
MACAM, o palácio onde a arte ganha vida – e um hotel de 5 estrelas
O MACAM, o primeiro hotel-museu da Europa, abre em Lisboa a 22 de março com três dias de festa e entrada gratuita. Conte com exposições, performances e experiências sensoriais num espaço único.
No coração cultural de Lisboa, entre Alcântara e Belém, nasce um conceito inovador que estreita as fronteiras entre arte e hospitalidade. O MACAM – Museu de Arte Contemporânea Armando Martins – abre as portas no sábado, 22 de março, tornando-se um espaço onde a experiência museológica se expande além das galerias, abraçando os sentidos e recriando a noção de acolhimento. Com três dias de celebração e entrada gratuita, este novo destino promete reescrever a forma como vivemos a arte.
Instalado no histórico Palácio Condes da Ribeira Grande, um edifício que respira histórias desde o século XVIII, o MACAM é um diálogo entre passado e futuro. A sua reabilitação, conduzida pelo estúdio de arquitetura MetroUrbe, respeitou as memórias do espaço, ao mesmo tempo que lhe deu uma nova pele: uma ala contemporânea revestida por azulejos tridimensionais criados pela artista e ceramista Maria Ana Vasco Costa. Esta fusão entre tradição e modernidade já recebeu reconhecimento internacional, tendo sido premiada nos Surface Design Awards, em Londres.
Mas é no interior que o verdadeiro espírito do MACAM se revela. O museu nasce da paixão de Armando Martins pela arte, reunida ao longo de cinco décadas numa coleção pessoal que agora partilha com o público. Entre as mais de 600 obras, destacam-se nomes incontornáveis como Amadeo de Souza-Cardoso, Paula Rego, Júlio Pomar, Vieira da Silva, Pedro Cabrita Reis, Julião Sarmento, Marina Abramović, Olafur Eliasson e Dan Graham, entre tantos outros. A coleção permanente, sob o título “Uma Coleção a Dois Tempos”, desenha um percurso que atravessa a modernidade e o contemporâneo, num olhar que espelha não só a evolução da arte, mas também as inquietações do mundo atual.
Além da coleção permanente, duas exposições temporárias marcam a inauguração. “O Antropoceno: Em Busca de um Novo Humano?” conduz-nos a uma reflexão urgente sobre a crise climática, as responsabilidades éticas e a necessidade de justiça ambiental. Já “Guerra: Realidade, Mito e Ficção” mergulha na fragilidade humana perante os conflitos globais, cruzando o peso da história com a volatilidade do presente. Para reforçar o caráter dinâmico do espaço, o projeto MURMUR convida artistas emergentes a criar obras site-specific, inaugurando com Harem, uma instalação monumental de Marion Mounic que evoca a resistência feminina em territórios de confinamento.
Residência artística
No MACAM, cada detalhe é pensado para estimular os sentidos e prolongar a experiência estética. O hotel de cinco estrelas, integrado no mesmo edifício, oferece 64 quartos onde a arte não é apenas um adorno, mas parte viva da narrativa do espaço. Obras da coleção preenchem os quartos, os corredores e os terraços exteriores, transformando cada estadia numa imersão artística.
No restaurante Contemporâneo e no MACAM Café, os sabores são reinterpretados com criatividade, num diálogo gastronómico que encontra inspiração nas obras expostas. E para os que procuram uma experiência cultural noturna, o àCapela – Live Arts Bar, instalado numa antiga capela dessacralizada, promete ser um palco vibrante para música ao vivo, poesia e performances.
Ao percorrer os jardins, entre esculturas de José Pedro Croft e Angela Bulloch, ou ao explorar a biblioteca Sala D. João da Câmara, os visitantes são convidados a habitar um universo onde o tempo se dilui entre o contemplativo e o inesperado. No MACAM, a arte não é apenas observada – ela é vivida.
Com um programa de visitas guiadas, atividades educativas e eventos exclusivos, este espaço promete ser um ponto de encontro para entusiastas da arte, turistas e a comunidade local. A abertura será celebrada com três dias de festa, onde o público poderá mergulhar nesta nova dimensão do encontro entre arte e hospitalidade. Um lugar onde a arte encontra a sua casa e nos faz sentir em casa dentro dela.
Quem é Armando Martins, o colecionador que transforma sonhos em património?
Nascido em 1949, no concelho de Penamacor, Armando Martins cresceu longe dos circuitos artísticos, mas a sua inquietação e espírito empreendedor levaram-no a trilhar um percurso notável no mundo das artes e do colecionismo. Aos 14 anos, mudou-se para Lisboa para prosseguir os estudos, tendo a sua primeira experiência com a arte no Museu Nacional de Arte Antiga. No entanto, foi a arte contemporânea que verdadeiramente o cativou, despertando uma paixão que só se consolidaria mais tarde.
No campo académico, sonhou desafiar a gravidade ao estudar Engenharia Aeronáutica, chegando a inscrever-se na Universidade de Liége, na Bélgica. Contudo, optou por permanecer em Portugal, licenciando-se em Engenharia Mecânica pelo Instituto Superior Técnico, em 1973. Nesse mesmo ano, iniciou a sua trajetória profissional, que viria a conduzi-lo ao sucesso no setor imobiliário.
No final da década de 70, viveu no Brasil, regressando a Lisboa na década seguinte. Nos anos 1990, fundou o Grupo Fibeira SGPS, S.A., com atuação nos setores da promoção imobiliária, hotelaria e serviços, assumindo hoje o cargo de Presidente honorário. Um dos seus projetos mais emblemáticos foi o Atrium Saldanha, em Lisboa, concebido pelo arquiteto catalão Ricardo Bofill e distinguido com o Prémio Valmor de Arquitetura em 2001.
O interesse pelo colecionismo emergiu cedo, com a aquisição das primeiras serigrafias aos 18 anos. Aos 25, decidiu oferecer-se a primeira obra de arte original, marcando o início de um percurso sem retorno no universo da arte contemporânea. O seu olhar apurado e sensibilidade artística resultaram na constituição de uma das mais importantes coleções privadas de arte em Portugal.
Movido pelo desejo de partilhar a sua coleção com o público, em 2007 adquiriu o Palácio dos Condes da Ribeira Grande, na Junqueira, em Lisboa, onde idealizou a criação de um museu. O projeto de reabilitação incluiu um hotel de luxo como motor de financiamento e sustentabilidade. Paralelamente, tornou-se proprietário do histórico Palácio do Correio-Mor, em Loures.
O reconhecimento do seu contributo para a arte e o colecionismo veio em 2018, com o Prémio “A” de Coleção da Fundación Arco, e, em 2021, com o Prémio de Colecionador da Associação Portuguesa de Museologia, pelo seu compromisso em tornar acessível ao público a sua notável coleção.
Agora, o que outrora foi sonho torna-se realidade: a coleção Armando Martins celebra 50 anos e o Museu MACAM abrirá as suas portas ao público, concretizando um legado que perpetua a sua paixão e visão para a arte contemporânea.

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