Media

Media queriam “ação mais musculada” em relação às plataformas digitais

Rafael Ascensão,

Os responsáveis de informação dos principais grupos saúdam o plano para os media mas queriam "medidas mais musculadas" em relação às plataformas digitais. Para o futuro, a perspetiva é positiva.

Os responsáveis de informação dos principais grupos de media do país encararam com bons olhos o plano de ação para os media, apresentado na manhã desta terça-feira por Luís Montenegro e Pedro Duarte. Os diretores destacaram a “transparência” das medidas e a coragem da intervenção, mas esperavam uma “ação mais musculada” em relação às plataformas digitais.

Alertando que o digital “fragmenta” tanto o consumo como a produção de conteúdos e que a sua monetização é absorvida em grande parte pelas grandes plataformas, o diretor-geral de informação do Grupo Impresa entende que este problema só pode ser resolvido através de um “ponto de vista político e fiscal“.

A solução que existe é uma atuação europeia por via fiscal. No momento em que isso se conseguir, os governos, tendo esse dinheiro do lado deles, podem decidir [onde o alocar]. É muito mais fácil assim”, argumentou Ricardo Costa, acrescentando que as abordagens nacionais não têm dado resultado.

Dizendo que também esperava uma “atitude um pouquinho mais musculada” por parte do Governo em relação às plataformas digitais – independentemente de considerar que a atuação deva ser feita a nível europeu – José Eduardo Moniz identificou-se como um “cético militante” e disse querer ver “na prática” o que vai resultar do plano apresentado, que “pode ser o início de um caminho”. “É preciso que a coragem que foi revelada no desenho das ações se concretize numa ação prática“, disse o diretor-geral da TVI e da CNN Portugal defendendo desde logo a ideia de que os media não se podem colocar numa posição “de mão estendida”, sob pena de perderem a sua “capacidade de afirmação”.

Com o conceito de serviço público audiovisual “pouco ajustado à realidade dos nossos tempos”, o responsável interrogou se o serviço público deve ser prestado apenas por uma entidade. “Todos nós temos a capacidade de fazer o que a RTP faz, depende se tivermos capacidade de financiamento para o fazer“, disse.

Deixando elogios à coragem do Governo em enfrentar e tentar enquadrar os problemas que os media em geral enfrentam, Carlos Rodrigues sublinhou como positivo o facto de o plano estar “definido para ultrapassar um profundo presente”, enfrentando diversos problemas, como o da empregabilidade, da revolução tecnológica, da atualização legislativa e de haver cada vez mais pessoas que não recebem jornais. “Nós não estamos disponíveis para abdicar de nenhum português”, acrescentou o diretor-geral editorial da Medialivre.

Carlos Rodrigues advogou ainda que um dos problemas principais dos media é que têm sido mal geridos ao longo dos anos e que a “coragem” do programa deste governo também “interpela” as próprias equipas de gestão: “Estamos a gerir bem as nossas redações e os nossos custos?”, interrogou.

Pedro Leal, diretor de informação Grupo Renascença Multimédia, congratulou a “transparência” do pacote de medidas e o facto de o plano apresentado ter desfeito o receio de que as medidas fossem para “entregar dinheiro aos órgãos de comunicação social” e defendeu a necessidade da revisão das leis existentes, que estão “totalmente anacrónicas”, nomeadamente – e no caso da rádio – a relativa à obrigatoriedade de uma quota de 30% de música portuguesa na rádio.

A nossa indústria tem levado porrada ao longo dos últimos anos como não aconteceu em quase nenhum setor“, começou dizer por parte do Público, o diretor David Pontes, saudando o “chegar à frente” deste governo, em “contraste com o que vem de trás” e que mostra que é possível apoiar o setor “sem qualquer ripo de condicionamento político”.

No entanto, o responsável alertou para o facto de que as medidas apresentadas “vão servir para mitigar alguns problemas”, mas que não servem para resolver os “problemas profundos que a indústria tem, particularmente no lado da imprensa”.

Responsáveis otimistas para daqui a 10 anos

Apesar dos problemas que dizem estar a ser enfrentados pelo setor, os responsáveis pela informação dos diversos meios presentes na conferência organizada em conjunto mostram-se otimistas em relação ao futuro.

Por parte da MediaLivre, Carlos Rodrigues diz que o grupo tem iniciado novos projetos, comprou duas rádios, lançou um novo canal e prepara-se para implementar um projeto de digital, estando a contratar “muita gente”. “Para o futuro, o ponto de vista da MediaLivre é positivo“, disse.

Ricardo Costa também se disse “bastante otimista”, pela trajetória que o grupo Impresa tem feito.Acho que é perfeitamente possível ter caminhos dentro de uma paisagem digital em que se consiga manter relevância, importância e volume“, disse. No entanto, mostrou-se cauteloso em antecipação ao impacto que a IA vai ter nos media, incluindo o que diz respeito à distribuição e à procura, recordando que “até empresas como a própria Google” estão preocupadas com o impacto da IA na pesquisa (search).

“O que pretendemos fazer é o que temos feito nos últimos anos”, avançou, por seu turno, Pedro Leal, sublinhando que a Renascença tem estado a registar um crescimento em termos de audiências e de retorno financeiro. O ponto digital vai continuar a ser um “ponto assente” para a rádio, sendo necessária também uma “navegação à vista” porque a realidade muda muito rapidamente. “A solução de hoje pode não ser a solução de amanhã“, afirmou.

No futuro, José Eduardo Moniz acredita que vai ver a Media Capital a fazer o que está a fazer hoje “mas melhor e a ser visto em diversas plataformas”. “O nosso posicionamento é empresarial” e importa no futuro “olhar para outras geografias, outro tipo de produtos e novas abordagens”, defendeu.

No que diz respeito ao Público, David Pontes mostrou-se convicto de que o futuro “vai ser muito diferente” e vai ter de se “alargar o espetro” de utilidade dos jornais, para que se aumente a capacidade de “as pessoas encontrarem em nós conhecimento”. A ajudar vai estar o facto de o Público contar com uma marca “boa e sólida”.

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