Media

Em 43,2% dos media ucranianos existe pelo menos um trabalhador a servir nas Forças Armadas

Rafael Ascensão,

9,3% dos OCS também indicaram que transferiram apoio dado por leitores para o esforço militar ou para ajudar habitantes de áreas localizadas em zonas da linha da frente do conflito militar.

Quase um ano e meio depois da invasão russa da Ucrânia, também os meios de comunicação locais se tiveram de adaptar à nova realidade. Um dos dados mais relevantes é que em 43,2% dos meios de comunicação locais existe pelo menos um trabalhador a servir nas Forças Armadas Ucranianas, sendo que a quase totalidade destes (95%) mantém o seu trabalho civil.

As equipas editoriais com funcionários a servir militarmente costumam inclusivamente fornecer assistência financeira através da compra de equipamentos militares e equipamentos de proteção individual.

Estes são alguns dos dados revelados no estudo “The State of Local News in Ukraine 2023”, da Ukraine’s Media Development Foundation, cujos inquéritos foram respondidos por 44 meios de comunicação – 39 de âmbito regional e cinco de âmbito nacional.

Entre os meios questionados, 63,6% disse ter mais trabalhadores atualmente do que tinha antes de a guerra estalar, enquanto 27,3% disse ter menos. Quatro equipas editoriais (9%) mantiveram o mesmo número de trabalhadores. No total, os meios de comunicação empregaram 109 trabalhadores durante o ano anterior às respostas, o que levou a um crescimento de cerca de 25%.

A perda de trabalhadores “chave”, no entanto, impactou 18,2% dos meios de comunicação, tendo as suas responsabilidades sido distribuídas entre os restantes funcionários. No total – entre jornalistas, editores, designers, gestores de redes sociais, comerciais, etc. – os 44 meios de comunicação analisados empregam 548 trabalhadores.

A falta de pessoal mantém-se como um problema urgente para a maioria dos media, com apenas oito dos meios inquiridos (18,2%) a dizer que tem os postos de trabalho criativos plenamente preenchidos. No que toca a jornalistas, alguns meios de comunicação não têm editores, sendo que correspondentes e jornalistas de investigação também são bastante procurados.

Metade destes meios disse que as suas subvenções por parte do Estado aumentaram mais de 50% desde o último inquérito (na primavera de 2022), sendo que apenas um meio de comunicação disse que o apoio diminuiu. Cerca de 22% dos inquiridos afirmou que se mantinha na mesma.

Através do inquérito foi ainda possível averiguar que 44,7% dos órgãos de comunicação social locais indicaram que com o seu orçamento conseguiam assegurar três meses de funcionamento em avanço, enquanto 26,3% disse que apenas conseguiria sobreviver até um mês de avanço (em 2022, este número era de 23%). 18,4% disse ter orçamento para seis meses e 10,5% para um ano.

Em média, 75% dos orçamentos destes meios são destinados aos salários dos trabalhadores e 22% a custos administrativos, como renda, viagens de trabalho, combustível ou comunicações.

Apenas 20,5% dos meios questionados disseram que pretendem gastar parte do seu orçamento em marketing, sendo que a média de valor a alocar a este setor por parte dos meios de comunicação é de 16% do orçamento total.

Segundo o relatório, 44,2% contam com apoio financeiro dado pelos leitores, o que acontece mais regulamente através do Patreon e menos através de Paypal, transferências bancárias ou assinaturas. 9,3% dos inquiridos referiu ainda o apoio não material por parte dos leitores, como sejam agradecimentos, mensagens pessoais e nas redes sociais ou participação em inquéritos.

9,3% dos meios de comunicação também indicaram que transferiram o apoio dado por leitores – adquirido através de angariações de fundos etc. – para as forças armadas ou para ajudar habitantes de áreas localizadas na linha da frente do conflito militar.

A quase totalidade dos inquiridos (cerca de 95%) disse que a guerra alterou a sua estratégia de produção de conteúdos, sendo notório um aumento na aposta em notícias. A guerra permanece como a principal fonte de conteúdos, com a maioria dos meios a dar conta de um aumento de conteúdos relacionados com informações da linha da frente, histórias de soldados, voluntários e migrantes, informações sobre armas ou obituários.

Os meios de comunicação maiores produzem cerca de 30 conteúdos diariamente e dispõem de um orçamento anual de dois a três milhões de hryvnia ucranianos (entre cerca de 50 mil e 76 mil euros).

De uma forma geral existe vontade para apostar na criação de mais conteúdos em formato vídeo, com 52,27% das equipas editoriais a referirem ter um desejo claro para apostar neste tipo de conteúdos. Dez dos inquiridos indicou que dispunha de um departamento de vídeo em separado ou que estava a trabalhar para estabelecer um.

Já quanto a podcasts, três equipas editoriais referiram ter começado a trabalhar em podcasts no último ano e sete mencionaram interesse em desenvolver conteúdos neste formato no futuro, aponta o estudo.

Cerca de 43,2% das equipas editoriais diz ter sido sujeita a pressões, em grande parte exercida pelas autoridades locais, as quais ameaçam os jornalistas ou ignoram os seus pedidos de informação, refere a Ukraine’s Media Development Foundation.

Segundo esta fundação, os meios de comunicação procuram ativamente fontes que permitam combater a desinformação mas encontram limitações na perseguição deste objetivo, como o acesso fechado a civis a determinadas zonas. Os meios de comunicação dispõem ainda de informadores dentro dos territórios temporariamente ocupados, mas estes correm sérios riscos de segurança, tendo os inquiridos relatado pelo menos um episódio recente de aprisionamento de um informador.

Devido à fuga das pessoas dos territórios temporariamente ocupados e do medo provocado através dos mecanismos de controlo das autoridades ocupantes, o número de informadores e de informação disponível diminuiu, fazendo com que as notícias de pequenas aldeias ou cidades escasseiem, revela o estudo.

A maioria (81,9%) dos meios de comunicação mantém os seus canais de comunicação exclusivamente em ucraniano. Uma pequena percentagem (9%) disponibiliza os sites tanto em ucraniano como em russo – principalmente na zona mais a Este – e outros 9% disponibilizam tanto em ucraniano como em inglês.

No entanto os meios que disponibilizam versões em russo decresceram significativamente em 2022 e 2023. Eram cerca de 25% os meios que em 2021 disponibilizavam versões em russo, mas logo após os primeiros meses de guerra esta percentagem caiu para 20%.

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