O intangível que nos leva mais longe
O orgulho de uma nação, emoção da descoberta, a fidelidade nascida da diferença. São os valores que o dinheiro não compra, mas que a escolha certa de um produto a bordo pode multiplicar por infinito.
Entrar a bordo da nossa companhia de bandeira é sempre mais do que apenas voar. É o cheiro familiar do país no ar rarefeito da cabine, a promessa da viagem envolta na certeza das nossas origens. É o pastel de nata, pequeno sol na bandeja, ou um Compal, a infância regressada por instantes. São as âncoras da identidade que nos prendem ao orgulho de uma marca.
Voo na Business, onde o conforto é medido em polegadas e o serviço em estrelas. No entanto, é aqui que a paisagem da alma se torna turva. Onde antes repousava a excelência da terra, o queijo Monte da Vinha da Joana, premiado no mundo inteiro, hoje reside um queijo francês, justificado pelo sussurro frio dos números e das negociações.
Expor esta questão publicamente, ainda que num post de LinkedIn, despertou os guardiões da rentabilidade, os homens e mulheres que brandem folhas de cálculo como espadas. Eles gritam a urgência dos custos, o imperativo de um modelo de gestão que se esgota a cada dia. Dizem-nos que o lucro é a bússola, que o mercado não tem pátria nem coração.
Há muito que, na minha experiência de construção de marcas, seja como marketeer, publicitária ou professora, defendo que nem tudo o que pode ser medido, conta, nem tudo o que conta, pode ser medido. Não deixo por isso de tomar decisões com base em números. Não são é a única forma de decisão. Por acreditar que, como profissionais, empresas e sociedade, estamos reféns de modelos que já provaram estar esgotados, decidi este ano rumar à Austrália para fazer um MBA distinto, um MBE– Master of Business Empathy, cuja proposta é precisamente esta: repensar o mundo, os negócios e a forma como sempre pensámos, na busca de novos modelos, “business for the next economy“, prometem eles.
Quase no fim desta formação, reafirmo uma convicção que já era antiga.
A alma de uma companhia aérea de bandeira como a TAP não se cinge ao balanço. Os nossos queijos, o Nisa, o São Jorge, ou o Monte da Vinha, são mais do que calorias ou uma boa experiência de paladar; são a narrativa de Portugal a levantar voo. Eles, entre outros, são o intangível que certos gestores se esquecem de somar, mas que o passageiro sente no peito.
O orgulho de uma nação, a emoção da descoberta, a fidelidade nascida da diferença. Estes são os valores que o dinheiro não compra, mas que a escolha certa de um produto a bordo pode multiplicar por infinito. É tempo de deixarmos de ser reféns de modelos exaustos. É tempo de ganhar coragem e de valorizar o que não cabe nos gráficos. É tempo de a TAP, que até teve resultados positivos nos últimos 3 anos, não perder o voar com o sabor integral da sua bandeira.
Que o próximo voo leve o sabor da nossa terra por inteiro. Eu como cliente e sendo a TAP, uma das minhas marcas, gostaria. Que o intangível nos traga a mais bela das rentabilidades: a do coração português a pulsar no mundo.
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