Instabilidade política vai condicionar a execução dos fundos europeus, diz presidente da AEP

Presidente da AEP, Luís Miguel Ribeiro, defende maior autonomia dos organismos que gerem fundos comunitários face aos ciclos políticos. Efeitos das medidas para acelerar os fundos ainda não se sentem.

A instabilidade política vai condicionar a execução dos fundos europeus “sem grande margem para dúvidas”, diz o presidente da Associação Empresarial de Portugal. Luís Miguel Ribeiro denuncia os atrasos e “alguma dificuldade em tomadas de decisão em processos de lançamento de novos avisos”, o que vai atrasar ainda mais a execução e defende uma maior autonomia dos organismos que gerem os fundos comunitários face aos ciclos políticos.

Constrangimentos ao nível do “tempo de análise, o tempo de decisão, o tempo de conclusão das análises, os processos, os procedimentos, está tudo muito semelhante ao que era antes” continuam a fazer-se sentir apesar das medidas adotadas pelo Governo para acelerar a execução dos fundos, diz Luís Miguel Ribeiro no ECO dos Fundos, o podcast quinzenal do ECO sobre fundos europeus. “Essas medidas ainda não se estão a sentir”, assegura.

A instabilidade política vai ou não condicionar a execução dos fundos europeus?

Diria, sem grande margem de dúvidas, vai. Neste momento já está atrasado, nota-se e sente-se alguma insegurança ou alguma dificuldade em tomadas de decisão em processos de lançamento de novos avisos, em processos de aprovação, em conclusão de alguns processos que ainda vêm de trás. E sabemos como é que a Administração Pública reage nestas fases. Os organismos que gerem os fundos comunitários, deviam ter uma autonomia e uma forma de trabalho não tão…

Com maior independência da política?

Exatamente. Neste momento, o que sentimos, e é fácil olhar para os números, o PRR está com 32% de execução e estamos a um ano e pouco de concluir. O Portugal 20 está com 6,2% no final de fevereiro de execução, ou seja, estamos muito atrasados. E, sinceramente, sinto que há alguma dificuldade em ultrapassar constrangimentos que já existiram noutros anos, noutros programas comunitários de apoio e que se continuam a verificar.

Como, por exemplo?

Como, por exemplo, o tempo de análise, o tempo de decisão, o tempo de conclusão das análises, os processos, os procedimentos, está tudo muito semelhante ao que era antes.

Mesmo depois de todas as medidas que o Executivo foi adotando para tentar acelerar a execução dos fundos europeus?

Essas medidas ainda não se estão a sentir. Espero que se venham a sentir e rapidamente, porque temos de acelerar e acelerar muito. Neste momento, olhando para os indicadores, estamos com alguns indicadores interessantes, mas é preciso olhar depois para o que resultam. Temos indicadores do crescimento do PIB que resultam, sobretudo, do consumo interno. O que tem algumas vantagens para algumas empresas com determinadas características, mas para a economia nacional era preferível que este crescimento fosse mais focado no investimento e nas exportações. Devia ser claramente uma aposta e uma preocupação. E para estes dois processos, os fundos comunitários são absolutamente fundamentais e cruciais. Aliás, veja-se o que é que está previsto para 2027 depois de terminar o PRR.

O Boletim Económico do Banco de Portugal alerta para isso mesmo — a queda do investimento.

O Banco de Portugal alerta para isso. Vai cair. Ou seja, estamos muito dependentes destes apoios para o investimento, sobretudo o investimento público. Mas também ao nível das exportações, temos de estar atentos. A intensidade exportadora já diminuiu face àquilo que já foi, e sobretudo na parte dos bens. O que significa que temos de continuar a organizar missões empresariais, a participar em feiras internacionais, a fazer este trabalho que temos vindo a fazer.

Este cenário de incerteza geopolítica, as ameaças do Presidente Donald Trump de imposição de tarifas a cada vez mais setores de atividade, poderá desincentivar as empresas a procurar exportar mais?

Desincentivar não digo, porque os nossos empresários têm este incentivo e essa vontade de ir para outros mercados. Já começámos a fazer este caminho há muito tempo e tem dado frutos. Mas é claro que se medirmos os impactos da imposição de tarifas pelos EUA, e esse cálculo está feito, no PIB nacional é cerca de 0,9%. É um impacto. E não esquecer que os Estados Unidos são o primeiro mercado fora da União Europeia para os nossos produtos. É preciso continuar a fazer um trabalho de diversificar mercados, procurarmos outros países onde consigamos colocar os nossos produtos, ser competitivos. Este é um trabalho que tem de ser contínuo. E, mais uma vez, voltamos à importância dos fundos comunitários para apoiar as empresas neste processo de internacionalização. Quer no investimento, quer na internacionalização a celeridade é fundamental.

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