O último festival de criatividade
Pela primeira vez na história da publicidade vamos estar em igualdade de circunstâncias com as agências mais poderosas e que têm mais recursos. Tudo é novo e tudo está igualmente disponível.
– E agora… na categoria Melhor uso de Prompts* em Filme publicitário, o prémio vai para…
– Hy#34)91hK@!!!!!
– Parabéns! Podes vir ao palco ou agradecer por teams se estiveres em remoto…
Já estamos em plena época de festivais de criatividade e as agências (a Nossa também) preparam as suas melhores ideias para mostrar ao mundo. Estamos a vesti-las com os melhores roupas, deitá-las no solário para ficarem com melhores cores, levá-las ao ginásio para ficarem mais fortes, mas este pode muito bem ser o último ano dos festivais de criatividade como os entendemos.
No próximo ano vamos ter ideias (se podemos chamar-lhes assim), criadas artificialmente a competir com ideias pensadas apenas por neurónios.
Pela primeira vez o ser humano criou algo mais poderoso do que nós próprios e isso pode tornar-se uma ameaça real à vida como a imaginamos. A criatividade parecia um feudo humano intocável, mas muito mais rapidamente do que julgávamos possível, vamos estar a competir (e a perder) com a inteligência artificial.
Em 2029 é previsível que a IA consiga superar o Teste de Turing e as diferenças sociais e éticas entre humanos e máquinas se esbatam ainda mais. Apesar de tudo, sou dos românticos que acredita que a IA nunca terá a capacidade de se emocionar e de se relacionar com as pessoas. A compreensão empática dos outros faz parte da genética e não da robótica. Enquanto a IA não conseguir chorar apenas porque sente a tristeza no rosto de alguém, as nossas lágrimas vão manter-nos úteis.
Mas chega de choradeira. O futuro das agências criativas continua risonho. Principalmente das agências portuguesas.
Pela primeira vez na história da publicidade vamos estar em igualdade de circunstâncias com as agências mais poderosas e que têm mais recursos. Tudo é novo e tudo está igualmente disponível para os mais ousados. Para os mais criativos.
É certo que muitas tarefas deixarão de ser efectuadas por pessoas (onde é que já vimos isto?), mas os dados factuais e as conclusões lógicas não vivem no mundo real.
Para o bem e para o mal, a criatividade humana é capaz de surpreender até o mais chato dos ChatGPTês. No entanto, é com um misto de entusiasmo e receio que assistimos ao desenvolvimento da inteligência artificial.
Estes saltos quânticos aconteciam uma vez por século ou mesmo por milénio, e nós temos o privilégio de já ter vivido vários destes saltos para o desconhecido. A evolução tecnológica é tão rápida que até a inteligência artificial já se deve sentir desactualizada (isto se fosse capaz de sentir).
Na agência que lidero criativamente, com mais de sessenta pessoas, curiosamente são os mais velhos que estão a incorporar mais rapidamente a nova tecnologia. Novos métodos de pesquisa, novas formas de ignição de pensamento, novos insights, provocam um rejuvenescimento mental e aproximam as idades.
Tudo é novo, quer sejas mais velho ou mais novo. E este pode ser mais um ponto a favor desta disrupção. Um realinhamento geracional.
Quem tiver mais capacidade para escrever melhores prompts, para interpretar melhor o que brota instantaneamente no nosso ecrã, conseguirá produzir melhores ideias e contar melhor novas histórias. Qualquer que seja a idade ou a tecnologia. Porque no final são as histórias que nos ligam às pessoas. Que nos ligam às marcas. E a criatividade humana vai sempre garantir que também esta história tenha um final feliz, quando atingirmos a tão desejada imortalidade.
Este texto foi escrito na antiga ortografia e com um cérebro antigo que pensa sozinho.
* Tópicos dados pelo utilizador que orientam a inteligência artificial
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