Mulheres e homens, lideranças à parte?

  • Paula Cordeiro
  • 6 Março 2024

Antes de comunicar é preciso saber ouvir, ativamente, sem complexos de qualquer espécie. Desculpem-me os homens líderes, que respeito, mas todas estas qualidades são bem características das mulheres.

Na semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, vale a pena falar de liderança. Daquelas lideranças que, sejam de mulheres ou de homens, nos marcam decisivamente e deixam um legado para o futuro, que se perpetuam no tempo, muitas vezes pelo exemplo que conseguem transmitir.

A intenção de escrever sobre este tema surgiu depois de uma conversa animada em forma de debate quase informal a que assisti na semana passada, em que vários líderes, por acaso todos homens, de várias gerações, falaram um pouco sobre o que pensam que virão a ser as lideranças do futuro.

Tocou-me principalmente uma nota que fez tocar as campainhas de quem assistia: “Temos de cuidar das pessoas. Temos de conhecer os problemas das pessoas, perguntar-lhes pelas suas famílias, conhecer as suas vidas e as suas dificuldades. Temos de tratar bem as pessoas”. Parece-me uma coisa natural, quase óbvia, mas sabemos que nem todas as organizações têm esta preocupação. E também sabemos que, quando isso não acontece, as pessoas não se tornam ou não ficam verdadeiras embaixadoras dessas instituições.

As pessoas, mulheres ou homens, não são números, é uma verdade de La Palisse, muitas vezes utilizada na política, com mais ou menos sentido prático, mas que continua a fazer todo o sentido.

E isto não tem nada a ver com a retenção de talento, tem a ver com a oportunidade de conseguirmos fazer a diferença e marcarmos as pessoas, positivamente, pelo lado bom, mesmo quando um dia podem escolher outro rumo, outra equipa, ou mesmo outra empresa. Porque as pessoas são absolutamente centrais para o desenvolvimento das organizações.

Um líder tem de possuir uma visão mais humanista, assumindo uma atitude mais empreendedora e mais sensível às questões sociais e ambientais. Atrevo-me a prever uma nova forma de liderança em que os protagonistas mostrem também as suas vulnerabilidades, sejam capazes de pedir ajuda, quando precisam. Ou seja, podem assumir que não têm de saber de tudo, de dar resposta certa a tudo, preferindo rodear-se de uma equipa que, essa sim, é complementar e multidisciplinar, conseguindo responder às dúvidas e, deste modo, sabe fazer a diferença. As pessoas têm de confiar umas nas outras.

Precisamos todos, empresas e pessoas, de líderes que procuram e privilegiam – para si próprios, mas também para os outros, de quem se rodeiam – as habituais capacidades técnicas, mas também qualidades de gestão e inteligência emocional, empatia e carisma, confiança e autoconfiança, confiança nas pessoas e no futuro.

A resiliência pessoal, assim como a autenticidade, o respeito e a credibilidade, que resulta na fiabilidade e na eficácia da comunicação que transmitem, são outros tantos atributos, que se exigem às lideranças do século XXI, a par de uma obrigatória sensibilidade para os temas do chamado ESG – Environment, Social and Governance – com responsabilidade social corporativa.

Antes de comunicar é preciso saber ouvir, ativamente, sem complexos de qualquer espécie.

Desculpem-me os homens líderes, que respeito e admiro, mas todas estas qualidades são bem características das mulheres de hoje, no seu dia-a-dia, em que acumulam muitas das vezes a liderança tranquila das suas casas, com as funções e as tarefas que exercem nas empresas onde trabalham.

Li, ainda em tempos de pandemia, um artigo particularmente interessante de um consultor e professor de Gestão de Talento e Liderança na Porto Business School e no Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM), André Fontes. O título dizia tudo: “Queres um bom líder? Contrata uma Mãe que adore a sua profissão”.

Também pode ser um Pai.

  • Paula Cordeiro
  • Diretora de comunicação institucional do Santander

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