ECO da campanha. Partidos já ensaiam contas para noite autárquica e Orçamento do Estado

Ao sétimo dia, sabendo que a sua ‘obra’ eleitoral está longe de terminar, líderes partidários não descansaram. Entre lotas e arruadas houve cálculos para domingo e até ouvidos no Banco de Portugal.

No arranque da semana decisiva para as autárquicas, os líderes partidários já arriscam qualquer coisa no exercício de traçar objetivos para a noite eleitoral de domingo. No Alto Minho, Luís Montenegro admitiu que a votação será “um teste ao PSD” e assumiu querer “alcançar mais votos, mais representatividade em mandatos nas juntas de freguesia, nas câmaras municipais, nas assembleias municipais e também mais presidências de Câmara Municipal”.

André Ventura, na primeira ida às urnas com o estatuto ‘legislativo’ de maior partido da oposição, admitiu que será uma derrota se não vier a liderar um executivo camarário. E pressionou Bruno Mascarenhas para não ficar atrás do comunista João Ferreira em Lisboa, ironizando que isso é “menos provável do que Mortágua conseguir distribuir ajuda humanitária”.

À esquerda, José Luís Carneiro retomou a tese expressa em entrevista ao ECO de que perder as autárquicas “nunca será uma derrota do secretário-geral do PS”, voltando a apontar que a responsabilidade pelos resultados autárquicos será “de todos”. Durante uma ação de campanha esta tarde na Nazaré, o líder socialista pediu aos portugueses que, até às autárquicas, reflitam sobre quais são os partidos com “provas dadas” na melhoria das condições de vida.

Já de manhã, numa visita à Exporplás, em Ovar, criticou o projeto do Executivo para rever a legislação laboral e defendeu que o IRC deve funcionar como “instrumento para apoiar as empresas” com os custos energéticos, prometendo avançar com essa proposta no debate do Orçamento do Estado para 2026.

Com a entrega da proposta orçamental prevista para esta sexta-feira, precisamente o último da campanha das autárquicas, também a líder da Iniciativa Liberal arrastou o tema para a campanha autárquica. Em Leiria, onde candidata o economista Paulo Ventura, Mariana Leitão desafiou desde já o Executivo a “incluir muitas propostas” do partido no diploma.

Mais a Norte, na doca de Angeiras, em Matosinhos – e antes de seguir para o Porto para a tradicional arruada na Rua de Santa Catarina ao lado da candidata Diana Ferreira –, o secretário-geral do PCP provou “a melhor” sopa de peixe, avisou que “o povo não come PIB” e frisou que o “problema brutal de insegurança” no país está ligado à… precariedade.

Rui Tavares (Livre) andou com a bloquista Marisa Matias por Vila Nova de Gaia, mas com um ouvido em Lisboa, onde tomou posse um novo chefe do Banco de Portugal (BdP) que disse ser importante diminuir os bloqueios e restrições à construção pelas câmaras municipais, por serem mais “as inúmeras restrições à construção do que a falta de incentivos económicos”.

“Registo uma certa oscilação de Álvaro Santos Pereira. Ele tinha dito que um governador do BdP não podia andar a emitir opiniões políticas, mas, pelos vistos, tomou-lhe o gosto muito rápido”, notou Tavares, registando alguma “incoerência” do ex-ministro de Passos Coelho.

Tema quente

‘Flotilha’ ainda navega em águas autárquicas

Na ressaca da chegada a Lisboa, no domingo à noite, dos quatro ativistas portugueses que participaram na flotilha humanitária a Gaza, a participação da coordenadora do Bloco de Esquerda e a atuação do Governo português continuaram a contaminar a campanha autárquica.

Em Vieira do Minho, à margem de uma iniciativa de campanha e depois de o líder do Chega classificar a receção no aeroporto como uma “palhaçada” e o do CDS falar numa “flotilha panfletária”, Luís Montenegro assinalou as “muitas divergências” com Mariana Mortágua, mas alegou que o Governo teve uma posição “equilibrada” e que lhe deu “o tratamento devido a qualquer compatriota”, atuando com “rapidez e normalidade”.

Já no plano local, o facto de os bloquistas integrarem a coligação em Lisboa com PS, Livre e PAN obrigou Alexandra Leitão a reclamar que a Palestina “não é tema autárquico”.

Encostada com insistência à extrema-esquerda pelo rival Carlos Moedas, a socialista disse ter enviado uma mensagem a Mortágua e confirmou que a coordenadora do Bloco “ainda está a recuperar” e não irá participar no jantar-comício que esta noite vai juntar os partidos que a apoiam no pavilhão do Casal Vistoso, onde aliás o BE costuma fazer as suas convenções.

O partido será representado por Marisa Matias e o convidado de honra será o ex-ministro e antigo comissário europeu António Vitorino.

A figura

Rita Matias: “Tubo de ensaio” para governo do Chega?

O segundo concelho mais populoso do país será um dos mais disputados na noite eleitoral de domingo, com os três maiores partidos da cena política nacional taco-a-taco nas sondagens.

Se no incumbente PS, Ana Mendes Godinho pode conseguir algo inédito desde Edite Estrela – a vitória de alguém com cartão partidário socialista e mulher – e o PSD repescou Marco Almeida, proscrito sob as lideranças nacionais de Passos Coelho e Rui Rio, o Chega candidata Rita Matias, estrela nas redes sociais e uma das grandes esperanças do partido.

Depois de em 2021 ter ido em quinto lugar na lista para a Câmara de Alcochete, a deputada disse esta segunda-feira que, caso vença as eleições, cinco dias antes de completar 27 anos, será um “tubo de ensaio” para se perceber “como será um governo liderado por André Ventura”.

Esta segunda-feira, num concelho onde o Chega venceu nas últimas legislativas, teve o líder do partido ao seu lado, numa ação de rua em Mem Martins, e ouviu-o falar de uma “candidatura forte para ganhar a Câmara Municipal”, o que seria “histórico” para o partido.

O número

838 queixas ou pedidos de parecer relacionados com as eleições autárquicas recebidos pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) até 2 de outubro. Deliberou relativamente a 216 destes processos, dos quais 19 foram enviados para o Ministério Público (assim como outros 43 relativos a contraordenações), estando os restantes 622 ainda pendentes.

A frase

"Tenho sido o mais comedido e o mais cuidadoso em não confundir os planos, mas como líder partidário também tenho o direito de expressar a vontade do meu partido, que neste momento é indissociável da vontade do Governo. (…) Estou a falar em nome do partido, sendo que em muitas circunstâncias é inevitável que a minha voz possa, no fundo, congregar as duas circunstâncias.”

Luís Montenegro

Presidente do PSD, questionado se, ao fazer promessas em vários concelhos, não está a misturar os planos de líder do partido e de primeiro-ministro

A surpresa

Isaltinos há muitos. E valem um almoço em Oeiras

Depois de ter espalhado outdoors por Oeiras apenas com o seu nome e o símbolo “TM” (trademark), a campanha de Isaltino Morais volta a centrar-se na imagem do autarca que vence eleições em Oeiras desde 1985, ora pelo PSD, ora como independente, ora, como este ano, enquanto independente apoiado pelos social-democratas e democratas-cristãos.

Na ação lançada esta segunda-feira, sem slogans ou qualquer mensagem relativa ao programa, espalhou ‘Isaltinos’ em tamanho real pelo concelho e lançou o desafio aos munícipes: quem publicar mais selfies com a hashtag #ondeestaoisaltino ganha um almoço para dois (e com o candidato) num restaurante à escolha em Oeiras. “Ofereço eu, claro!”, rematou num vídeo de 26 segundos publicado nas redes sociais.

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