“Go fuck yourself”. Elon Musk responde aos anunciantes de saída do X (antigo Twitter)
Segundo documentos internos, mais de cem marcas já pararam por completo de anunciar na plataforma, e várias outras estão listadas como "em risco" de deixarem de o fazer. Perdas podem ser de 75 milhões
“Go fuck yourself“ respondeu Elon Musk, numa entrevista esta quarta-feira num evento do New York Times, aos anunciantes que estão a deixar a rede social. “Se alguém quiser tentar chantagear-me com anúncios, com dinheiro? Go fuck yourself. Não anunciem”, repetiu o dono do X.
Musk admitiu que a debandada das grandes marcas pode levar a empresa à falência. “O que este boicote vai fazer é matar o X. O mundo inteiro vai saber que esses anunciantes mataram a empresa”, continuou o dono da Tesla.
A debandada de anunciantes que se tem verificado no X (ex-Twitter) pode levar a perdas de até 75 milhões de dólares (cerca de 68,46 milhões de euros). A saída de grandes anunciantes como a Apple, IBM, Disney ou até a União Europeia deveu-se a preocupações quanto a conteúdos e posições antissemitas na plataforma.
O valor do possível prejuízo é avançado pelo The New York Times, que cita documentos internos da empresa a que teve acesso. Segundo o jornal norte-americano, a rede social está numa posição “mais difícil” do que aquela que era conhecida, com o documento a listar mais de 200 campanhas publicitárias de empresas como a Airbnb, Amazon, Coca-Cola ou Microsoft, muitas das quais já retiraram ou equacionam retirar os anúncios da plataforma.
Os documentos tinham como objetivo acompanhar o impacto da quebra de anúncios na empresa em novembro (tanto de empresas que já pararam de anunciar como das que possam estar a equacioná-lo), listando o total da receita publicitária que os funcionários temem que possa ser perdida até o final do ano se os anunciantes não voltarem à plataforma, refere o NYT.
Entretanto, a rede social disse que os dados vistos pelo jornal norte-americano estavam desatualizados ou faziam parte de um exercício interno para avaliar o possível risco total.
No entanto, segundo os documentos, mais de cem marcas já “pararam por completo” os seus anúncios, enquanto várias outras estão listadas como “em risco”. A saída dos anunciantes da plataforma começou a ocorrer depois de Elon Musk, dono do X, ter apoiado uma publicação antissemita, o que levou ativistas judeus a apelar a grandes empresas para deixarem de pagar anúncios na rede social X.
Além disso, foi também denunciado e muitas marcas se mostraram preocupadas com o facto de alguns dos seus anúncios estarem a ser mostrados junto de conteúdos que promoviam Hitler e o Partido Nazi – tal como denunciou a plataforma Media Matters (que enfrenta entretanto um processo legal, com Musk e a sua rede social a defenderem que a análise da plataforma tinha falhas e era tendenciosa).
Uma das marcas visadas nas denúncias era a IBM, que logo anunciou a sua decisão de suspender a publicidade na plataforma. Mas outras marcas lhe seguiram, como a gigante tecnológica Apple, que decidiu suspender todos os anúncios na rede social X, o que levou a um ataque à marca por parte do próprio Elon Musk que questionou se a fabricante do iPhone detesta a “liberdade de expressão”.
“A Apple também ameaçou retirar o Twitter da sua App Store, mas não nos diz o porquê“, disse ainda o empresário norte-americano noutra publicação.
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Ainda segundo os documentos a que o NYT teve acesso, a Netflix, por exemplo, suspendeu mais de três milhões de dólares em publicidade, enquanto a Airbnb fez um corte no valor de um milhão de dólares e a Uber de mais de 800 mil dólares.
Mas não foram só as marcas a retirarem os seus anúncios da rede social. A União Europeia, por exemplo, também começou a retirar os seus anúncios devido a uma preocupação crescente relacionada com o discurso de ódio e a desinformação na plataforma.
Segundo uma nota enviada pela porta-voz da Comissão Europeia Dana Spinant a todos os diretores-gerais e chefes de serviço, a instituição europeia “recomenda a suspensão temporária da publicidade nesta plataforma até aviso prévio para evitar riscos de danos à reputação da Comissão”, refere o Politico.
O confronto entre Elon Musk e a União Europeia, no entanto, já vem de trás, tendo a certa altura o comissário europeu Thierry Breton endereçado uma “carta urgente” a Musk, onde referia que tinha indicações de que a plataforma estava a ser usada para disseminar na Europa “conteúdo ilegal” e desinformação sobre a guerra entre o Hamas e Israel, pressionando o dono do X a combater desinformação no X sobre confronto em Gaza.
Ainda antes disso, a rede social também já tinha abandonado o Código de Conduta em Matéria de Desinformação, promovido pela União Europeia.
O governo norte-americano também veio criticar a tomada de posição de Musk como “inaceitável”, segundo o porta-voz da Casa Branca Andrew Bates, considerando a mesma como uma “promoção abjeta do ódio antissemita e racista”. “É inaceitável repetir a mentira hedionda que levou ao ato mais mortal de antissemitismo da história americana”, disse o porta-voz.
No entanto, algumas marcas relevantes mantiveram os seus anúncios, como a NFL, Walmart ou Mondelēz International, refere a CNN, com Elon Musk a “celebrar” algumas das empresas que optaram por manter o seu investimento publicitário na plataforma.
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Musk entretanto também divulgou que a empresa iria doar a totalidade das receitas publicitárias associadas à guerra em Gaza para hospitais em Israel e para a Cruz Vermelha/Crescente em Gaza, com o valor da doação a incluir o total das receitas provenientes de anúncios comprados por grupos de caridade, meios de comunicações e outros grupos que publicitaram conteúdos relacionados com o conflito.
Estas quebras na publicidade surgem nos últimos meses do ano – que são tradicionalmente os mais importantes para a rede social, tendo em conta a época festiva e de promoções – sendo que o X já tem vindo a registar uma quebra na receita publicitária desde que Musk comprou a plataforma por 44 mil milhões de dólares. Em julho, o dono do X divulgou que a empresa tinha perdido cerca de metade das receitas publicitárias:
“Ainda estamos numa situação de fluxo de caixa negativo, devido a uma queda de cerca de 50% nas receitas de publicidade e a uma pesada carga de dívida”, respondeu o bilionário no Twitter a um utilizador que estava a fazer sugestões estratégicas sobre a rede social.
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