Por um Portugal mais premium
O luxo não pretende oferecer muito, limita-se a oferecer aquilo que importa. Nesta época que se aproxima, podíamos todos inspirarmo-nos neste princípio.
O nosso país necessita de decidir como se pretende posicionar no seu futuro económico. O modelo que utilizámos durante décadas, de crescimento pela quantidade, de produção para terceiros, de produtos de gama média e baixa, tende a ser mais facilmente copiado, mais sujeito a pressão de preços e consequentemente, mais facilmente replicável por concorrentes mais eficientes.
No entanto, apesar de no turismo esta lógica ter criado riqueza e ajudado a mudar o paradigma e a imagem do país, também agravou a pressão sobre as nossas cidades e acelerou a saturação turística nalgumas delas, acabando por expor a fragilidade de depender do volume para promover crescimento. Por isso mesmo, a estratégia mais inteligente e sustentável passa por uma viragem essencial: apostar em marcas premium com serviços e experiências com maior valor acrescentado. E não se trata de elitismo, mas de inteligência económica.
Se essa for a nossa escolha, temos um universo onde nos podemos inspirar: o das marcas de luxo. E não me refiro à inacessibilidade ou ao alto valor, mas antes em aprender com os códigos que estas marcas aperfeiçoam há muitas décadas e que se baseiam na criação de valor, na coerência e na relação humana. E são nestes pontos que podemos inspirar-nos sem nos descaracterizar, pois estão intrinsecamente ligados à nossa cultura e à nossa forma de estar e de ser.
As marcas de luxo entendem bem a importância da raridade, não numa lógica de negação de acesso, mas como garantia de grande qualidade. Se aplicarmos esta lógica ao nosso destino, percebemos rapidamente que a massificação turística tem um custo. Se reduzirmos a pressão sobre Lisboa, Porto e outros destinos libertamos espaço para preservar a sua autenticidade, proteger o património e manter a excelência da experiência, enquanto levamos os nossos visitantes a descobrirem outras localidades e regiões menos procuradas. A questão já não é escolher entre quantidade ou valor. É sim, reconhecer que o valor depende diretamente da capacidade de evitarmos a erosão que a quantidade causa.
A grande força das marcas de luxo está na capacidade de olhar para os seus consumidores como pessoas e não como entidades abstratas. Isto significa que tudo o que fazemos é para melhor servir o nosso cliente, criando experiências e momentos mais próximo, com mais contexto e significado e com maior envolvimento emocional e ao território. É a isto que muitos chamam personalização. Na lógica do luxo é tratar pessoas como pessoas e, já agora, pelo seu próprio nome.
E por último o código eventualmente mais decisivo: a curadoria. O luxo não pretende oferecer muito, limita-se a oferecer aquilo que importa. Nesta época que se aproxima, podíamos todos inspirarmo-nos neste princípio e nesta lógica, desafiando-nos a deixarmos de lado os excessos e focarmo-nos no essencial: aquilo que aquela pessoa realmente procura. Presentear não é acumular, é pensar no outro, nos seus desejos e nas suas necessidades de facto. É procurar o significado e sentido no que fazemos e para quem fazemos. Um país que se procure posicionar desta forma, vai construir a sua reputação mais depressa e com mais solidez. Vai aumentar mais facilmente o valor das suas marcas e mostrar-se de uma forma mais madura e responsável.
Implementar estes códigos não vai transformar Portugal num destino elitista. Pelo contrário, irá democratizar o acesso à qualidade permitindo que mais pessoas sintam o seu impacto em mais regiões do País, reforça a sustentabilidade dos destinos e mantendo o país aberto, inclusivo e acolhedor. O que tem de mudar é a lógica da operação. Passarmos de uma economia baseada na pressão para outra baseada na intenção. De uma experiência massificada e consequente indiferenciada, para uma experiência mais pessoal e humanizada.
Pela primeira vez na nossa história, Portugal é hoje um destino procurado e desejado. Temos de aproveitar este momento para mais uma vez dar uma nova lição ao mundo, reposicionando-nos não pela ostentação, mas pela autenticidade que temos. Não pela escassez artificial, mas pela qualidade cuidada. Não pela exclusão, mas pela capacidade de juntar pessoas e gestos que transforma experiências em memórias duradouras. Será assim que Portugal poderá crescer de forma sustentável, inteligente e com futuro, aproveitado para transformar as suas marcas correntes em marcas cada vez mais premium.
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