Pensar é o novo (re)agir
Precisamos de reaprender a pensar com mais curiosidade e menos culpa. Escrevo isto, em primeiro lugar, para mim - e, se servir para mais alguém, terá valido ainda mais a pena.
Assistimos de forma consensual à eleição do “pensamento crítico” como a competência mais valorizada dos nossos dias, corroborado pelo World Economic Forum: “Analytical Thinking is the most sought-after skill”. E urge dar-lhe mais uso.
Vivemos na era da opinião rápida e da resposta imediata. Uma era em que os feeds e as timelines decidiram que pensar demoradamente é um luxo a que não nos permitimos. E é precisamente por isso que o pensamento crítico — o que questiona, desmonta, valida e reconstrói — se tornou ainda mais relevante.
O nosso diretor criativo, Americo Vizer, diz-nos que devemos ser serial killers das nossas primeiras ideias, porque normalmente, são as menos boas. São as mais óbvias, as que todos teriam, as que não exigem esforço de desconstrução. As ideias fáceis são as que não acrescentam e não nos ficam na memória. E a memória é fundamental para criar ligação emocional. É por isso que o pensamento crítico é, antes de tudo, uma forma de não aceitar a primeira resposta sem questionar.
“Porque sempre se fez assim”, “não é surpreendente, mas cumpre”, não podem ser argumentos. Podem até vir a revelar-se a melhor solução, mas só se resistirem ao teste da contestação, à validação de outros caminhos e à comparação de hipóteses. O que é verdadeiramente criativo raramente nasce do impulso; nasce da dúvida. Nem tudo tem de ser um projeto digno de prémio em Cannes ou de um Pulitzer, mas não podemos ir ao extremo oposto.
Na era da informação, em que a validação vem depois da publicação, Giuliano da Empoli, em “Os Engenheiros do Caos”, alerta para este perigo – as fake news e as teorias da conspiração criam coesão e até lealdade, porque oferecem um sentido de pertença. E quereremos nós pertencer ao que quer que seja sem sequer questionar? Para mim isso só é válido para se ser do Benfica!
Talvez o problema seja esse: temos opinião sobre tudo e pensamento sobre pouco. Não precisamos de ter opiniões imediatas sobre cada assunto. Mas as que tenhamos deviam ser pensadas, ponderadas, trabalhadas. Há uma diferença entre reagir e refletir — e essa diferença define, muitas vezes, o valor do que dizemos.
Acabamos de assistir ao embaraçoso episódio do jornal paquistanês Dawn que caiu na armadilha de abdicar da revisão crítica. Publicou uma notícia (em papel) sobre o mercado automóvel que, no final, incluía uma frase claramente escrita por inteligência artificial: “Se quiser, posso criar uma versão mais chamativa, com estatísticas em destaque e um layout pronto para infográfico.”! Sim, isto aconteceu. O erro foi rapidamente detetado e logicamente gerou polémica. O jornal pediu desculpa e garantiu que o texto violava a sua política interna sobre o uso de IA. E, mais uma vez, assumir quando, onde e como usamos estas ferramentas não só tira o elefante da sala, como demonstra ética e transparência. Porque o inacreditável nos dias de hoje não é usar a IA, é não usá-la. Mas tem de ser como a liberdade, atrelada a uma conduta responsável.
O caso é caricato, mas revelador. Mostra o risco da preguiça cognitiva, essa tentação de confiar sem validar, de delegar o pensamento, de “publicar e seguir”. A IA não é o problema — é a falta de pensamento crítico sobre o seu uso.
Esta falta de espírito crítico sobre o que entregamos anda paradoxalmente de mãos dadas com a excessiva autocrítica. Punimo-nos pelos erros com um zelo quase moralista. Temos de aprender a distinguir o erro da incompetência, a falha do fracasso. O erro é matéria-prima do pensamento crítico.
A análise crítica é a base da estratégia de comunicação — e é difícil admitir quando a execução não correu como planeado. Temos de dar cabo desta crença limitante e desconstruir o (pré)conceito de que errar é o “fim do mundo em cuecas”. Porque vamos sempre acabar por ser apanhados de surpresa — e não há que nos dar assim tanta importância. O pensamento crítico permite-nos trabalhar a nossa literacia emocional, e isso desenvolve a autoconfiança.Já a autocrítica quando é em demasia e se torna uma espécie de autoflagelação, transforma-se no contrário: numa paralisia disfarçada de exigência. Quando é saudável, demonstra inteligência e reconhecimento do erro. Concluo que precisamos de ser menos autocríticos e sermos mais críticos. De aceitar o erro como parte do processo, não como sentença. De desconfiar das certezas e das fórmulas rápidas.
Pensar criticamente é, no fundo, um ato de humildade. É admitir que podemos estar errados — e, ainda assim, querer entender porquê. Abracemos o erro!
Na terceira temporada de Bridgerton, há uma frase que registei e que serve para muito mais do que a mensagem romântica: “There is no such thing as true love without first embracing your true self.” E, conectando os pontos, a empatia começa na nossa casa. Antes de sermos empáticos com os outros, temos de ser empáticos connosco próprios.
Escrevo isto, em primeiro lugar, para mim — e, se servir para mais alguém, terá valido ainda mais a pena.
*Este texto foi revisto e editado com o apoio do ChatGPT, respeitando o estilo e a ortografia definidos pela autora.
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