Convenção PS. Maior partido autárquico discute manutenção da liderança e cerca sanitária ao Chega

Depois da derrota legislativa para o Chega, o PS tem uma prova de fogo a 12 de outubro. Neste sábado discute em Coimbra as armas com que se baterá numa luta em que também o PSD quer gritar vitória.

Ainda a sarar a ferida aberta a 18 de maio na queda para terceira força parlamentar, o Partido Socialista reúne as suas mais destacadas figuras neste sábado, numa convenção autárquica que marca o arranque do combate eleitoral em que terá, obrigatoriamente, de mostrar que as legislativas foram apenas um percalço.

Adiada uma semana devido ao acidente com o elevador da Glória, a convenção potencia, após este hiato de sete dias, dois novos ângulos para análise. Por um lado, a sondagem da Aximage que nesta sexta-feira veio apontar não só a incapacidade de o PS recuperar das perdas face ao Chega a nível nacional caso houvesse agora legislativas, mas, adicionalmente, a possibilidade de o partido de Ventura vencer essas eleições.

Por outro lado, Alexandra Leitão, que na próxima segunda-feira tem um debate na SIC com Carlos Moedas, surge com um potencial novo fôlego, impulsionada pelas posições públicas do presidente da Câmara de Lisboa, seu principal adversário autárquico, após o acidente no elevador da Glória.

Leitão, tal como Manuel Pizarro, candidato ao Porto, segunda câmara do país, terão duas das intervenções mais esperadas na convenção.

Naturalmente, José Luís Carneiro, secretário-geral do partido, terá um papel de destaque, num discurso em que deverá realçar a intolerância dos órgãos nacionais socialistas para com eleitos autárquicos do PS que aceitem o apoio do Chega para governar nos órgãos municipais.

“A nossa posição é clara e ficará expressa nesse compromisso que será subscrito no próximo fim de semana, na convenção autárquica: candidatos nossos que estabeleçam acordos com eleitos do Chega perderão a confiança política do PS”. O aviso foi deixado esta semana numa entrevista à Rádio Renascença e jornal Público.

Na mesma entrevista, salienta que, caso os presidentes eleitos pelo PS infrinjam esta regra, “a câmara continuará a ser governada. Não é governada é com autarcas que tenham a confiança do PS. Esses autarcas deixam de representar o PS, mas isso não obriga a que renunciem às funções”.

Na ementa de temas fortes não faltará a lei das finanças locais, discussão que é o prato do dia há anos, mas teima em não ser vertida numa nova legislação, conforme é exigido há anos pela Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), liderada por Luísa Salgueiro, autarca socialista de Matosinhos.

A ANMP e a ANAFRE, congénere das freguesias, são objetivos inalienáveis para o PS, que, ainda abalado pela perda de votos e preponderância no Parlamento, sabe que não pode deixar fugir o seu mais valioso trunfo atual no país, a maioria de Câmaras e Juntas de Freguesia.

Do lado do Governo, a espera pode manter-se por mais algum tempo, deixando a negociação da nova legislação para a próxima liderança da ANMP.

A pressionar a posição do PS, que em 2021 conquistou 148 câmaras em listas próprias (124 com maiorias absolutas) e apoiou um quarteto de autarcas independentes vencedores, está desde logo o encurtamento da distância conseguida pelo PSD nessas mesmas autárquicas, quando passou do descalabro das 98 conquistadas em 2017 (pior resultado desde 1976) para 114.

Com a vitória ou derrota a 12 de outubro a medir-se também pelo número de capitais de distrito conquistadas, o PS parte em clara desvantagem para o PSD, com cinco contra 11 num total de 20.

Mas, se os social-democratas têm os presidentes de quatro delas em limite de mandato (Aveiro, Braga, Faro e Santarém), o PS tem apenas Vila Real. Contudo, no cômputo geral, os socialistas sentem a maior pressão de limite de mandatos, com um terço dos seus presidentes de Câmara a não poderem recandidatar-se este ano.

Em entrevista ao ECO/Local Online, André Rijo, coordenador autárquico do PS, admitia em julho que “uma das ambições” do partido é “ter mais capitais de distrito lideradas pelo Partido Socialista. Fizemos apostas fortes em alguns casos […], pessoas que já tiveram encargos governativos de elevada responsabilidade. Os exemplos são conhecidos, no Porto, em Lisboa, em Coimbra, em Bragança. Em Évora, com o [Carlos] Zorrinho”. Todos estes candidatos estarão na convenção neste sábado, o mesmo acontecendo com Rijo.

Ainda no capítulo das capitais de distrito, o Porto é terra virgem, com o autarca independente a sair por ter atingido já os 12 anos consecutivos e Manuel Pizarro a levar uma vantagem teórica sobre o ex-ministro Pedro Duarte – a de o PS ter sido o partido mais votado em 2021 na “Invicta”, ainda que com uns curtos 18% atingidos por Tiago Barbosa Ribeiro num concelho que já foi dominado pelo PS e que se insere num distrito onde o PS superou os 40%.

Também presente neste sábado em Coimbra estará a ex-ministra Ana Mendes Godinho, obreira na sucessão de Basílio Horta em Sintra, onde o PSD volta a abraçar Marco Almeida e o Chega, que venceu ali nas legislativas, apresenta Rita Matias. Ao palco conimbricense subirá outra ex-ministra de António Costa responsável pela luta autárquica, Ana Abrunhosa, que ao lado do presidente do partido, Carlos César, de Luísa Salgueiro e outros camaradas de partido, discutirá “a força dos autarcas socialistas”.

Com três salas a acolherem painéis de discussão, o programa chama a debate pelas 11h00, Alexandra Leitão, Manuel Pizarro e o candidato à sucessão de José Ribau Esteves em Aveiro, Alberto Souto, numa discussão à volta de temas como habitação e mobilidade entre pretendentes a capitais de distrito.

Em simultâneo, estará a decorrer uma conversa em que Fernando Medina, ex-ministro das Finanças e o incumbente que em 2021 perdeu Lisboa para Carlos Moedas, debaterá com as candidatas a Coimbra e Sintra, bem como os pretendentes a duas capitais de distrito governadas pelo PCP, Fernando José (Setúbal) e Carlos Zorrinho (Évora).

Ausentes da agenda de debates estão autarcas que têm protagonizado casos difíceis de gerir dentro do PS ao longo do mandato, com destaque para o trio de Alpiarça, Benavente e Loures, todos com declarações polémicas e que motivaram insinuações ou mesmo acusações de colagem ao discurso da direita populista, incluindo de figuras proeminentes do PS.

O final da manhã de convenção autárquica levará José Luís Carneiro ao palco, sendo já certo que no seu discurso não faltará a palavra “ganhar”. Como referiu na entrevista desta semana, e o PS não deixou de realçar no seu site, “o Partido Socialista joga para ganhar. E eu vou jogar para ganhar as eleições”. E mesmo que o objetivo do jogo saia furado, Carneiro anunciou esta semana, à CNN, que é “o líder que continua”.

Quanto ao partido, como destaca André Rijo ao ECO/Local Online, “o futuro do Partido Socialista não se joga em termos de tudo ou nada nestas eleições autárquicas. Não é justo um partido com estes 52 anos de história fazer uma avaliação sobre a sua viabilidade ou não através de umas eleições autárquicas”.

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