feiras.

O jornalismo hoje – e sempre foi – é um contrapoder de escrutínio aos poderes, ao serviço da sociedade e dos leitores. Por isso mesmo é muito importante que esse crivo se faça com pessoas que tenham bom senso, que se decidam e cumpram com as regras e os deveres deontológicos. Eu costumo dizer que falta sangue nos computadores, falta essa dose de emoção que também faz as notícias, falta essa dose de convicção que também faz a informação. E isenção, se não, temos jornalismo anónimo sem mais valia para os leitores e para o público em geral”, considera o até junho proprietário do título.

Entretanto já foram feitos testes com o ChatGPT em antecipação à próxima edição do jornal i. Destes resultaram “coisas engraçadas”. “Acho que vai ser curioso”, perspetiva Mário Ramires, que acrescentando que não se deve recear o progresso. “O progresso traz-nos sempre mais oportunidades. Se tivermos um sentido crítico, as coisas são sempre para contribuir para uma melhor sociedade. É isso que se pretende”, conclui.

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