Câmaras do interior atraem nómadas digitais e aplaudem se houver benefícios fiscais
Há câmaras do interior a atrair nómadas digitais para contribuírem para alavancar a economia local. Aplaudem, por isso, possíveis benefícios fiscais anunciados pelo Governo para viverem no interior.
São várias as câmaras municipais do interior do país a aderirem ao repto lançado pelo Governo no sentido de atrair nómadas digitais para estes territórios de baixa densidade populacional, como é o caso de Baião, Celorico de Basto ou de Vila Pouca de Aguiar, apostadas em criar espaços de coworking e em desenvolver o mercado de habitação para permitir a fixação de pessoas no concelho. Autarcas consideram positivo o anúncio de possíveis benefícios fiscais adicionais para nómadas digitais que se instalem no interior do país.
“Em Celorico de Basto já acolhemos nómadas digitais, vindos de vários países, e estamos a trabalhar de forma a tornar o nosso concelho mais apelativo para estas pessoas que podem acrescentar atividade, conhecimento, consciência crítica e valor económico à nossa comunidade”, começa por afirmar o presidente da Câmara Municipal de Celorico de Basto, José Peixoto Lima. O município já tem, inclusive, adianta o autarca social-democrata, um espaço de coworking, uma incubadora de empresas e local para acolhimento dos nómadas digitais.
Também o presidente da Câmara Municipal de Baião, Paulo Pereira, considera “positivo” o Governo admitir avançar com benefícios fiscais adicionais para nómadas digitais que se queiram instalar no interior, porque “pode ajudar a atrair pessoas para os territórios de baixa densidade”.
Em Celorico de Basto já acolhemos nómadas digitais, vindos de vários países, e estamos a trabalhar de forma a tornar o nosso concelho mais apelativo para estas pessoas que podem acrescentar atividade, conhecimento, consciência crítica e valor económico à nossa comunidade.
Esta é igualmente uma boa medida para a vice-presidente da Câmara Municipal de Vila Pouca de Aguiar, Ana Rita Dias, já que pode impulsionar a economia local e fixar mais população no concelho, contrariando o êxodo rural. “A aplicarem-se estes benefícios, e claro, sendo verdadeiros benefícios fiscais, esta medida será uma mais-valia para o território e uma boa estratégia para a fixação de pessoas.”
A número dois da autarquia de Vila Pouca de Aguiar adianta ao ECO que “o município já tem uma estratégia estabelecida para receber nómadas digitais” e “já deu o primeiro passo através da criação de espaços de cowork para esse efeito”. Mas existe um senão: a falta de alojamento e respostas habitacionais para estes nómadas digitais. “O município está, por isso, a estabelecer estratégias para colmatar esta falha”, assegura a autarca social-democrata.
A falta de habitação também é um problema a resolver em Celorico de Basto. Mas a autarquia já está fazer diligencias no sentido de resolver esta questão determinante para fixar as pessoas. “A habitação é fundamental, estando, por isso, a autarquia a trabalhar num projeto, apresentado no Instituto da Habitação e Regeneração Urbana (IHRU), para resolver o problema da falta de habitações, a dignidade da habitação enquanto primeiro direito e também a regulação do mercado imobiliário muito inflacionado pela elevada procura e escassez da oferta”, avança ao ECO o presidente da Câmara Municipal de Celorico de Basto.
O autarca José Peixoto Lima alerta, por isso, para a necessidade de implementar um pacote de medidas a acompanhar a fixação dos nómadas digitais, com o tema habitação no topo das prioridades.
A aplicarem-se estes benefícios, e claro, sendo verdadeiros benefícios fiscais, esta medida será uma mais-valia para o território e uma boa estratégia para a fixação de pessoas.
“O potencial [para a fixação de nómadas digitais] existe, mas deverá ser acompanhado por outras medidas. Como é o caso, destaca, “da prioritária cobertura de fibra ótica em todo o concelho para se tornar algo efetivo que permita dar uma resposta aos anseios de pessoas que encaram o mundo como global e podem escolher o local que oferece melhores condições para o desenvolvimento da sua atividade”.
Para o autarca social-democrata, esta poderá ser uma forma de contrariar o abandono do interior. Igual opinião tem a autarca do município social-democrata de Vila Pouca de Aguiar, a qual considera que esta “poderá ser uma forma de minimizar o abandono do interior, uma vez que face às respostas sociais de apoio às famílias que o município dispõe, não se deverá sentir muito o custo de vida”.
Mais, reitera Ana Rita Dias: “Conjugando estes apoios disponíveis para as famílias com novos apoios do Estado para esta fixação, certamente será uma mais-valia para quem aqui se quiser fixar”. A autarca referia-se aqui ao anúncio da antiga secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, durante a Web Summit, relacionado com possíveis benefícios fiscais adicionais para nómadas digitais que se instalem no interior do país.
Nesse sentido, Vila Pouca de Aguiar já tem a rede de cowork a funcionar no concelho, “apesar de o número de utilizadores no espaço público ainda não ser muito significativo”, admite a número dois do município. Ainda assim, avança Ana Rita Dias, “já há algumas famílias e jovens a trabalhar a partir de casa e com residência no concelho, inclusivamente em trabalho remoto para empresas multinacionais”.
Também em Baião já existe uma rede de coworking para acomodar novos modelos de trabalho, como o remoto. “Desde que surgiu esta iniciativa que o município aderiu à mesma, disponibilizando dois espaços de coworking devidamente equipados e que se encontram nas vilas Campelo e Ovil e de Santa Marinha do Zêzere”, começa por descrever o presidente da Câmara Municipal de Baião.
Aliás, conta Paulo Pereira, “o município integrou a equipa que, em fevereiro de 2019, venceu o programa Ala + T, com o projeto Digital Nomads Adventure, que previa a disponibilização de um espaço para acolher nómadas digitais. Só que este projeto aguarda o financiamento do Turismo de Portugal para ser executado”.
Já o município de Celorico de Basto “terá a sua rede de espaços coworking a operar muito brevemente”, avança o autarca José Peixoto Lima. “Estamos a criar o espaço coworking na sede do concelho, mas vamos também alargar esses espaços a todo o concelho, envolvendo as Juntas de Freguesia que têm instalações próprias de qualidade e poderão, assim, acrescentar valor e proximidade a este projeto”, refere o líder do município de Celorico de Basto.
A este propósito, a Comunidade Intermunicipal (CIM) do Tâmega e Sousa, e as câmaras municipais de Baião, Celorico de Basto e Cinfães, assim como a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Norte, o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) e a Direção-Geral da Administração e do Emprego Público (DGAEP) firmaram, a 30 de junho deste ano, um acordo de cooperação para estabelecimento de espaços de teletrabalho ou coworking nos territórios do interior.
Desde que surgiu esta iniciativa que o município aderiu à mesma, disponibilizando dois espaços de coworking devidamente equipados e que se encontram nas vilas Campelo e Ovil e de Santa Marinha do Zêzere.
Esta colaboração tem por objetivo “o estabelecimento de espaços laborais adequados à prática de teletrabalho ou coworking, contribuindo para a dinamização dos territórios, em particular os do interior, pelo seu efeito de atração e eventual fixação de pessoas”, frisa a CIM do Tâmega e Sousa. Este acordo visa ainda “o cumprimento das metas ecológicas, diminuindo a necessidade de deslocações e a consequente pegada carbónica”. Assim como pretende “estimular os índices de bem-estar social e familiar, ao permitir uma melhor conjugação da vida familiar e profissional”.
No âmbito desta parceria, o IEFP passa a disponibilizar apoios à mobilidade de trabalhadores através do Programa Trabalhar no Interior – Emprego Interior Mais e a divulgar ofertas de emprego situadas em territórios do interior através da “Bolsa de Emprego do Interior”. Passa, assim, a “fomentar a utilização destes espaços, quer com trabalhadores por conta própria, quer por conta de outrem, nos termos da legislação aplicável”, avança a CIM do Tâmega e Sousa.
O mesmo documento dá ainda conta de que “compete à DGAEP promover o programa de incentivos à fixação de trabalhadores do Estado no interior, criando e mantendo operacional uma plataforma de publicação de oferta para os pedidos de mobilidade, bem como a facilitação do acordo de teletrabalho previsto no programa”.
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