Trabalhadores da dona da Visão duvidam da capacidade do acionista recuperar empresa
Os trabalhadores, cuja maioria votou pelo afastamento de Luís Delgado da empresa, esperam que haja mais planos de reestruturação e que surjam propostas de compras de títulos por investidores.
O dono da Trust in News, Luís Delgado, apresenta esta sexta-feira um plano de reestruturação para a empresa, declarada insolvente pelo tribunal, com os trabalhadores a duvidarem que seja o gestor a ter agora capacidade de a recuperar.
“O que estranhamos é que alguém que geriu a empresa durante sete anos sem conseguir recuperá-la, sem cumprir obrigações fiscais e pagar salários atempadamente tenha agora a intenção de apresentar um plano de recuperação“, disse à Lusa a jornalista e delegada sindical Clara Teixeira, que trabalha na revista Visão há 20 anos.
Clara Teixeira afirmou que os trabalhadores esperam que haja mais planos de reestruturação e também que surjam propostas de compras de títulos por investidores. A delegada sindical recordou que, em plenário, os trabalhadores votaram maioritariamente pelo afastamento da gestão de Luís Delgado da empresa e que isso mesmo foi pedido ao tribunal, acrescentando que, neste momento, “a preocupação dos trabalhadores é encontrar compradores para os títulos e para salvar postos de trabalho”.
Luís Delgado, acionista único da Trust in News (TiN), anunciou a semana passada no parlamento que apresentaria um plano de reestruturação para a Trust in News, que em 4 de dezembro foi declarada insolvente pelo tribunal.
“O que eu posso fazer, e vai ser apresentado a 27 de dezembro, é um plano de reestruturação que me comprometi a fazer e entregar no tribunal, porque, se for assim, ao menos existiu ali um plano de reestruturação”, disse na comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto sobre a situação do grupo que detém 17 marcas, entre as quais a Visão.
Após a apresentação ao tribunal, esse plano de reestruturação será enviado ao administrador de insolvência e aos credores e deverá ser levado à assembleia de credores, marcada para 29 de janeiro.
Os trabalhadores da Trust in News ainda aguardam para saber se, no final deste mês, a empresa terá condições de lhes pagar os salários. Segundo fontes contactadas pela Lusa, a massa salarial bruta (incluindo impostos e contribuções para a Segurança Social) a ser paga no final de dezembro ascende a cerca de 400 mil euros.
O Processo Especial de Revitalização (PER) da Trust in News foi reprovado em novembro com os votos da Autoridade Tributária (AT) e Segurança Social. Em 4 de dezembro, a TiN foi considerada insolvente pelo tribunal, que fixou em 30 dias o prazo para reclamação dos créditos e marcou a assembleia de credores para 29 de janeiro.
O tribunal nomeou como administrador de insolvência André Fernando de Sá Correia Pais. Nomeou ainda a Comissão de Credores, que tem como membros efetivos o Instituto da Segurança Social, a Autoridade Tributária, a Impresa Publishing, o Novo Banco e o representante dos trabalhadores a indicar pela Comissão de Credores. Os CTT e o BCP são membros suplementes desta Comissão.
Na assembleia de credores, o administrador de insolvência irá apresentar o relatório sobre a situação da empresa, incluindo sobre o défice de exploração (despesas superiores a receitas). Poderá ainda propor um plano de reestruturação ou, em alternativa, propor no seu relatório a elaboração de um plano de reestruturação se os credores assim decidirem.
Também o plano de reestruturação de Luís Delgado deverá ser levado a essa reunião da Comissão de Credores para estes se pronunciarem. A dívida acumulada da Trust in News supera os 33 milhões de euros, segundo informações recolhidas pela Lusa.
O grupo TiN, de Luís Delgado, detém 17 títulos, entre os quais a Visão, Exame, Exame Informática, Jornal de Letras, Caras, Activa, TV Mais. Atualmente, tem cerca de 130 trabalhadores.
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