Metade das empresas considera que impacto do PRR será pouco ou nada significativo
Com a aprovação do PRR português para breve, mais de metade das empresas sondadas pela CIP considera que o impacto na economia será pouco ou nada significativo.
Mais de metade das empresas sondadas num inquérito da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) estimam um impacto pouco ou nada significativo do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) na sua atividade económica. Uma notícia que surge na semana em que se espera que a Comissão Europeia aprove o plano português.
Em causa está o 16.º inquérito da CIP às intenções das empresas portuguesas, que recolheu as opiniões dos gestores de uma amostra de 397 empresas associadas, sobretudo de pequena e média dimensão (PME), das quais 46% pertencem ao setor da indústria e energia, 24% de outros serviços e 13% de comércio. As respostas foram obtidas entre 2 e 10 de junho.
Quando questionados sobre qual é o impacto que esperam que o PRR irá ter, “direta ou indiretamente”, na atividade económica que desenvolvem, 31% dos inquiridos responderam “nada significativo” e 24% “pouco significativo”. Há ainda um conjunto de 31% dos respondentes que responderam “mais ou menos”.
Apenas 10% dos inquiridos consideram que o impacto será significativo e 4% considera que será “muito significativo”, de acordo com os dados divulgados pela CIP. Ou seja, feitas as contas, menos de duas em cada dez empresas acreditam que o impacto do PRR na economia será relativamente significativo, concluiu o questionário.
O mais recente inquérito da CIP é também muito crítico dos apoios públicos à economia: 31% das empresas consideram que o acesso é “muito burocrático” e outros 31% consideram-no “burocrático”. Mas o estudo indica ainda que só 34% das empresas inquiridas se candidataram a alguma medida de apoio nos últimos três meses.
Dentro dos 66% que não se candidataram, 44% destas empresas explicaram que não preenchem “as condições necessárias de elegibilidade” dos apoios. Questionado pelo ECO sobre este facto, Armindo Monteiro, vice-presidente da CIP, extrapolou este dado para o universo do PRR: “Vamos supor que, em relação ao PRR, isso se mantém. Podemos ter dois terços [de empresas] que não se candidatam [aos fundos de recuperação]”, rematou.
Mais falências a caminho
Na mesma conferência de imprensa, o responsável da CIP mostrou-se preocupado com a possibilidade de uma nova vaga de falências de empresas: “Os riscos de insolvência podem ter sido adiados. Novas pressões de liquidez podem levar a falências, especialmente se a recuperação [económica] demorar”, avisou Armindo Monteiro.
O mesmo alerta foi feito em maio pela presidente do Banco Central Europeu (BCE). A partir do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, Christine Lagarde disse: “Iremos ver mais falências. Têm sido muito baixas e irão certamente aumentar.” Para já, dados do Eurostat divulgados no mês passado indicam que, apesar de as falências terem subido 5,8% na União Europeia no primeiro trimestre. Porém, em Portugal, caíram 14,9%, a contraciclo com o resto da região.
Os riscos de insolvência podem ter sido adiados. Novas pressões de liquidez podem levar a falências, especialmente se a recuperação [económica] demorar.
Instado a detalhar os motivos que levam a CIP a ver mais falências no horizonte, Armindo Monteiro apontou para o aumento da dívida: “O nosso Governo privilegiou a dívida [nos apoios às empresas] em detrimento de apoios diretos [como subsídios]. Ainda estamos em período de moratórias e não se sente o pagamento dessa dívida, pelo que não temos a noção de como esse pagamento poderá ser resolvido”, indicou.
Todos os olhos vão estar postos na retoma. “Se as receitas aumentarem, [o pagamento da dívida] ficará mal resolvido. Se a recuperação acontecer de forma significativa, acreditamos que se possam atenuar esses efeitos”, indicou o vice-presidente da CIP, que enalteceu, também, a importância de um “mercado de capitais alternativo ao endividamento”.
(Notícia atualizada pela última vez às 17h15)
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