10 notas

  • Vitor Cunha
  • 2 Fevereiro 2024

Estas notas não concentram todo o saber do mundo, antes apelam ao bom senso meridiano – algo que nem sempre é tão abundante como o sol que nos banha.

Agora que vem aí campanha, permito-me deixar umas notas breves e uns conselhos de amigo sobre a temporada. Estas notas não concentram todo o saber do mundo, antes apelam ao bom senso meridiano – algo que nem sempre é tão abundante como o sol que nos banha. Aqui ficam.

  1. O teleponto pode ser o melhor amigo do político: não tenhas medo dele, usa-o sem vergonha e sem pudor. Mau, mesmo, é não saber o que dizer e inventar.
  2. A política e a comunicação andam a par, ao contrário de outras disciplinas. Um bom comunicador pode ser um bom político (no sentido da aceitação que suscita), mas um bom economista, por exemplo, não é necessariamente um bom político ou um bom comunicador. Ou seja, a especialização académica numa determinada área será necessária, mas nunca é suficiente – e até pode não ser necessária, como já se viu com o Eng.º José Sócrates.
  3. A política contemporânea contém características que não devem ser menosprezadas. Não esquecer que o TikTok pode ser (ou é) mais relevante que Miguel Sousa Tavares; ou então que Ricardo Araújo Pereira pode ser mais certeiro e mortal que 20 notícias; ou que um elogio explícito, por exemplo, de Ana Gomes. Ou seja, devemos estar sempre atentos às métricas e às plataformas, e não devemos orientar a análise e a impressão pelo desejo – foi assim, aliás, que Rui Rio ia “ganhando” as últimas legislativas.
  4. Tempos houve em que a política era puro faro, intuição, risco, espada – ou veneno no anel. Hoje a política continua a ser tudo isso, mas é também “data”. Ganhar eleições pressupõe conhecimento e informação detalhada do mercado eleitoral. Quem mais e melhor informação tiver, melhor comunicação poderá fazer – desde que não se desvie do caminho.
  5. Nunca digas “nunca”. O valor da palavra em política é mais volátil que uma criptomoeda, mas há erros que devem ser evitados. Como já vimos no passado, só a morte é irrevogável.
  6. Nunca pagues (ou recebas) com dinheiro sujo. E o saco ou o envelope não é a melhor forma de acomodação de notas. Também nunca o guardes numa estante na casa do chefe.
  7. Nunca deixes de mostrar um caminho, mas evita promessas impossíveis, como 72 virgens no além, acrescidas de energia “para coabitar com elas desde o amanhecer”, como garante o Corão. As mentiras têm de parecer verdades.
  8. Nunca esqueças a A28 e a A13 quando prometeres o fim das portagens: as mentiras também têm de ser inclusivas.
  9. A comunicação política exige disciplina e estética: os eventos (apresentações, congressos, convenções) são para serem vistos em casa, não para quem está na sala – e mal sentado. Há salas e há salas – e são meio caminho para uma má, ou para uma boa, ação de comunicação: vide o estranho caso da Alfândega do Porto versão AD, ou a mesma Alfândega do Porto na versão André Villas Boas.
  10. Por fim, um conselho genérico: na vida, como na política, não cobiçarás a mulher do próximo, nem o deputado do vizinho. Pelo menos sem fazeres um bom screening.
  • Vitor Cunha
  • CEO da JLM & Associados

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