“Para os espectadores da CMTV, o Now será um canal concorrente”
O novo canal da Medialivre, mas também a CMTV, a manutenção dos títulos em papel e o projeto Alfa, iniciativa que leva a empresa no sentido do digital first, passados em revista por Carlos Rodrigues.
“Assim que sentimos que a CMTV tinha o seu caminho traçado de sucesso, começamos a inquietar-nos. Depois, quando eu me tornei diretor, continuei os trabalhos e fiz o meu caminho das pedras. E depois, quando houve a mudança acionista da empresa, conseguimos finalmente criar condições para desenvolver a ideia“. É desta forma que Carlos Rodrigues, diretor-geral editorial da Medialivre, recorda o início do Now, canal de informação que será lançado nas próximas semanas pelo grupo também dono do Correio da Manhã, do Jornal de Negócios e da Sábado.
Apesar da aposta em televisão, e dos números da imprensa estarem a decrescer, Carlos Rodrigues garante que o grupo não vai desistir do papel. Em simultâneo está a ser implementado o projeto Alfa, iniciativa que vai levar o grupo no caminho do digital first.
Em 2021, apontava dois pontos como fundamentais para a CMTV, a ficção e o desafio do streaming. A ficção acabou por não avançar…
Na CMTV temos um princípio básico, quem manda é o espectador, e o espectador diz-nos que quer um canal de intensidade máxima, de proximidade máxima e de reação rápida à realidade. Limitamo-nos a reconhecer que o nosso poder relativamente ao que fazemos é mínimo. São os espetadores que moldam o sucesso da CMTV, são os espectadores, no fundo, que definem as nossas opções estratégicas. E estas, como os resultados têm mostrado, têm sido as mais apropriadas.
E o streaming?
Neste momento, temos as baterias viradas para outros projetos e vamos também aí continuar a trabalhar ouvindo e lendo os inputs do mercado, de forma a percebermos o que é que pode acontecer. Acompanhamos com muita atenção, eu pessoalmente acompanho com muita atenção, a experiência do Opto há algum tempo, o mercado tira algumas lições e penso que a Impresa também.
Não vejo atualmente que o Opto faça diferença para a SIC, mas pode ser por falta de informação. Sob o ponto de vista da informação que eu tenho, se perguntasse ao Dr. Francisco Pedro Balsemão se preferia liderar na SIC, manter a liderança, ou aprofundar a Opto, tenho a certeza de qual seria a resposta dele
Qual é o principal ensinamento que tira com a experiência da Opto?
Diria que, por vezes, há opções que podem ser tomadas com base nalguns pressupostos que depois não se verificam e que é necessário ter sempre a capacidade de correção do caminho a todo o momento. Nós, na Medialivre, fazemos isso permanentemente.
O que quer dizer? Descontinuava o projeto?
Não sei, não conheço. A Impresa tem uma equipa de gestão ótima, tenho a certeza que faz essa análise. Eu estou a limitar-me a analisar como espectador e como profissional da indústria. Não vejo atualmente que o Opto faça diferença para a SIC, mas pode ser por falta de informação. Sob o ponto de vista da informação que tenho, se perguntasse ao Dr. Francisco Pedro Balsemão se preferia liderar na SIC, manter a liderança, ou aprofundar a Opto, tenho a certeza de qual seria a resposta dele…
Voltando à Medialivre, as receitas da imprensa são mais do dobro das receitas de televisão, mas os os custos também. E a margem, o lucro, da imprensa está a diminuir a um ritmo acelerado. Como é que vê o grupo a médio prazo?
Na entrevista que lhe dei há três anos, que foi a primeira quando me tornei diretor do Correio da Manhã, disse que acreditava no futuro do papel. Acredito no futuro do papel e tenho a certeza absoluta que o Correio da Manhã é um jornal com um futuro vibrante e, do meu lado e do lado da minha equipa, tudo faremos para que assim aconteça. O papel voltará a ser um elemento importante na indústria dos media.
Acredita mesmo que o papel voltará a ser um elemento importante na indústria dos media?
Estamos todos os dias, eu e a minha equipa, a trabalhar para que isso aconteça. E, portanto, não estamos disponíveis para desistir do papel. Porém, a quebra de receitas que refere é recebida na Medialivre, sempre da mesma forma: Se as receitas descem, os custos tem que descer. Porque senão, o que é que se perde? É a liberdade. E não vamos perder a liberdade. Nós somos a casa das notícias e para sermos a casa das notícias temos que ter a viabilidade financeira suficiente para podermos pagar a operação.
Acredito no futuro do papel e tenho a certeza absoluta que o Correio da Manhã é um jornal com um futuro vibrante e, do meu lado e do lado da minha equipa, tudo faremos para que assim aconteça.
Estão a diminuir o número de jornalistas do Correio da Manhã em papel?
Tivemos um programa de redução de custos. Não é uma coisa que seja continuada. A nossa redução de custos é sempre calculada com base no mesmo princípio da gestão, se as receitas de determinado produto descem, os custos também têm de descer. Portanto estamos a falar do Correio da Manhã, mas podemos falar de outros produtos, porque o princípio é todo ele o mesmo. Mesmo na CMTV, se alguma vez baixar as receitas terá que baixar os custos.
A saída de jornalistas…
Tivemos um projeto universal e voluntário, para pessoas acima dos 60 anos que quisessem sair por alguma razão, nomeadamente situações de reforma ou equiparadas. Quem quis sair saiu, quem não quis continuou.
Mas estão a contactar as pessoas no sentido de saírem?
Não. E esse processo já está, não sei se totalmente encerrado, mas resolvido.
Quantas pessoas saíram?
Ao abrigo desse projeto, sete.
O que me dizem é que estão a convidar a sair jornalistas na casa dos 60 anos, como o Otávio Lopes, João Maltez, Miguel Ganhão, Rogério Chambel, Paulo Fonte..
O projeto de saída de pessoas com 60 ou mais anos foi voluntário. Aderiu quem decidiu aderir e quem achou que as condições de saída eram vantajosas. Mas, se houver alguma situação em que alguma pessoa, por alguma razão, possa representar um custo acrescido para a operação, nós faremos aquilo que fazemos sempre: enfrentamos o equilíbrio entre custos e receitas da forma mais racional possível.
As nossas produções de imprensa passarão a ser feitas sobretudo no digital. Mas eu sobre o projeto Alfa, neste momento, não tenho mais informação para dar.
Temos em marcha também um projeto importante, e que não comunicamos porque é sobretudo interno, que é o Projeto Alfa. É um projeto de adequação do funcionamento das redações ao digital. E isso é natural que provoque também alguma necessidade de equilíbrio entre o custo da operação e o benefício que se tira dela e, portanto, em alguns casos, pode ser necessário fazer alguma adequação.
O projeto Alfa consiste em quê?
É a introdução do princípio básico de funcionamento de uma redação moderna ao universo Medialivre, digital first. As nossas produções de imprensa passarão a ser feitas sobretudo no digital. Mas eu, sobre o projeto Alfa, neste momento, não tenho mais informação para dar.
Quando é que será implementado?
Está a ser implementado. Desde logo estamos a adequar os custos, e isso é importante. Depois, estamos a fazer alguma inovação tecnológica ao nível sobretudo do cruzamento de plataformas entre a imprensa e o digital.
Será sobretudo um backoffice comum?
É um pouco mais do que isso. Mas é a alteração, sobretudo, da forma de pensar os fluxos informativos.
Ou seja, em vez dos textos serem escritos em página de jornal…
Passaremos a ter o digital first, sim. O essencial aí é a nossa operação jornalística estar cada vez mais pujante e cada vez mais polivalente, ou seja, procurarmos que aquilo que pode ser partilhado entre os diversos títulos, o possa ser, e que a personalidade autónoma de cada um dos títulos – que é, no fundo, a razão de ser para os manter, possa ser acentuada e tenha mais recursos através da criação de serviços comuns. Libertaremos recursos para que possamos ter mais meios, mais energia e mais imaginação para reforçar o que distingue cada um dos títulos dos outros.
O projeto Alfa vai significar que a empresa vai necessitar de menos jornalistas ou vai precisar dos jornalistas com outras competências?
Vai precisar que os jornalistas tenham mais competência, menos jornalistas não. Nós acabamos de contratar agora 59 pessoas.
Para a televisão.
Somos uma empresa que está a contratar bastante. Agora, é natural que cada jornalista precise, em cada uma das funções, de repensar a forma como se relaciona com as tecnologias, a profissão, o workflow. Mas, como disse, o objetivo principal do Projeto Alfa é criar condições para que haja uma transversalidade de algumas ações em redor da atividade jornalística, de forma a libertar meios e energia para que cada um dos títulos possa ser mais criativo e apostar mais naquilo que é único e diferenciado na sua proposta.
O Correio da Manhã vende atualmente cerca de 36 mil exemplares e tem cerca de 2500 no digital. O digital não tem crescido…
A aposta do Correio da Manhã até agora tem sido sobretudo no meio televisivo, quer no papel. Estou em crer que com o projeto Alfa essa aposta pode ser redirecionada. Porém, o Correio da Manhã desempenha um papel fundamental na imprensa nacional, que é o papel da proximidade com os leitores que, por todo o país, todos os dias desembolsam 1,5 ou dois euros, voluntariamente, para comprar o seu jornal. E dessa dimensão do projeto Correio da Manhã – mesmo com a relevância crescente que a CMTV tem no mercado – não estaremos disponíveis para abdicar.
E o Negócios vai continuar a existir em papel?
Claro, naturalmente. Não tenho nenhum plano, e que saiba a administração também não, em outro sentido.
E a rádio? Já receberam autorização da ERC para comprar as rádios SBSR e Festival.
É um projeto que está neste momento com a administração. O grupo já teve uma rádio e é uma ambição para o meu grupo de trabalho que volte a ter. Agora, se vai acontecer ou não, não tenho a informação ainda.
A CMTV não vai mudar com o lançamento do Now?
A CMTV vai mudar, para melhor. Ou seja, todos os dias estará mais sólida, mais perto da notícia, a responder melhor primeiro a tudo o que acontece, e os espectadores todos os dias o têm sentido. Para os espectadores da CMTV, o Now será um canal concorrente e para o mercado mais um parceiro.
Quando é que arranca o Now?
Assim que estiver pronto.
Não será antes das eleições?
Não, nem nunca esteve em cima da mesa. A noite eleitoral é uma emissão que implica um esforço muito grande, é a emissão mais complexa de se fazer em televisão e, portanto, começarmos um canal pela noite eleitoral… Temos muita confiança no nosso trabalho e sabemos perfeitamente o que é que precisamos de fazer para ter sucesso, mas também não convém exagerar e correr riscos desnecessários.
Mantém-se o objetivo de arrancar até ao final de junho?
Não estou a dizer que se mantém, porque não sei.
Depois entra o verão…
Para nós, todos os dias são iguais. Na verdade, este processo começou há poucos meses, portanto será, em qualquer caso, um arranque recordista.
Um dos vossos acionistas é Cristiano Ronaldo, como é público.
A empresa, CR7SA, o próprio Cristiano acho que não.
Cristiano Ronaldo vai ter, de alguma forma, participação no projeto?
No canal? Quem me dera. Quem é que não gostava de ter o Cristiano Ronaldo no seu canal?
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