Marketing

Marca Portugal já ganhou com a JMJ, defendem especialistas

Carla Borges Ferreira,

A JMJ foi um evento que tinha muito para correr mal, mas acabou por superar até as melhores expectativas. Os ganhos de força e reputação da marca Portugal devem agora traduzir-se em ganhos económicos.

Momentos antes de começar a primeira missa da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), peregrinos de quase todos os países do mundo formaram uma mancha humana que se estendia do Parque Eduardo VII até ao Marquês de Pombal.Lusa

As contas da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) ainda estão por fazer e o retorno económico dificilmente será uma conta simples. Mas, em termos de reforço da marca Portugal, não parecem existir dúvidas de que a realização da JMJ foi uma aposta ganha. Do ponto de vista quantitativo ainda é prematuro apontar números, uma vez que a juntar ao período do evento é necessário acrescentar o eco do período pós-evento, nota Pedro Tavares, founder & managing partner da OnStrategy, consultora especializada na avaliação financeira, de estratégia e força de marcas.

Ainda assim, “considerando as quatro semanas que antecederam o evento e, em particular a semana do evento, há ganhos consideráveis na maioria das dimensões em avaliação“, adianta o responsável. Notoriedade, admiração, confiança, ambiente político, ambiente económico, ambiente social, valores, cultura, beleza e relevância internacional são os itens que já surgem reforçados.

Notoriedade, admiração, confiança, ambiente político, ambiente económico, ambiente social, valores, cultura, beleza e relevância internacional são dimensões já reforçadas.

Pedro Tavares

founder & managing partner da OnStrategy

Em 2022, de acordo com o estudo Country Brand, que avalia a força e reputação de Portugal, o país tinha uma força e reputação moderada para o público interno (62,7 pontos) e vulnerável para o público externo (57,9 pontos), mostrava o relatório da OnStrategy.

Na edição deste ano, que será lançada em setembro, os indicadores podem ser mais positivos. “Num primeiro momento, que antecede o evento, e no próprio evento, é o público interno o que mais é impactado e, como tal, o que mais influencia a força e a reputação da marca Portugal. O público externo, e neste caso não apenas os que participam no evento, começa a gerar a sua relevância no decorrer do evento e no período posterior ao mesmo, nas diferentes dimensões de avaliação“, refere Pedro Tavares.

Tal como os restantes especialistas ouvidos pelo +M, Pedro Tavares refere a Expo 98 e o Euro 2004 como eventos comparáveis à JMJ. “Esses eventos, beneficiaram da sua duração no tempo de ativação, tiveram impactos muito positivos e permitiram reforçar a força e reputação da marca Portugal, tanto para o público interno como externo“, recorda.

Durante a JMJ, Portugal foi notícia em todo o mundo. A cobertura noticiosa a nível internacional resultou, só no online, num total de 40.733 notícias. Os dados foram avançados pela Cision que, a pedido do +M, analisou o número de notícias publicadas sobre o tema.

Foi um evento que tinha muito para correr mal e que acabou por superar em grande escala a expectativa de todos os portugueses, promotores e detratores, analistas e comentadores.

Salvador da Cunha

CEO da Lift e fundador do Reputation Circle

EUA, Itália, Espanha, Alemanha, França, Brasil, Reino Unido, Argentina e Coreia do Sul (país que recebe a próxima JMJ) são as geografias onde o evento originou mais notícias.

Se havia algum país que ainda não tivesse ouvido falar de Portugal, com a JMJ, pessoas oriundas de 151 países ouviram falar. Estes jovens certamente voltarão a Portugal e todos os que não estiveram presentes têm mais razão para visitar“, acredita Marta Bicho, diretora do IPAM Lisboa.

Na última semana, Portugal provou então ter capacidade para receber e organizar eventos de grande envergadura e complexidade. Depois, e a título de exemplo, Marta Bicho acrescenta aspetos como as imagens que circularam do evento — por exemplo, do Parque Tejo, que reforçam a imagem positiva e a reputação de Portugal –, as infraestruturas disponíveis — desde o Parque Eduardo VII e Parque Tejo aos transportes –, a agenda do Papa, passando por vários locais, a participação e disponibilidade demonstrada também pela sociedade civil e mesmo a produção artística, com concertos e várias atividades a decorrer em simultâneo, que acrescentam valor.

Acima de tudo, a JMJ foi uma festa, onde se sentiu uma ´boa onda´, culminado pela mensagem do Papa. Não só demonstrámos que somos um país que sabe receber, como um país que mesmo num evento Católico sabe divertir-se, tal como o exemplo da participação do Padre DJ (Padre Guilherme) com o mix de música eletrónica. Embora, o objetivo fosse o encontro dos jovens de todo o mundo com o Papa, este foi um evento aberto a todos e de todos, quer estejam mais próximos ou mais distantes da Igreja“, reforça a diretora do Instituto Português de Administração e Marketing (IPAM).

A mensagem do Papa, no momento de despedida, vem alavancar mais uma razão para visitar Portugal: “Obrigado a ti, Lisboa, cidade de sonhos!”, disse o Papa Francisco. “E, dito isto, existe mais um mote que potencia o efeito da visibilidade da marca Portugal“, acrescenta Marta Bicho.

“Se havia algum país que ainda não tivesse ouvido falar de Portugal, com a JMJ, pessoas oriundas de 151 países ouviram falar. Estes jovens certamente voltarão a Portugal, e todos os que não estiveram presentes têm mais razão para visitar.”

Marta Bicho

diretora do IPAM Lisboa

Em resumo, afirma Salvador da Cunha, CEO da Lift e fundador do Reputation Circle, “foi um evento que tinha muito para correr mal e que acabou por superar em grande escala a expectativa de todos os portugueses, promotores e detratores, analistas e comentadores“.

O especialista em comunicação não tem dúvidas de que a reputação do país fica definitivamente reforçada. “Reforça Portugal e Lisboa como destino turístico e cultural internacional, reforça a imagem de Portugal como país organizado, civilizado e moderno. Reforça a imagem na área da segurança e da saúde. Reforça a reputação como um país acolhedor, simpático, com boa gastronomia, com boas condições de vida”, detalha. Estas dimensões e atributos, acrescenta, permitem também complementar perceções sobre uma imagem muito ligada ao turismo de verão. “Ou seja, Portugal deixa de ser apenas praia, golf e surf. Passa a ser muito mais do que isso…“, resume o fundador do Reputation Circle.

Os ganhos são maioritariamente intangíveis, mas não os julguem de menor importância, defende Sofia Almeida, coordenadora da área de Turismo e Hospitalidade da Universidade Europeia. “Se associarmos a estes ganhos imateriais a nossa diversificada oferta de produtos turísticos, o nosso clima, a segurança oferecida enquanto destino, concluímos que estamos a transformar-nos num destino muito competitivo”, conclui a responsável pela área de turismo da universidade.

Agora, terminado o evento, “numa visão conjuntural pretende-se que muitos (os suficientes, esperamos) coloquem o destino na sua shortlist de férias e nos visitem, num futuro próximo”. Numa estratégia a longo prazo, a JMJ fará parte “do património de um país hospitaleiro e, em conjunto com outras histórias e outros eventos, contribuirão de forma intangível para o fortalecimento da nossa reputação”. “Num sentido mais prático, esperamos que a JMJ contribuam, na sua medida, para aumentar o número de turistas que visitam Portugal“, resume Sofia Almeida.

Embora o retorno não seja no imediato mensurável, Pedro Tavares frisa que ganhos de força e reputação de marca devem traduzir-se em ganhos económicos. Neste caso, será, ou deverá ser, “por via de atração em visitar, estudar, trabalhar, investir no país e em comprar produtos e serviços nacionais”, detalha.

Se associarmos a estes ganhos imateriais a nossa diversificada oferta de produtos turísticos, o nosso clima, a segurança oferecida enquanto destino, concluímos que estamos a transformar-nos num destino muito competitivo.

Sofia Almeida

coordenadora da área de Turismo e Hospitalidade da Universidade Europeia

A reputação é um conjunto de perceções que se vai formando. Às perceções iniciais vão-se acrescentando camadas, com diferentes atributos, que a fortalecem. É necessário que se mantenham as características e que haja evoluções incrementais positivas em cada uma delas, para não haver deceções e para não ficar aquém das expectativas que foram formadas”, adverte Salvador da Cunha.

Ou seja, “cabe-nos a nós portugueses, ao Governo, autarquias e todas as entidades que tiverem responsabilidade na organização deste momento, de não deixar cair nenhuma destas pontas e ainda acrescentar fatores de surpresa”, alerta. Do ponto de vista de imagem externa, acredita, Portugal evoluiu muito significativamente nos últimos 10 anos. Agora, “temos de ter a capacidade de continuar a evoluir e a surpreender”, reforça Salvador da Cunha.

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