Há um novo gigante nos media? O que vale uma ‘MediaCof’
Em 2019 a Cofina tentou comprar a Media Capital, agora o negócio poderá ser o inverso. A concretizar-se, a 'MediaCof' será o novo gigante dos media, deixando a Impresa para trás.
A Media Capital está a negociar a compra da Cofina? Depois de uma noticia do Observador e da suspensão das ações em bolsa, os dois grupos de media fizeram comunicados ao mercado, a partir dos quais é possível perceber que o setor está em efervescência. Sem confirmarem negociações, as empresas que controlam a TVI e o Correio da Manhã sinalizaram movimentações de mercado, contactos de consultores externos e avaliação de oportunidades.
O grupo liderado por Paulo Fernandes “esclarece que foram realizadas abordagens preliminares por diversos assessores externos, com vista a encetar possíveis negociações, que estão a ser objeto de análise pela sociedade, sem que haja, na presente data, qualquer decisão ou conversações, entre a Cofina e, nomeadamente, a Media Capital ou os seus acionistas, relacionadas com a matéria da referida notícia“. Já a Media Capital acrescenta, em comunicado enviado cerca de uma hora depois, que “como sucederá com as demais empresas do setor dos media, está atenta e disponível para analisar oportunidades de negócio que possam surgir“.
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Este negócio, a concretizar-se, é um volte face no mínimo inesperado. Em 2019, o que estava em cima da mesa era uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) da Cofina sobre a Media Capital, negócio que foi, até, aprovado pelas entidades reguladoras, nomeadamente em termos de concentração no setor. O negócio caiu, Paulo Fernandes (líder da Cofina) e Mário Ferreira (agora maior acionista da Media Capital) entraram num confronto profissional e perdeu-se a passada relação pessoal.
E que valem os dois grupos em audiências e em negócio?
Se olharmos para as audiências, aos cerca de 20 pontos de share da Media Capital juntam-se os 5,1% da CMTV, canal registado na ERC como generalista. E este potencial negócio, a concretizar-se, surge precisamente no momento em que a TVI está prestes a ultrapassar a SIC como canal líder de mercado.
Do ponto de vista de mercado de capitais, a Media Capital tem neste momento uma capitalização bolsista de 102,93 milhões de euros, com reduzida liquidez, enquanto a Cofina vale 26,74 milhões de euros. Na manhã desta sexta-feira, antes da suspensão decretada pela CMVM, as ações da Cofina estavam a valorizar 15,44%.
Em conjunto, e já retirando o contributo das rádios, vendidas por cerca de 70 milhões de euros à Bauer em maio de 2022, as receitas dos dois grupos de media situavam-se nos 215,1 milhões de euros em 2021, último exercício completo conhecido. Se o negócio se concretizar, o novo grupo torna-se assim o maior player do setor dos media em Portugal. A Impresa, dona da SIC e Expresso, faturou cerca de 190 milhões de euros em 2021.
Em publicidade, a maior fonte de receita, se juntarmos os números da Cofina e da TVI, mais uma vez referentes a 2021, chegamos aos 117,6 milhões de euros. Ora o mercado valia nesse ano, em investimento publicitário proveniente de agências de meios – excluindo os clientes diretos – 489 milhões de euros.
O EBITDA (resultado operacional) dos dois grupos nesse período foi de 23,7 milhões, 14,8 da Cofina e 8,9 da Media Capital, com as rádios a darem um contributo de 7,8 milhões. Em 2021, recorde-se, parte do ano foi ainda vivido em ambiente de pandemia, com reflexos nas receitas dos grupos de media, ainda a recuperarem de um 2020 no qual as receitas de publicidade travaram a fundo.
Já no primeiro semestre de 2022, últimos números conhecidos, as receitas operacionais da Cofina situaram-se nos 37,5 milhões, uma variação positiva de 5,9%. Em circulação o grupo liderado por Paulo Fernandes obteve receitas de 14,6 milhões, em publicidade de 13,5 milhões e o item “outras receitas operacionais” fechou nos 9,3 milhões. A imprensa, no grupo dono do Correio da Manhã, do Record, da Sábado ou do Jornal de Negócios vale 27,8 milhões em receitas e a televisão 9,7. O EBITDA foi de 6.6 milhões.
A Media Capital, por seu turno, teve rendimentos operacionais de 77,4 milhões, excluindo a venda das rádios (mas com 5 meses de exercício das mesmas).
O EBITDA, ajustado de gastos líquidos com provisões e reestruturações, assim como o montante da mais-valia gerada pela alienação do negócio das Rádios, foi de 1,3 milhões, que compararam com os -2 milhões do período homólogo do último ano. Sem ajustamentos, o EBITDA foi de 46,3 milhões, que compararam com os -4,5 milhões do período homólogo.
Analisando por áreas, a televisão gerou 64,7 milhões de euros, um crescimento de 5% em relação ao primeiro semestre de 2021. A produção audiovisual, por seu turno, registou uma quebra de 2%, situando-se nos 16,2 milhões. A área de rádio e entretenimento, na qual só foram contabilizados cinco meses, situou-se nos 8,4 milhões, um crescimento de 15%.
Em publicidade, o grupo dono da TVI obteve 54,3 milhões de euros, um crescimento de 9% na comparação com os primeiros seis meses do último ano. Desses, 44,7 milhões foram rendimentos da operação televisão, que cresceu 5% em relação aos primeiros seis meses do último ano. No item Outros Rendimentos, que representaram cerca de 20 milhões do negócio televisão, não houve variação.
No final do primeiro semestre de 2022, a dívida da Cofina fixava-se nos 31,6 milhões e a da Media capital, em termos líquidos por força do ‘caixa’, situava-se nos 16,1 milhões.
Uma história com quatro anos
Mas vamos recuar quatro anos. A Cofina, recorde-se, chegou a ter um acordo com a Prisa para a compra da Media Capital, na altura por 255 milhões de euros. De acordo com o anúncio preliminar feito na altura, a dona do Correio da Manhã propunha-se pagar 2,3336 euros por cada ação da dona da TVI que não é controlada pela Prisa e 2,1322 euros pelas mais de 80 milhões de ações que estavam nas mãos do grupo espanhol. Assim, a oferta global ascendia a 180 milhões de euros. Incluindo a dívida (enterprise value), a operação de compra da Media Capital envolve cerca de 255 milhões de euros.
A Cofina acabou por desistir do negócio em março de 2020, justificando a decisão com o falhanço, por menos de três milhões, do aumento de capital de 85 milhões que estava em curso. Mário Ferreira (também acionista do ECO), ter-se-ia tornado na altura acionista da Cofina e também da Media Capital. Abortada a compra, acabou por ser o dono da Douro Azul, em maio desse ano, a chegar a acordo com a Prisa para ficar com 30,22% do grupo por 10,5 milhões de euros.
Seguiu-se quase um ano de luta pelo controlo do grupo, até que em março de 2021 a Cofina anunciou que desistia da OPA voluntária sobre 95% do capital da dona da TVI e o grupo de acionistas liderado por Mário Ferreira ficou com caminho livre .
Dois anos depois, a consolidação dos dois grupos volta a ser uma realidade, agora com a Media Capital já sem as rádios e com a CNN Portugal, em vez da TVI24.
“Após análise exaustiva, a AdC considera que a operação de concentração não é suscetível de criar entraves significativos à concorrência em qualquer um dos mercados relevantes considerados, entre os quais o dos canais de acesso não condicionado para televisão por subscrição, da imprensa e outros conteúdos digitais ou ainda no da publicidade“, dizia em dezembro de 2019 a Autoridade da Concorrência sobre o negócio, não aplicando nenhum remédio. Hoje, de acordo com as fontes ouvidas pelo +M/ECO, a decisão deverá ser idêntica.
“Precisar [de consolidação] não precisamos. Mas, se existir algum processo, a Media Capital quer participar”, afirmava no final de janeiro Pedro Morais Leitão, CEO da Media Capital. Para o gestor, a consolidação não é necessária na medida em que tanto a Impresa como a Media Capital são grupos que “já têm escala crítica”. No entanto, prosseguia, “o problema é que quando um passa a liderar o outro fica desequilibrado, porque tem a estrutura preparada para a liderança”. A vantagem num cenário de consolidação, dizia, é que o grupo tem “estrutura montada para produzir canais de televisão adicionais de forma muito eficiente”. “Tanto nós como a Impresa conseguimos fazer conteúdo com qualidade a um custo interessante”, acrescentava.
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