
Quem disse que não se cria bem na praia?
Nunca ninguém fez um estudo sobre isto, mas não há dúvida de que, deitar-se na toalha e olhar para o céu durante 15 minutos, pode fazer mais pela criatividade do que três reuniões de alinhamento.
O verão aproxima-se e, com ele, aquela velha ideia de que a criatividade faz uma pausa assim que os pés tocam na areia. Como se, de repente, o cérebro entrasse em modo out of office e a única coisa a produzir fosse vitamina D. Mas sejamos honestos: será que há sítio melhor para ter ideias do que a praia?
Afinal, a praia reúne todos os elementos essenciais do processo criativo:
- Brainstorming? O som das ondas é praticamente um áudio de fundo para insights profundos.
- Tempo para incubar ideias? Nada como longas caminhadas na areia para resolver aquele conceito que parecia impossível no escritório.
- Perspetiva nova? Um dia de sol e uma mente mais leve fazem milagres que nem o melhor workshop de inovação consegue.
Mas, claro, o mundo da publicidade ainda não acredita nisso. Criar na praia continua a ser visto como uma espécie de heresia profissional. A ideia de que trabalho sério acontece apenas em salas de reuniões com ar condicionado e gráficos no ecrã. Mesmo que algumas das melhores ideias tenham nascido num guardanapo, num café ou num táxi a caminho de uma reunião — de preferência, atrasados.
A verdade é que o bloqueio criativo raramente se resolve de frente para o ecrã. Quantas vezes a solução aparece quando estamos a fazer qualquer coisa que não tem nada a ver com trabalho? O conceito que parecia bloqueado destrava-se no meio de uma conversa aleatória. O nome da campanha surge enquanto esperamos pela nossa vez no bar da praia. O insight que faltava aparece do nada, no exato momento em que equilibramos uma Bola de Berlim na mão.
E depois há a teoria não comprovada (mas absolutamente real para quem já a viveu) de que a areia tem propriedades desbloqueadoras de ideias — está ao nível do banho. Nunca ninguém fez um estudo sobre isto, mas não há dúvida de que, ao deitar-se na toalha e olhar para o céu durante 15 minutos, se pode fazer mais pela criatividade do que três reuniões de alinhamento seguidas.
Então, porque é que a criatividade na praia ainda é vista como uma utopia? Talvez porque vivemos num mundo onde a produtividade e o stress andam de mãos dadas — como se a grande ideia só tivesse valor se nascesse no meio do caos. Como se pensar sem pressa fosse sinónimo de falta de compromisso. Como se criar fora do ambiente de trabalho fosse, de alguma forma, menos válido.
Mas a realidade é outra: o verão não é o fim da criatividade — é um convite para pensar de forma diferente.
Então, sim, cria-se (e muito) na praia. E quem disser o contrário é porque nunca levou um briefing para a espreguiçadeira certa — ou nunca tentou fechar um orçamento enquanto luta contra o Wi-Fi do bar da praia.
E, no entanto…
Apesar de acreditar em tudo isto, teimo em não concretizar. Todos os anos digo a mim mesma que, desta vez, vou tirar uns dias para pensar sem pressão, deixar as ideias fluírem ao sabor das ondas. Mas, invariavelmente — talvez por medo de me afastar demasiado do caos… ou talvez porque a criatividade precise mesmo de algum nível de stress para se sentir viva. Quem sabe?
O que sei é que, no fim, acabo sempre a escrever uma ideia enquanto sacudo a areia dos pés. E este ano ainda nem lá fui…
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