Estar longe da vista não significa estar longe do “coração”
O local de trabalho passa de um espaço de trabalho onde os colaboradores se sentam frente aos ecrãs para um modelo adaptável, centrado na promoção da ligação humana, do bem-estar e da criatividade.
Alguém me dizia no outro dia que as empresas hoje em dia, para serem competitivas no mercado do talento, têm de ser três coisas em simultâneo: uma empresa (claro), uma academia e um clube. O que é facto é que desde a pandemia que ainda não se fechou um modelo de trabalho consensual. Como em quase tudo nesta década, o modelo one size fits all deixou de funcionar. O modelo de trabalho ideal varia consoante o setor e maturidade das organizações, mas nenhuma organização questiona a importância da formação e a necessidade de ter uma boa argumentação para chamar as pessoas ao escritório.
2023 era o ano em que nos íamos reencontrar no modo de trabalhar. O teletrabalho, para quem o fez durante a pandemia, obrigou a uma adaptação dos métodos de gestão e de conciliação da vida familiar e pessoal. Houve pessoas que se adaptaram muito bem mas houve quem tenha ficado muito frustrado com esta maneira de trabalhar por vários fatores distintos: falta de confiança na equipa; porque precisam do processo criativo, de inputs pessoais e da parte relacional, ou porque simplesmente não se conseguiram organizar nas ferramentas disponíveis.
O teletrabalho a 100% a que fomos obrigados em virtude da pandemia não é replicável (nem se recomenda) pois implicava que tudo fosse feito de forma digital, à distância, sem contacto e sem relacionamentos sociais.
Por sua vez, a modalidade mais discutida atualmente, a de trabalho flexível, permite juntar o melhor dos dois mundos – o mundo digital, à distância, onde “me” der mais jeito, combinado com o presencial, no escritório, que traz a “cola” com a organização e estimula o lado mais relacional. O local de trabalho passa de um espaço de trabalho onde os colaboradores se sentam frente aos ecrãs para um novo modelo adaptável, que se centra na promoção da ligação humana, do bem-estar e da criatividade, gerando maior produtividade, novas oportunidades e novas experiências para os colaboradores.
Efetivamente, no final de 2021, 71% das empresas portuguesas planeavam oferecer um horário flexível e 33% até falavam em disponibilizar o trabalho remoto em full-time. O que aconteceu? Estamos em 2024 e o que vemos é que o trânsito voltou em dobro, com as mesmas horas de ponta, o comércio voltou a reorganizar-se e está a bombar – parece que não se passou nada. As pessoas sentem uma vontade e/ou pressão para voltar e há uma vontade explicita de chamar as pessoas de volta às empresas.
Realmente, analisando a pesquisa de Harvard Business review/‘work trade index 2022’ mais de 50% dos líderes inquiridos diziam “Sabem que mais? Nós queremos voltar para o escritório a tempo inteiro. Queremos-vos de volta para estarmos juntos cinco dias por semana”. O mesmo estudo revela que há uma mudança absoluta na forma como as pessoas encararam o trabalho: 53% dizem que vão priorizar a sua saúde e bem-estar e 47% dizem que a família e vida pessoal está à frente da carreira e trabalho.
É muito bom termos os colegas e as equipas outra vez por perto mas o mundo mudou e é preciso introduzir novos hábitos na forma de trabalharmos e darmos bom argumentos para as pessoas quererem estar no escritório (conferencias, workshops, team building…).
Não alimentem a terminologia “eles” (os que estão à distancia) e “nós” (os que estamos no escritório) pois claramente vão começar a criar sentimentos de injustiça e parcialidade. No fundo é nunca esquecer que estar longe da vista não significa estar longe da operação.
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