Expresso, o jornal que nasceu com os “ares” da democracia
"Não há muitos jornais que tenham nascido antes da revolução e continuado com boa vida", comenta ao +M Gustavo Cardoso, diretor do OberCom.
“É raro um Governo de direita ser derrubado pelas suas próprias Forças Armadas. Em 25 de Abril de 1974 isso sucedeu em Portugal. Nas ruas, nos cafés, nos transportes coletivos, o ambiente é de alegria. O semblante normalmente triste dos portugueses resplandece com as perspetivas de «libertação do País do regime que há longo tempo o domina”. O Programa do Movimento das Forças Armadas Portuguesas parece, na verdade, satisfazer todas ou quase todas as aspirações de um povo que durante largos anos viveu «em crescente desenvolvimento de uma tutela de que resulta constante apelo a deveres com paralela denegação de direitos»”.
As palavras são do então diretor do Expresso, Francisco Pinto Balsemão, e dão início ao editorial de 27 de abril de 1974, um sábado, dia em que o título lançado um ano antes chegou às ruas. “Naquela quinta-feira, as coisas ainda não estavam claras sobre quem mandava e com que objetivos. Decidi, por isso, contra a vontade de alguns dos meus companheiros do Expresso, não avançar com uma edição especial na sexta-feira e decidi que o jornal sairia, normalmente, no sábado“, recorda o fundador do grupo Impresa em ‘Memórias’, livro que lançou em 2021.
Foi o número 69 do Expresso, jornal que custava então cinco escudos, o equivalente a dois cêntimos, em euros. Foi também a primeira edição sem censura. Nas 68 anteriores, submetidas ao lápis azul, o semanário leva mais de quatro mil cortes, em quase dois mil textos, conta o jornalista José Pedro Castanheira, em janeiro de 2013, num texto que assina os 40 anos do título da Impresa.
Francisco Pinto Balsemão, Marcelo Rebelo de Sousa, Augusto de Carvalho, José António Saraiva, Henrique Monteiro, Ricardo Costa, Pedro Santos Guerreiro e, desde 2019, João Viera Pereira foram os oito diretores do semanário que nasceu com a assinatura “Expresso, o jornal dos que sabem ler” e que 50 anos depois, para assinalar o 25 de Abril, adota como ‘claim’ “Liberdade para pensar“.
A 28 de outubro de 2006, conta o próprio Expresso, o jornal atinge o seu recorde absoluto de circulação, ao vender 202.108 exemplares em banca, no final de uma oferta de DVD aos leitores. Dezoito anos depois, o contexto é diferente e os desafios dos media também, mas o Expresso continua a ser, na soma das vendas do papel com as digitais, o jornal com maior circulação paga do país: 91 mil na média de 2023, de acordo com dados da Associação Portuguesa para o Controle da Tiragem e Circulação.
Fonte: Obercom – 50 anos de (R)evolução na Comunicação
“Não há muitos jornais que tenham nascido antes da revolução e continuado com boa vida”, comenta Gustavo Cardoso, diretor do OberCom. “O Expresso cresceu bem em termos de idade e soube aproveitar a passagem do papel para o digital, tornando-se também transmedia“, aponta o diretor do Observatório da Comunicação, referindo-se à aposta nos podcast ou à presença em formatos de televisão com o nome associado.
“Foi um jornal atual em 1973 e é hoje um jornal no qual todos os políticos gostam de aparecer, um jornal de referência na sociedade portuguesa“, prossegue, salientando a sua “capacidade de continuar a existir — olhando para os dados, não está em vias de extinção — e de ter sobrevivido às mudanças de tempos“.
“O sucesso do Expresso deve-se precisamente à democracia. É preciso o projeto casar com o tempo, e surge com o ‘ar do tempo’, que é o ar de mudança. E soube adaptar-se a essa mudança“, conclui Gustavo Cardoso a propósito dos 50 anos do 25 de abril e de “um jornal do seu tempo, mas que conseguiu ganhar alguma intemporalidade“.
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