O Paradoxo da Inovação: A contradição entre desejar inovação e não fornecer as condições para o seu desenvolvimento

  • Glauco Madeira
  • 23 Maio 2024

A inovação exige uma mudança de mentalidade e o reconhecimento de que muitas ideias podem falhar porque, no início, há apenas um conjunto de hipóteses sobre o que pode fazer sucesso.

Num mundo onde a capacidade de inovar é mais do que desejável, sendo essencial para a sobrevivência e crescimento organizacional, muitas empresas ainda enfrentam um dilema: desejam desesperadamente inovar, mas não conseguem fornecer as condições necessárias para que os projetos inovadores aconteçam. Este paradoxo manifesta-se de várias formas, em organizações de todos os tamanhos e setores. Vamos explorar as barreiras que impedem a inovação e as estratégias para as superar, de modo a criar um ambiente onde a inovação prosperem.

Exploration x exploitation

A inovação requer um equilíbrio delicado entre a exploração de novas ideias (exploration) e a extração do máximo que o atual modelo de negócio pode oferecer (exploitation). Ambos são fundamentais num mundo em constante transformação. Muitas empresas ficam estanques no que se chama exploitation, focando-se demasiado no que já fazem bem, enquanto negligenciam a exploração de novas oportunidades que podem ser essenciais para a sua sustentabilidade. Esta dualidade entre manter o negócio existente e apostar em novos caminhos cria uma tensão que pode impedir o investimento em projetos inovadores.

Tipos de Inovação

Podemos entender inovação como criar valor de formas diferentes. Mas nem todas as inovações são iguais. A distinção entre inovação de eficiência (fazer melhor o que já se faz hoje), de sustentação (novos produtos, serviços e geografias dentro da indústria atual) e transformativa (engrenagens de negócio do futuro com o suporte de novos modelos de negócio) ajuda a contextualizar os diferentes riscos e recompensas. A confusão acerca dos tipos de inovação necessários pode resultar em expectativas desalinhadas entre a liderança e as equipas. Uma empresa que aposta apenas em inovação de eficiência pode estar a caminhar eficientemente para a morte do negócio.

Profissionalização da inovação

A inovação não deve ser tratada como um passatempo ou uma iniciativa secundária. Organizações que têm sucesso neste campo investem em processos e formações robustas. O design thinking e a inovação corporativa exemplificam frameworks que ajudam a criar uma cultura de inovação, fornecendo ferramentas práticas que facilitam a descoberta, desenvolvimento, teste e execução de ideias.

Gap de satisfação

De acordo com dados de grandes consultoras como a McKinsey, existe uma disparidade entre a perceção da importância da inovação e a satisfação com os resultados alcançados. Muitas empresas reconhecem a necessidade de inovar, mas a falta de recursos adequados, formação e processos resulta numa lacuna de execução. Além disso, as pesquisas mostram que para encontrar um “grande campeão” é necessário experimentar com vários projetos, um princípio que os fundos de capital de risco percebem muito bem. Esta abordagem, no entanto, raramente é adotada pelas organizações, que muitas vezes procuram certezas em contextos cada vez mais incertos.

Causas e obstáculos

É difícil apontar apenas um fator. Os principais obstáculos incluem o não envolvimento da liderança na inovação, a falta de tempo dedicada ao assunto, a ausência de formação e ferramentas adequadas, além de processos inexistentes ou ineficazes. A cultura organizacional pode ser resistente ao risco e os líderes frequentemente focam em resultados imediatos, deixando de lado iniciativas de longo prazo. A inovação exige uma mudança de mentalidade e o reconhecimento de que muitas ideias podem falhar porque, no início, há apenas um conjunto de hipóteses sobre o que pode fazer sucesso. Suposições precisam ser testadas na prática, assim como no método científico.

Estratégias para Superar o paradoxo

Algumas estratégias para resolver estes desafios incluem envolvimento do CEO e da alta direção na agenda de inovação (como proposto por Rita McGrath), a implementação de tempo específico para inovar, como a “regra dos 20%” inspirada na Google, que permite que os funcionários dediquem parte do tempo a projetos inovadores, até a criação de aceleradoras internas. Iniciativas de inovação aberta e ferramentas como a Adobe Kickbox ou o DHL Startup Lab Playbook podem ajudar a sistematizar e impulsionar a geração de ideias. Porém, mais do que um ou outro tipo de iniciativa, é importante conhecer as diversas possibilidades e, dentro do contexto no qual a organização se insere, desenhar a estratégia de inovação.

Para superar o paradoxo é necessário que as organizações cultivem uma cultura que celebre a experimentação e a aprendizagem, mesmo que diversas ideias não cheguem a ver a luz do sol. A busca de um equilíbrio entre exploration e exploitation, o investimento numa estrutura profissional de inovação e a adoção de frameworks comprovados podem fazer a diferença entre ficar para trás ou prosperar num mercado cada vez mais competitivo.

  • Glauco Madeira
  • chief innovation officer da Lisbon Digital School

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