Balsemão crítica lentidão do país e termina discurso com poema escrito pelo ChatGPT

"Portugal está lento e sonolento", caracteriza Francisco Pinto Balsemão, que recebeu esta quarta-feira o doutoramento Honoris Causa pela Universidade Lusófona. O discurso terminou com um poema.

“O mundo está feio, belicoso, desconfiado”, “Portugal está lento e sonolento” e um poema. Ou melhor, “um pequeno texto a dar os parabéns ao Jornal Expresso que faz 50 anos no estilo de Luís de Camões”, escrito pelo ChatGPT, como exemplo do que pode fazer a inteligência artificial.

Foram estes os três temas abordados pelo antigo primeiro-ministro Francisco Pinto Balsemão, fundador da SIC e do Expresso, no discurso de agradecimento do Doutoramento Honoris Causa atribuído esta tarde pela Universidade Lusófona.

Não se pode dizer que Portugal esteja mal. Mas tão pouco se pode dizer que Portugal está bem. Portugal está lento e sonolento“, diz Balsemão. “‘Parece que estás a dormir!’ é uma reprimenda que se ouve nas empresas, quando um funcionário se atrasa ou é incompleto no cumprimento das suas tarefas”, refere, para dizer que “tudo demora no nosso país. Principalmente o que depende do Estado, seja dos ministérios, das câmaras, das freguesias, seja dos tribunais ou do Ministério Público, seja das inúmeras comissões e/ou grupos de trabalho que vão sendo criados e tantas vezes se eclipsam ou desaparecem sem terem chegado a conclusões concretas e exequíveis”.

A lentidão não é de agora, recorda, mas “não se compreende que a coexistência de um Governo maioritário e de um Presidente da República interveniente não consigam dar largos passos na boa direção”, diz enumerando, a título de exemplo, a demora dos tribunais nos casos de José Sócrates ou Ricardo Salgado, ou que as autarquias “demorem anos” a pronunciar-se sobre projetos de interesse local ou que “o país esteja polvilhado de comissões, institutos, juntas e outras instituições cujos pareceres são indispensáveis para que uma simples decisão seja tomada”.

"Das bem organizadas máfias da droga ou do tráfico de pessoas às agências de rating, passando pelos grandes fundos de investimento, pelos Google ou pelos Meta (ex-Facebook), e tendo como pano de fundo que, em virtude da prioridade atribuída à segurança em detrimento da liberdade, são cometidos – estão, neste preciso momento, a ser cometidos – atropelos à liberdade”

Francisco Pinto Balsemão

Talvez em muitos destes indesculpáveis atrasos um robot, bem treinado e educado, seja mais eficaz”, refere com ironia, para passar ao tema inteligência artificial. “Estou plenamente convencido de que a nossa educação, o nosso trabalho, a nossa vida serão alterados por uma quase obrigatória convivência com robots, que falam ou escrevem e nos ajudam e acompanham no dia a dia”, refere o fundador do Expresso, acrescentando que surgirão problemas novos, alguns dos quais relacionados com o ensino, para os quais será preciso encontrar soluções.

Para terminar a intervenção, Francisco Pinto Balsemão recitou um poema. Ou melhor, “um interessante, mas inquietante poema robótico-camoniano”, escrito pelo ChatGPT, a quem foi pedido “um pequeno texto a dar os parabéns ao Jornal Expresso que faz 50 anos no estilo de Luís de Camões”.

Francisco Pinto Balsemão começou a sua intervenção por dizer que “o mundo está feio e inquieto”. “O que se passa na Ucrânia veio revelar que a Rússia afinal tem ambições e não aceita um confinamento que parecia ser durável. A NATO, o Ocidente apoiam Zelensky, mas não querem envolver-se demasiado, parecendo preferirem recorrer a uma guerra por interposto país, cedendo material bélico e confiando no seu glorificado herói. Nos Estados Unidos, onde poucos são os assuntos acerca dos quais existe unanimidade de pontos de vista, corre-se o risco de as próximas eleições presidenciais serem disputadas entre dois octogenários“.

A China, América Latina, Paquistão, Mianmar, continente africano e ao Médio Oriente foram outras das geografias referidas, antes de chegar à União Europeia, que “insiste em manter a regra da unanimidade, que enfrenta a necessidade e a dificuldade do alargamento a vários Estados candidatos e que, por tudo isso, vai adiando o objetivo, para mim essencial, do federalismo”. “O mundo está feio, belicoso, desconfiado”, diz o chairman da Impresa, afirmando que “a democracia, que até agora foi, é, o sistema de governo mais justo e livre que o homem inventou, também não está em grande forma“.

Das bem organizadas máfias da droga ou do tráfico de pessoas às agências de rating, passando pelos grandes fundos de investimento, pelos Google ou pelos Meta (ex-Facebook), e tendo como pano de fundo que, em virtude da prioridade atribuída à segurança em detrimento da liberdade, são cometidos – estão, neste preciso momento, a ser cometidos – atropelos à liberdade”, diz Francisco Pinto Balsemão.

“Para que essa proteção e defesa da democracia seja eficaz, não podemos, por outro lado, esquecer que o paradoxo da tolerância continua por resolver: podemos (porque somos tolerantes) ser tolerantes com os intolerantes?”, questiona também o fundador do Expresso. “A minha resposta continua a ser não, embora possa haver diferentes graus de tolerância ou intolerância. O que sucedeu e continua a suceder no Afeganistão é um triste e bom exemplo”, diz.

Numa cerimónia na qual marcaram presença uma série de figuras públicas, da política à sociedade civil, Pinto Balsemão, hoje com 85 anos, destacou com especial orgulho a presença da sua mulher, filhos e netos. “A família é, para mim, que sou filho único, um esteio, um porto de abrigo e uma promessa de futuro que procuro cumprir todos os dias, deixando, mesmo que numa parcela ínfima, um mundo melhor do que aquele que encontrei, quando comecei a pensar e a agir pela minha cabeça”, salientou.

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