
O mês perfeito para amar (ou fingir que amamos)
Até quando vamos acreditar que basta um filtro rosado e uma música de piano para vender sentimentos? Mais do que a paciência do consumidor, é a fórmula que está a perder força
Fevereiro chega e, de repente, o mundo fica cor-de-rosa. Corações, declarações apaixonadas, promessas de amor eterno — e, claro, descontos imperdíveis. É aquela altura do ano em que todas as marcas se lembram de que o amor existe. Ou melhor, que o amor dá margem de lucro. Subitamente, supermercados tornam-se cúmplices de histórias de paixão, operadoras de telecomunicações garantem que o verdadeiro amor é ter “mais gigas para partilhar momentos” e um simples chocolate passa a ser o único responsável por manter casais unidos.
O Dia dos Namorados é um milagre do storytelling comercial. Durante 24 horas, perfumes transformam-se em “memórias engarrafadas”, hotéis vendem “momentos inesquecíveis” e uma caixa de bombons pode ser a fina linha entre um jantar romântico e uma separação litigiosa. A publicidade faz o que sabe melhor: simplifica emoções complexas até caberem num call to action. O amor pode ser inexplicável, mas “compra agora” faz sempre sentido.
E o mais curioso? Funciona. Todos os anos, voltamos a cair no mesmo conto. As marcas juram que entendem os mistérios do coração — e nós, ironicamente, agradecemos essa conveniência. Talvez porque, no fundo, é mais fácil acreditar que um desconto de 20% substitui uma boa conversa. Ou que um pack de velas aromáticas seja um pedido de desculpas suficientemente sofisticado.
Mas até quando? Até quando vamos continuar a reciclar as mesmas narrativas, os mesmos clichés, os mesmos apelos emocionais formatados? Até quando vamos acreditar que basta um filtro rosado e uma música de piano para vender sentimentos? Mais do que a paciência do consumidor, é a fórmula que está a perder força. As histórias de amor na publicidade precisam urgentemente de uma nova paixão — ou arriscam-se a cair na pior das maldições criativas: a indiferença.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
O mês perfeito para amar (ou fingir que amamos)
{{ noCommentsLabel }}