Armani vai vender (para já) 15% da marca a grande grupo de luxo

Armani vai vender (para já) 15% da marca a grande grupo de luxo

Patrícia Abreu,

Estilista que morreu na semana passada indicou os grupos LVMH, EssilorLuxottica e L'Oreal como os compradores preferenciais para entrarem no capital da sua icónica marca.

A marca de roupa de luxo Giorgio Armani, com o mesmo nome do estilista que morreu na semana passada, será vendida a um grande grupo de moda. A instrução foi deixada no testamento do italiano, divulgado esta sexta-feira. Numa primeira fase, num prazo até ano e meio, Giorgio Armani instruiu a fundação que herdará a sua empresa de luxo a vender 15% do capital, arrancando um processo que pode deixar a Armani nas mãos de um grande grupo no espaço de três anos.

O icónico estilista italiano deixou indicações precisas sobre o futuro da marca que fundou e manteve independente ao longo de cinco décadas. O documento publicado esta sexta deixa indicações aos seus herdeiros para vender uma participação inicial de 15% da Giorgio Armani SpA a um dos três compradores preferenciais do estilista — LVMH Moet Hennessy Louis Vuitton SE, EssilorLuxottica SA ou L’Oréal SA — ou uma empresa com características semelhantes, nos próximos 18 meses.

O comprador desta posição poderá atingir uma posição maioritária depois de três anos, acrescenta o mesmo documento.

Com uma carreira de mais de cinco décadas, Armani era hoje um caso raro na indústria: mantinha-se independente, e não integrado num conglomerado de marcas. Uma situação que vai alterar-se com o desaparecimento do estilista que morreu aos 91 anos e que trabalhou praticamente até ao final.

Apesar de ter ponderado por várias ocasiões unir-se a um grande grupo, Armani escolheu manter-se só, ainda que tenha estabelecido parceiras com a EssilorLuxottica e a L’Oréal, e era próximo do presidente da LVMH, Bernard Arnault, com quem chegou a discutir uma aliança.

Armani chegou a discutir uma aliança com a LVMH, de Bernard Arnault.

“A Armani apresenta uma oportunidade rara”, referem os analistas da Berenberg, Nick Anderson
e Harrison Woodin-Lygo, numa nota citada pela Reuters, estimando que a empresa tenha um valor entre cinco e sete mil milhões de euros.

A EssilorLuxottica já reagiu em comunicado ao testamento tornado público esta sexta-feira, adiantando que vai avaliar cuidadosamente o que considera uma “perspetiva evolutiva”. Representantes da LVMH e da L’Oréal não quiseram comentar.

Como alternativa à venda a um grupo maior, a Armani também poderá avançar com um IPO em Milão ou em outro mercado importante, de acordo com os documentos.

Os analistas da Berenberg consideram que a LVMH é a opção mais estratégica para a Armani, acrescentando que o grupo francês de luxo “tem um histórico de investidor minoritário de longo prazo, paciente e solidário”.

A empresa fundada por Armani ficou nas mãos da fundação da Armani, detida por membros da família e pelo sócio e companheiro Leo Dell’Orco.

Dell’Orco, a quem o magnata italiano se referiu como seu “braço direito”, terá, para já, um papel determinante. Juntamente com os outros herdeiros, Dell’Orco decidirá agora qual grande grupo poderá comprar a maioria da marca de moda.

Tarifas ameaçam luxo

A potencial venda da Armani a um grande grupo de moda surge num momento em que o setor do luxo enfrenta grandes desafios, com temas como as tarifas e a instabilidade geopolítica a refletir-se negativamente na confiança dos consumidores, após os anos de crescimento que marcaram o pós-pandemia.

No seu testamento, Armani mostra-se confiante no valor da marca a longo prazo, que tem uma faturação anual de cerca de 2,3 mil milhões de euros.

A mudança profetizada na marca que criou vem de encontro ao que tem vindo a acontecer no setor, com as empresas a saírem das mãos dos seus fundadores para investidores institucionais, com o mercado de luxo a concentrar-se em grandes grupos, como a LVMH e a Kering SA, proprietária da Gucci.

Numa entrevista em abril de 2024 à Bloomberg, Armani já deixou algumas pistas sobre o que desejava para o futuro da marca que criou, adiantando que caberia a seus herdeiros avaliar as oportunidades que surgissem no futuro. Embora a independência ainda possa agregar valor à Armani, “o que sempre caracterizou o sucesso do meu trabalho é a capacidade de me adaptar a tempos de mudança”, rematou.

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