50 anos da revolução dos cravos: as marcas como sinónimo de liberdade
Tanto se discute a liberdade e a democracia e tanto se recordam as liberdades de Abril, é fundamental nunca esquecer aquela que é, porventura, a mais importante das liberdades: a de escolha.
Quando faltam poucos dias para o cinquentenário da Revolução dos Cravos, assistimos a uma crescente troca de argumentos sobre o que efetivamente são os aalores de Abril. Sobre ataques à democracia e atentados à liberdade.
Discussões, muitas vezes estéreis, sobrevoam o espaço comunicacional, com posições extremadas do tipo: a minha democracia é melhor do que a tua ou a tua liberdade é demasiada para o meu gosto.
Sente-se hoje um divórcio cada vez mais fundo entre a política e os cidadãos, entre as instituições e as pessoas. Um fosso cada vez amplo entre o discurso moralista público e a multiplicação de notícias sobre pecados privados, entre trincheiras ideológicas mais e mais extremadas, sem espaço para consensos, nem para o estabelecimento de pontes, nem sequer para a tentativa de diálogo entre fações.
Para as gerações que atravessaram o período de transição da ditadura para a democracia em que vivemos, uma das expressões maiores da mudança que então sentiram passou pela progressiva liberalização económica e pela democratização do consumo e do acesso a diversos produtos.
E se todos recordamos, saudosos, marcas que, empurradas por publicidades populares, nos ficaram na memória e que, entretanto, foram saindo de cena, recordamos também os produtos que não existiam, as marcas a que não tínhamos acesso, e como cada viagem ao exterior se convertia numa expedição às catedrais do consumo, mundo fora, para comprar e trazer, mais ou menos às escondidas, uma lista infindável de itens, quantas vezes a pedido de familiares e amigos. Dos discos da moda aos livros proibidos, das aparelhagens estereofónicas à simples Coca-Cola.
Nos dias de hoje, quando nos afastamos do hemisfério ocidental e observamos os pontos do globo onde a democracia dá ainda uns titubeantes passos e continua longe de estar consolidada, percebemos que o desenvolvimento social e a aproximação a uma economia de mercado, geram uma forte atração por produtos e marcas anteriormente não acessíveis.
Há quem, de nariz torcido, indique que se trata da ocidentalização do consumo, mas, na verdade, as populações locais associam o acesso a esses produtos e o respetivo consumo a um ideal de liberdade e de sociedade.
Também no nosso entorno, há quem crucifique o consumo e diabolize certos produtos e, muito especialmente, as marcas que lhes dão verdadeira expressão. Há quem o faça por conservadorismo atávico e quem o expresse por puro preconceito ideológico.
Mas, na verdade, uma boa parte do nosso desenvolvimento humano e daquilo que designamos como qualidade de vida, passa pelo acesso a múltiplos produtos e serviços, da saúde à educação, dos cuidados à nascença à assistência no fim de vida, de uma boa alimentação a uma higiene cuidada, de produtos que reforcem a nossa autoestima ao acesso a viagens ou a momentos de lazer enriquecedores e revigorantes.
Para além disso, uma grande parte da sociedade, concordará que é fundamental adicionar valor ao que produzimos e ao que oferecemos ao mercado. E que a adição de valor, proporcionada pelos produtos mais reconhecidos e pelas melhores marcas, resulta de investigação e inovação, de uma comunicação assertiva e criativa, da construção de uma cadeia de abastecimento adequada, de políticas concretas de sustentabilidade e responsabilidade.
Mas essa adição de valor permite também recrutar e remunerar devidamente os colaboradores, apostar na sua formação e qualificação, dotar os cidadãos da necessária exigência para fazer as melhores escolhas.
É por isso que quando, nestes períodos, tanto se discute a liberdade e a democracia e tanto se recordam as liberdades de Abril, é fundamental nunca esquecer aquela que é, porventura, a mais importante das liberdades: a liberdade de escolha.
Ela é fundamental para permitir a eleição dos melhores políticos e das melhores políticas, ela é fundamental para salvaguardar a nossa liberdade religiosa, política ou de orientação sexual. E é essencial para que, a cada momento, consigamos escolher os melhores produtos, os melhores serviços, as melhores marcas.
Por isso, nunca haverá escolha a mais. Quanto mais ampla for a escolha, maior será a eficiência económica, maior será a nossa possibilidade de opção, maior será o nosso grau de satisfação.
E, não tenhamos rebuço em afirmar, quem quer limitar a nossa escolha, apenas pretende que escolhamos de entre aquilo que uns quantos iluminados (normalmente eles próprios) escolheram antes de nós. Os mesmos que tantas vezes, de forma paternalista e condescendente, decidem proibir para ‘o-vosso-bem’ ou desatam a taxar ‘antes-que-vos-faça-mal’.
Numa democracia temos que confiar na capacidade de escolha de cada um de nós e da sociedade como um todo, não deixando ninguém para trás, mas não subjugando toda uma população aos ditames de apenas uns quantos.
E temos que acreditar que a nossa capacidade de escolha depende da (boa) educação para a escolha, da (melhor) informação para a escolha e, obviamente, de podermos fazer escolhas… de termos entre que escolher.
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