As questões em aberto no futuro das redes sociais
O mundo das redes sociais é volátil. Será a mudança do Twitter uma boa aposta? Irá o rival Threads triunfar? O futuro do TikTok também passa pelo texto? Atualmente são várias as questões em aberto.
Em que sentido vão evoluir as redes sociais? Estará aberta uma corrida pela ocupação do espaço que o X (ex-Twitter) poderá vir a deixar em aberto? A reformulação feita por Musk pode ter sido uma decisão acertada? O Threads, recordista a atingir a marca de um milhão de utilizadores, vai conseguir impor-se? São várias as questões envolvendo o passado, presente e futuro das redes sociais, pelo que o +M fez uma breve síntese do que mais importante ocorreu e está acontecer com as principais plataformas.
TikTok – entre banimentos e uma nova aposta no texto
Para a rede social chinesa TikTok, o ano de 2023 começou a ficar marcado pelos receios de vários países ocidentais quanto ao alegado facto de esta partilhar dados dos seus utilizadores com Pequim. Dos EUA e do Reino Unido à União Europeia ou à Nova Zelândia, foram vários os países que proibiram ou restringiram o uso do TikTok nos telemóveis e computadores de trabalho dos funcionários públicos.
Estes países apontaram riscos de cibersegurança, espionagem, propaganda ou desinformação como motivo para o banimento total ou parcial da aplicação nos dispositivos dos funcionários públicos. O governo dos EUA ameaçou mesmo banir o TikTok do país, caso a rede social continuasse nas mãos do grupo chinês ByteDance, algo que acabou por não acontecer.
No entanto esta rede social é a que mais tem crescido entre os jovens – em oposição ao Facebook – e tem apostado no seu potencial publicitário e em parcerias com as marcas. A título de exemplo, além de se ter juntado à Pepsi na promoção de um espetáculo na final da Liga dos Campeões, também uniu forças com a FIFA na celebração do Campeonato do Mundo de Futebol Feminino, de forma a oferecer “conteúdos personalizados”.
Em maio lançou o “Pulse Premiere”, um novo sistema de publicidade para aproximar marcas dos media, visando incentivar os anunciantes a colocar vídeos das marcas juntamente com os conteúdos produzidos, e lançou uma “academia” em Portugal para apoiar marketeers, com o objetivo de ajudar os profissionais das marcas e agências a tirarem o melhor partido das soluções oferecidas pelo TikTok for Business.
Recentemente o TikTok, rede social cuja funcionalidade se baseia bastante no vídeo, parece estar a inclinar-se para uma aposta em texto, tendo anunciado no dia 24 de julho o lançamento de publicações em texto, um novo formato de conteúdo que visa permitir aos criadores partilhar as suas ideias e criatividade também desta forma.
A nova possibilidade de criar conteúdos em formato texto conta com diversos recursos, como stickers, hashtags, cores de fundo ou a possibilidade de adicionar sons.
X / Twitter – um ano errático, um reset “necessário” e um futuro incerto?
Elon Musk comprou o Twitter em outubro de 2022 por 44 mil milhões de dólares (cerca de 39 mil milhões de euros). Desde então, a rede social tem sofrido uma onda de mudanças e sobressaltos na orientação do negócio, à qual não escaparam as vagas de despedimentos.
Abandonou o Código de Conduta em Matéria de Desinformação – código voluntário promovido pela União Europeia e assinado pelas principais plataformas e players do setor – relançou o Twitter Blue, um serviço premium, e retirou o selo azul de verificação àqueles que se recusaram a pagar esta subscrição, e limitou a publicidade a anunciantes que pagassem pela verificação.
Depois de em março ter estimado o valor atual do Twitter em 20 mil milhões de dólares (menos de metade de quando o comprou), foi também o próprio Musk que em julho divulgou que a rede social havia perdido metade das receitas de publicidade e que tinha contas deficitárias.
Ainda antes, em maio, Linda Yaccarino, ex-líder do departamento de publicidade e parcerias da NBCUniversal, foi a escolhida por Musk para o substituir como CEO do Twitter, passando a ocupar a posição de presidente executivo e CTO – diretor de tecnologia (chief technology officer).
A mais recente mudança – bem vertiginosa – foi a alteração de nome de Twitter para “X”, bem como a alteração do logótipo da rede social. Dez meses depois de ter anunciado no próprio Twitter que o pássaro estava livre, foi o próprio Musk que tomou a decisão de o “matar”, substituindo-o por um “X“.
O rebranding da rede social por parte de Elon Musk terá sido feita com o objetivo de a vir a transformar numa aplicação completa, com mensagens ou pagamentos, como o WeChat na China. “X é o estado futuro de interatividade ilimitada – centrado em áudio, vídeo, mensagens, pagamentos/banco – criando um mercado global para ideias, bens, serviços e oportunidades”, sublinhou a entretanto nomeada CEO, Linda Yaccarino.
Nas redes sociais, e em especial no Twitter, choveram de imediato as críticas quanto àquele que foi visto domo mais um passo “errático” na gestão da plataforma por parte do homem mais rico do mundo, mas especialistas em marcas contactados pelo +M disseram acreditar que a decisão pode ter sido um “golpe de génio”.
Incerto parece ser assim o futuro da X (ou não fosse o “X” a representação do desconhecido numa equação matemática), cuja “problemática” realidade foi ainda agravada pelo surgimento e escalada – o que lhe valeu a ameaça de um processo – de um novo rival direto: Threads, a nova rede social da Meta.
Meta, entre novas apostas e disputas e concessões legais
Threads, é assim o nome da nova aposta da Meta, uma nova rede social, baseada em texto, criada para destronar a X (Twitter) e que está disponível em 100 países, dos quais se exclui a União Europeia, para já, uma vez que as entidades europeias não aprovaram o seu lançamento no continente por ser obrigatório o utilizador ter uma conta de Instagram para poder criar um perfil no Threads.
A aplicação, que está assim vinculada ao Instagram, tem uma interface muito parecida com a do Twitter, sendo no entanto as mensagens agrupadas em apenas duas colunas, “threads” e “respostas”. Os utilizadores podem gostar, comentar, partilhar ou reencaminhar as mensagens.
O sucesso da rede social foi imediato mas, ao que parece, efémero. Em sete horas a nova rede social ganhou dez milhões de perfis, enquanto a marca de 100 milhões de utilizadores foi superada em apenas cinco dias. No entanto, muitos destes utilizadores não se “fidelizaram” com a plataforma, tendo a mesma alegadamente perdido metade deles.
“Se tens mais de 100 milhões de pessoas a registarem-se, idealmente seria fantástico se todas ou até metade delas permanecessem, mas ainda não chegámos a esse ponto”, disse Mark Zuckerberg, líder da empresa dona do Facebook, Instagram, Threads e Whatsapp, citado pela Reuters.
Zuckerberg disse ainda que encarava as desistências como algo “normal” e que só esperava alcançar um elevado grau de retenção de utilizadores quando a rede social dispusesse de mais funcionalidades, incluindo uma versão desktop e pesquisa. Noo seu lançamento, a rede social foi, de facto, criticada pelas funcionalidades limitadas de que dispunha, refere a BBC.
Um estudo da Similarweb aponta também para que, num mês, a nova rede social tenha sofrido um decréscimo de 79% de utilizadores ativos. De acordo com os dados do estudo, enquanto no dia 7 de julho o Threads contava com um total de 49,3 milhões de utilizadores diários ativos (apenas na app Android), um mês depois, este número era de apenas 10,3 milhões.
Na Europa a Meta tem sido pressionada pelos reguladores da União Europeia no que diz respeito à recolha e uso de dados dos utilizadores (como a sua localização física) e de os usar para direcionar anúncios – a chamada publicidade comportamental.
Recentemente a empresa anunciou que pretende permitir que os utilizadores das suas redes sociais na União Europeia, Espaço Económico Europeu e Suíça tenham de efetivamente dar a sua autorização antes de os anunciantes poderem recolher os seus dados. A Noruega já se tinha adiantado a este anúncio e à União Europeia e já havia tomado a decisão de banir esse tipo de anúncios do Facebook e Instagram.
Outra questão que tem afetado a Meta prende-se com o seu relacionamento com os media e a partilha de receitas. No Canadá, por exemplo, a empresa decidiu iniciar um bloqueio de notícias no país, em resposta à lei Online News Act, do governo canadiano, que pretende “obrigar” as plataformas tecnológicas – como a Meta ou a Google – a repartir receitas com os meios de comunicação canadianos pelos seus conteúdos.
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