Vem aí o Contabilista 3.0 para agilizar a troca de dados com as empresas

A bastonária da OCC explica que está em marcha uma iniciativa com o objetivo de centralizar a informação financeira das empresas que vai facilitar a troca de dados com os contabilistas certificados.

A Ordem dos Contabilistas Certificados (OCC) quer pôr em marcha o chamado “Contabilista 3.0”. Uma iniciativa que abrange vários projetos com o objetivo de facilitar a troca de documentos entre as empresas, nomeadamente as de menor dimensão, e o contabilista certificado, através de um sistema que poderá centralizar estes dados. Este passo, que será possível graças às novas tecnologias, como é o caso da inteligência artificial (IA), permitirá libertar os profissionais de tarefas rotineiras que a Ordem considera não trazerem valor acrescentado para o seu trabalho, para os empresários e para a economia.

“Não temos o foco naquilo que é a informação financeira e em trazê-la de forma atempada. O nosso foco tem de ser esse”, afirmou Paula Franco, bastonária da OCC, na reunião habitual realizada na semana passada, apontando que o “Contabilista 3.0” poderá levar “as empresas para outro patamar”. De acordo com a responsável, “as tecnologias têm coisas positivas desde que saibamos utilizá-las e pôr ao nosso serviço. É neste foco que vamos trabalhar para que a partilha de documentos entre empresários e o contabilista certificado esteja mais facilitada”. Projetos de simplificação, que explicou, terão de ser levados ao Governo para que possam avançar.

"O ‘Contabilista 3.0’ tem de se libertar de tudo o que é redutor na sua relação com a empresa e focar-se naquilo que é verdadeiramente importante. Esse passo tem de ser dado. Há vários projetos que serão apresentados em 2026.”

Paula Franco

Bastonária da Ordem dos Contabilistas Certificados

Agora, em conversa no Podcast do ECO “E se corre bem?”, Paula Franco vai mais longe e dá mais detalhes sobre esta que será uma das prioridades da Ordem no próximo ano. “Os contabilistas têm sempre tantas tarefas para cumprir que acabam por não cumprir as suas tarefas tão atempadamente quanto seria desejável para a maioria das empresas, principalmente para as micro e pequenas. As grandes empresas têm recursos, têm departamentos financeiros e têm informação muito mais atempada, mas isto tem de ser transversal a todas. A economia só cresce se a informação financeira for muito mais além e servir os interesses da empresa”, afirmou a bastonária.

“Por isso é que acho que temos condições agora, com as tecnologias e com a IA, de ir mais além. O ‘Contabilista 3.0’ tem de se libertar de tudo o que é redutor na sua relação com a empresa e focar-se naquilo que é verdadeiramente importante. Esse passo tem de ser dado. Há vários projetos que serão apresentados em 2026. Acreditamos que contaremos com a reforma do Estado, porque vai ser fundamental”, acrescentou ainda, dando um exemplo de como é que isto poderá ser feito.

Contabilista passa 30% do tempo atrás de documentos

“Há uma tarefa que o contabilista faz diariamente e que não traz valor acrescentado a ninguém, que é andar atrás dos documentos. Por vezes, anda atrás dos empresários a pedir faturas de um ou dois euros. Isto é redutor para todos. Mas é informação e são dados que têm de ser tratados. Este andar atrás do empresário cria uma fricção enorme. O contabilista precisa dos documentos para os tratar, mas gastamos muitos recursos, energia e tempo com isto. Causa desgaste na relação e não traz o valor acrescentado”, refere Paula Franco, frisando que “20% a 30% do tempo do contabilista é passado atrás de documentos”.

"O desenho que temos é de um processo centralizador de documentos, zero papel, em que exista uma entidade que centralize todos os documentos das empresas, com muita proteção de encriptação para que os dados não vão parar aos sítios errados.”

Paula Franco

Bastonária da Ordem dos Contabilistas Certificados

“Isto tem de acabar. O desenho que temos é de um processo centralizador de documentos, zero papel, em que exista uma entidade que centralize todos os documentos das empresas, com muita proteção de encriptação para que os dados não vão parar aos sítios errados”, explica a bastonária, notando que “isto não pode estar em organismos públicos que precisem destes dados. Tem de estar numa entidade completamente autónoma que não utilize os dados nem precise de os utilizar. Depois, [deve haver] uma central de consentimentos” para o empresário autorizar a partilha destes dados.

“É preciso proteger os dados para que as empresas tenham confiança num sistema como este e queiram fazer parte dele e para tirar este peso administrativo às empresas e aos contabilistas certificados e a outras entidades”, conclui a representante dos contabilistas certificados em Portugal.

Do que foi possível apurar, este projeto será diferente daquele que foi anunciado pelo Governo, em setembro, relativamente à criação de uma “carteira digital” do empresário, que concentrará todos os documentos, bem como um portal eletrónico para gerir os licenciamentos, que irá funcionar como agregador utilizando IA. O ministro Adjunto e da Reforma do Estado, Gonçalo Saraiva Matias, afirmou, já este mês, que esta carteira terá uma versão de teste a funcionar em janeiro de 2026.

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