Sempre

  • António Fuzeta da Ponte
  • 21 Junho 2024

Trabalhar marcas é imersivo. É mesmo muito imersivo. Nós mergulhamos nisto de construir marcas e não conseguimos ou não queremos sair.

Esta é a última crónica que escrevo enquanto profissional da Worten. Raramente escrevi sobra a marca que representei durante quase sete anos. Mas hoje tinha de ser, desculpem.

Não vou escrever sobre o trabalho feito pela marca, nem sobre os objetivos alcançados ou por superar. Nem vou escrever sobre os prémios, as campanhas, as mudanças que fizemos. Isso foi só trabalho, no meio de muito pouco conhaque. Como se calhar até é suposto ser.

Mas vale a pena falar sobre as pessoas que se cruzam connosco neste meio. Vale a pena falar das pessoas que trabalham em Marca. São pessoas especiais. Estas, que se cruzaram comigo, tanto na equipa Worten, como nas equipas das agências nossas parceiras, são pessoas que encaram o trabalho de uma forma e entrega bem especial.

Trabalhar marcas, acredito eu, não é bem como trabalhar com matérias-primas, não é pesca, também não é pintura, cada coisa é uma coisa e todas são diferentes. E porventura até há ofícios que têm semelhanças. Mas há uma coisa que nos caracteriza bem, nós os que trabalhamos marcas. E assisti a isso, com muita nitidez nestes últimos sete anos: trabalhar marcas é imersivo. É mesmo muito imersivo. Nós mergulhamos nisto de construir marcas e não conseguimos ou não queremos sair.

Ainda na véspera do último feriado recebi uma mensagem de alguém da equipa em que dizia algo como “ainda não estou bem convencida, se calhar falamos melhor amanhã”. Mas “o amanhã” era feriado. Não é suposto falarmos, nem trabalharmos sobre isso ao feriado! Coleciono mensagens como esta e tenho muitas para a troca.

E nas nossas cabeças, a marca não tira intervalos e está sempre a precisar de crescer ou de ser corrigida aqui ou ali. Até costumo dizer, a brincar, que “resolvemos problemas à cabeçada” porque é com ideias que nós lidamos, então a nossa cabeça também não pára. E lá acordamos nós no dia seguinte, em angústia, porque ainda não os resolvemos.

Mas continuamos, porque para muitas horas de angústia, também vêm muitos minutos de intensa alegria, quando em equipa, com os parceiros criativos, chegamos à solução ou lá perto. Quando a ideia aparece, quando percebemos que, mesmo que ainda não esteja bem trabalhada, já temos a certeza que vai resolver, então aí tudo faz sentido. E viramos dias, tardes e noites e vamos onde for preciso, porque acreditamos que essa ideia vale tudo. Sim, dias e noites. Porque o rácio inspiração/transpiração é mesmo terrivelmente desequilibrado.

Assisti a isso, inúmeras vezes nestes anos passados. E acredito que aconteça tanto aqui como noutros lados onde se trabalha marca com paixão. É o que nos faz estar sempre nervosos antes de um briefing ou antes de entregar a última campanha.

E é se calhar por isso que, às vezes, sentimos que algumas marcas são vivas, que crescem, que nos surpreendem, que nos fazem rir ou nos dão nós no estômago. Porque provavelmente essas marcas são feitas por pessoas como estas com que me cruzei aqui, nestes últimos anos. Pessoas que não desarmam e acreditam sempre que podem fazer melhor para a próxima. Sempre.

  • António Fuzeta da Ponte
  • Diretor de marca e comunicação da Worten

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