Agosto não é um mês. É um estado de espírito

Agosto é estranho. Meio mês. Meio pausa. Meio tudo. É o único momento do ano em que os out of office se tornam poesia automática e as mensagens começam com “sei que estás de férias, mas…” — como se a frase seguinte deixasse de contar.

Agosto é bipolar. Por um lado, é o fim de um ciclo: a sensação de que fechámos uma primeira metade, que cumprimos o que era preciso, que agora podemos respirar. Por outro, é o início invisível de tudo o que vem aí: setembro, campanhas, reposicionamentos, planos que vão começar “com força” mal acabe o verão.

É o mês da pausa inquieta. Queremos parar — e, na verdade, até conseguimos parar fisicamente. Mas a cabeça continua em modo reunião. Há ideias a germinar, listas mentais a crescer, insights que surgem entre mergulhos, conceitos que se colam à toalha de praia. Desligamos, mas ficamos com o wi-fi da criatividade ligado.

É um mês onde tudo parece em suspenso, mas nada está verdadeiramente parado.

As marcas “param”, mas continuam a aparecer. As equipas “descansam”, mas alinham setembro por WhatsApp. As campanhas “ficam para mais tarde”, mas os headers já estão a ser testados discretamente.

Agosto é esse estado em que o tempo desacelera… mas a máquina nunca desliga.

E é precisamente aí que mora o seu lado mágico. Porque sem pressão direta, as ideias respiram. Sem reuniões a cada hora, surgem associações improváveis. Sem o ruído do dia a dia, a criatividade volta a falar mais baixo — mas com mais clareza.

Agosto não é um mês. É uma espécie de terreno fértil onde a criatividade se reorganiza. Meio à superfície, meio subterrânea. Meio distraída, meio em foco. E é nesse limbo que, muitas vezes, surgem os melhores recomeços.

E eu? Também ativo o clássico “out of office”.

Com aquela esperança vã de que vai funcionar como barreira mágica — uma espécie de repelente contra urgências inesperadas…