Rui Moreira defende nova linha de Trás-os-Montes para “reequilibrar a região” norte

Presidente da câmara do Porto defende linha Porto-Bragança-Zamora como ferramenta de combate ao centralismo para passageiros e como canal de escoamento de mercadorias.

O presidente da câmara do Porto está a favor da nova linha de Trás-os-Montes. Para Rui Moreira, o projeto para a nova ligação ferroviária entre Porto, Bragança e Zamora, com ligação a Madrid, é uma forma de combater o centralismo e funciona como um novo canal de transporte de mercadorias, em detrimento do camião. O autarca entende que a construção da linha ferroviária tem de estar ligada a políticas de integração no território.

“Obviamente interessa-nos chegar rapidamente a Madrid. A região Norte é a mais desequilibrada entre o interior e o litoral. Uma linha como esta serve para reequilibrar a região“, defendeu Rui Moreira durante um debate promovido pela Associação Vale d’Ouro em conjunto com a câmara do Porto.

Na conferência estiveram ausentes os presidentes das câmaras de Matosinhos e de Vila Nova de Gaia. Os socialistas Luísa Salgueiro (presidente da Associação Nacional de Municípios) e Eduardo Vítor Rodrigues (presidente da Área Metropolitana do Porto) tinham sido anunciados como oradores num dos painéis. Entre os autarcas, o social-democrata Hernâni Dias (Bragança) e o socialista Rui Santos (Vila Real) voltaram a defender a construção da linha, que retomaria a passagem do comboio pelos dois distritos. O próprio Ayuntamiento de Zamora também é favorável à nova ligação.

O autarca da Invicta, no entanto, sinalizou que a construção da linha ferroviária não funciona por si só. “Se não for acompanhada por políticas regionais competentes, é um dreno. Isto só faz sentido se houver políticas integradas e com a deslocalização de atividades”. Em matéria de descentralização de serviços, Rui Moreira entende que “o Estado central deve dar o exemplo”.

Rui Moreira considera também que a nova linha tem mais-valias para o transporte por carga. “Este corredor logicamente é extremamente importante. Temos as exportações com o mar à porta [via Porto de Leixões]. Se queremos chegar aos territórios interiores da Europa (França, Alemanha e outros países centrais), o mar não nos serve de grande coisa. Este percurso, principalmente se for a Medina del Campo, confere-nos uma grande grande vantagem. Temos de substituir os [camiões] TIR.”

Se a nova linha fosse só para mercadorias, já valeria a pena“, sentenciou o presidente da câmara do Porto.

Proposta Bragança, Madrid e até Paris

A nova linha de Trás-os-Montes permite colocar o Porto a menos de três horas de comboio de Madrid, Bragança a pouco mais de duas horas de Lisboa, e Braga e Aveiro a pouco mais de oito horas de Paris. Entre Porto e Zamora são 256 quilómetros de novo traçado ferroviário. Além dos passageiros, a solução também pretende facilitar o tráfego de mercadorias sobre carris de todo o norte de Portugal para Espanha e mesmo para lá dos Pirenéus. O investimento necessário varia entre 3,5 e 4,4 mil milhões de euros, segundo o estudo da Associação Vale d’Ouro. Também há apoio dos municípios que pertencem à comunidade intermunicipal Terras de Trás-os-Montes.

Apesar de o comboio “ser muito competitivo até às três horas de viagem”, Rui Moreira admite que vão continuar a existir os voos Porto-Madrid, mesmo com “menos mercado” e “menos frequência”. “Não acredito que o transporte aéreo vá ser substituído pelo transporte ferroviário num limitar de 15 a 20 anos. Há muitas pessoas que fazem a ligação Porto-Madrid para outros destinos. Por exemplo, quando as pessoas do Porto viajam para toda a América Latina (exceto para o Brasil), utilizam Madrid como hub e as pessoas continuarão a usar voos. Vai haver é menos frequência e menos mercado, como haverá menos mercado na ponte aérea entre Porto e Lisboa quando for feita a ligação em 1h15 ou 1h30.

Com velocidades máximas de 160 a 250 km/h, a nova linha poderá receber comboios regionais e de longo curso, incluindo ligações de alta velocidade. Também está prevista a conexão à alta velocidade espanhola – a partir de Zamora –, às linhas do Minho e do Douro e às futuras ligações Porto-Vigo e Porto-Lisboa. As principais estações serão Paços de Ferreira, Amarante, Vila Real, Alijó-Murça, Mirandela-Valpaços, Macedo de Cavaleiros, Bragança e Terra de Miranda, na fronteira. A proposta responde ao desafio do Plano Ferroviário Nacional de repor o comboio em todos os distritos.

A nível local (e não só), promete-se uma revolução nos tempos de viagem:

  • Porto-Amarante – 33 minutos (contra 46 minutos de carro);
  • Porto-Vila Real – 44 minutos (contra 1h06 do carro);
  • Porto-Bragança – 1h15 (contra 2h06 do carro);
  • Porto-Madrid – 2h45 (contra 3 horas do avião, considerando embarque e desembarque no aeroporto)

 

O traçado com passagem por Vila Real e Bragança foi escolhido em detrimento das ligações por Chaves e por Viseu-Salamanca porque é a única opção em que os comboios poderão ultrapassar os 160 km/h – derrotando a concorrência do carro e do autocarro – e a inclinação máxima é de 15 por mil – afastando a competitividade do camião. Também foi afastada a hipótese de aproveitar as linhas Porto-Guimarães, Porto-Caíde e a futura linha do Vale do Sousa (Valongo-Felgueiras): a velocidade máxima não ultrapassa os 120 km/h, tornando-as impróprias para serviços de longo curso.

A opção por Vila Real e Bragança ganhou ainda porque é onde se verificam os principais fluxos de entrada de trabalhadores e de estudantes que trabalham ou estudam no concelho de residência. Para Madrid, a ligação de Aveiro por Trás-os-Montes é mais rápida do que via Viseu e Salamanca.

Solução para mercadorias

Para as mercadorias, o traçado garante uma velocidade constante de 120 km/h, pendentes máximas de 1,5% (ou 15 por mil) e ligação imediata ao Porto de Leixões, o que diminui os custos de operação. A linha de Trás-os-Montes quer ser uma alternativa à ligação Aveiro-Viseu-Vilar Formoso-Salamanca, que já foi chumbada duas vezes pela Comissão Europeia por avaliação custo-benefício negativa.

No caso das cargas, a associação quer que a linha de Trás-os-Montes seja o novo corredor internacional do Norte do país, pois o “centro de gravidade das exportações do noroeste de Portugal encontra-se na zona do Porto de Leixões e do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, onde já estão localizadas as principais empresas de transportes e logística”. Sem o novo percurso, as cargas do Porto de Leixões, por exemplo, continuarão a ter de atravessar a Linha do Norte – a mais congestionada do país – até à estação da Pampilhosa, para escoarem as cargas até à fronteira com Espanha.

A linha também está preparada para ser construída em bitola ibérica e europeia, assim como receber comboios com eixos variáveis. Se a opção for pela bitola ibérica, serão necessários comboios com eixos telescópicos para seguirem para Madrid e Paris depois de passarem no intercambiador de Zamora. Se for escolhida a bitola europeia, serão necessários intercambiadores junto ao aeroporto Francisco Sá Carneiro e nos acessos à Linha do Minho.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Rui Moreira defende nova linha de Trás-os-Montes para “reequilibrar a região” norte

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião